ainda Cunhal...

Finado o Dr. Cunhal pairam por aí as mais curiosas teses, parece que os portugueses o respeitam, o admiram, e se curvam perante a sua memória e a sua coerência. Infelizmente os portugueses, pelo menos aquela minoria que de vez em quando ainda pensa, ainda não perceberam o básico. O dr. Cunhal morreu celebrado como uma estrela pop, como um velhinho simpático que apesar de ter defendido umas ideias eventualmente estranhas e perigosas até tinha piada, porque as defendeu até morrer, o dr. Cunhal era visto da mesma forma, rigorosamente da mesma forma, que certa esquerda via o falecido Papa João Paulo II - simpático e com piada, nada mais. Mas morto a coisa mudou. Subitamente de icône pop Cunhal foi promovido a herói, talvez até o merecesse mas, foi-o por todas as razões erradas. Num mundo onde tudo é relativo, onde tudo é volátil, onde a coerência é, tal como a traição, uma mera questão de datas, quer-se vêr em Cunhal um referencial de estabilidade, um exemplo até, esquecendo-se ou relativizando-se a substâancia daquilo que (coerentemente) se defendeu, admira-se Cunhal porque este seguiu o seu rumo, imune à história, e aos factos, até ao fim. Será legítimo admirá-lo também por isso mas talvez conviesse pensar se não é afinal essa mesma, pragmática e resignada, linha de raciocínio que leva alguma plebe a atravessar-se uma e outra vez por heróis como João Jardim, Valentim Loureiro, Isaltino Morais ou Fátima Felgueiras, afinal também eles se dizem coerentes, também eles se julgam fadados de uma missão, também eles se julgam imunes aos factos, às leis e ao sistema e até vitimas das história.

O problema é que quando já não se acredita em nada e em quase ninguém se acaba a canonizar todo e qualquer um que acredite - firmemente - em alguma coisa e esteja disposto a tudo ou quase para o conseguir.

É um péssimo sinal, e acreditem que Cunhal, o tal que traduziu magistralmente o Rei Lear, não quereria, nem ele, um país eum mundo assim. Uma coisa é o fascínio e o respeito, outra, bem diferente, e a adulação, o branqueamento e a graxa...

Publicado por Manuel 14:58:00  

5 Comments:

  1. Olindo Iglesias said...
    Mas essa agora??? Quem e' que anda por ai a espalhar boatos de rua que os portugueses admiram, respeitam e se curvam perante esse fulano!

    Claro que ha' alguns que o fazem, mas sao alguns, nao sao os Portugueses. Enfim... presuncao e agua benta cada um toma a que quer. Como esses comunas sao ateus suponho que ficam pela presuncao!
    Anónimo said...
    Nem faz muito sentido dar graxa a defuntos, pois não?
    Olindo Iglesias said...
    A graxa nao e' para os defuntos!
    Anónimo said...
    Cinhal foi um lider... hoje uma lenda... teve um sentido de doação que a maioia não tem, se usou para proveito próprio.. é discutivel, mas que lutou pelos mais necessitados, pela classe trabalhadora é um facto, ninguém o pode negar... se os ideais da politica agricula de cunhal persistissem... possivelmente hoje os agricultores e grandes proprietários não estariam todos á procura de subsidios... e o algarve não teria sofrido a tanga da transformação que teve... até amanha camaradas... suspeito... suspeito também que a luta não continua... devido a opositores de direita e meninos mimados... que foram contra a reforma agrária... que foram exploradores e que hoje continuam a explorar... mas o estado.
    Anónimo said...
    Magistralmente?

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