faleceram vasco gonçalves, álvaro cunhal e eugénio de andrade. paz à sua alma.

Publicado por Manuel 10:16:00  

2 Comments:

  1. formiga bargante said...
    TABERNA
    1965

    I

    Vi hoje o velho.
    Comia sopa, e lia o jornal.
    Por aonde, que caminhos terá ele percorrido ?

    Tinha saudades dele.
    É uma presença, activa, da desgraça
    que me é útil ter presente.
    Para que me não esqueça, nunca, dos que sofrem.
    21-IX-65

    II

    É bom que o velho tenha voltado.
    Morava algures, numa casinha.
    Uma casinha suja, por esmola.
    Roubaram-lhe - várias vezes - as ferramentas.
    Era pintor de profissão.
    Se bem que, sua profissão verdadeira
    era ter aprendido
    a deixar de chorar.
    Agora, suas últimas vontades
    eram dividir com os outros
    um pouco do amargo (que banalidade ...)
    pão da existência.
    Porque, o que não é banal, embora o seja,
    é ser bom e ter a toda a hora
    uma espingarda apontada.
    O velho sabe disso. Foi por isso, talvez,
    que mudou de casa.
    Nada lhe servem, porém, seus medrosos cuidados.
    Eu sei que em qualquer parte
    desta cidade enorme que o espera
    hão-de cuspir-lhe - vómitos - na cara
    hão-de despilo - seco - em carne viva
    hão-de prendê-lo ou enxotá-lo
    como se enxota uma mosca:
    Zumbindo, a mosca foge,
    e o incómodo, burguês, desaparece.
    Certo é - não me iludo! - que os mesmos proletários
    se sentem picados, vexados, aterrorizados com as
    moscas.
    Por isso a miséria é geral.
    Por isso - eu sei - o velho muda
    todos os meses da casinha ignota.
    Por isso o escarnecem, subtilmente impunes.
    È por isso que o velho cheira mal.
    Eu sei, e calo-me.
    Tenho pressentimento
    de que o velho - um dia! -
    há-de aparecer transformado
    num jovem anjo vingador.
    Porém não acredito que isso seja
    feito com balas ou pressentimentos.
    Será obra - acredito - dum esforço comum
    que tem o seu impulso
    mesmo no centro do coração do mundo:
    no ponto, exacto,
    onde o coração do homem
    pulsa solitário e livre.
    Ao velho eu anuncio
    sua ressurreição
    numa manhã de chuva,
    - Quer um copo de vinho?
    21-IX-65

    RAUL DE CARVALHO
    Anónimo said...
    Morreu Álvaro Gonçalves Andrade.

    Junho, mês fértil.

    D.

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