Relances de um campeonato de loucos

Apesar de repetidas escorregadelas, o Benfica conseguiu mesmo terminar com um jejum de mais de uma década e sagrou-se ontem campeão nacional de futebol, da época de 2004/2005.

Foi um campeonato a todos os títulos atípico: as surpresas foram constantes, as desilusões muitas e os primeiros beneficiários dessa estranha realidade foram as equipas de dimensão média/alta.

O Braga chegou a sonhar, legitimamente, com o título, mas acusou a pressão quando todos começaram olhá-lo como candidato em pé de igualdade com os grandes. Terá que contentar-se com um quarto que, numa situação normal, seria excelente, mas que em função das possibilidades que chegou a ter, acaba por saber a muito pouco.

Aqui vão algumas ideias-chave para perceber este campeonato de loucos:

  • 1. O Benfica foi campeão porque aguentou a enorme expectativa que se começou a criar a partir do momento em que, a apenas 21 pontos do fim, tinha uma vantagem de seis em relação ao segundo. Teve dois momentos de crise, as derrotas em Vila do Conde e em Penafiel, mas conseguiu reagir nas situações imediatas. Em alguns casos, como naquele empate arrancado no último minuto com o Leiria, o coração e a alma foram tão grandes que deram para disfarçar deficiências evidentes. Foi, por isso, um campeão justo, mas esteve longe de ser um campeão brilhante. Limitou-se a ser um campeão esforçado. Trapattoni usou a sua vasta experiência para ser o campeão do pragmatismo e do q.b.

  • 2. O FC Porto cumpriu a época mais estranha desde que Pinto da Costa é presidente. Erros sucessivos de gestão mostraram que o Porto é mais forte nas dificuldades. Quando tem muito dinheiro, como foi o caso, desbaratou-o, sem conseguir trazer mais-valias para o plantel. Pessoalmente, estou convencido que se Victor Fernandez não tivesse sido despedido a meio da época, o Porto acabaria por se sagrar campeão sem grandes dificuldades. Tinha, de longe, o melhor plantel, mas houve vários jogadores em sub-rendimento (Maniche, Costinha, Fabiano, mesmo Diego a espaços), e a política de contratações de Inverno foi simplesmente desastrosa.

  • 3. O Sporting é um caso ainda mais inexplicável. Se o FC Porto tinha o melhor plantel, o Sporting praticou o melhor futebol. Do meio-campo para a frente, gozava de uma enorme vantagem em relação aso principais rivais. Tinha o melhor marcador, Liedson, que marcou muito mais golos que os melhores goleadores de Porto e Benfica. No meio-campo, surgiu uma enorme promessa, João Moutinho. Pedro Barbosa, Rochemback, Carlos Martins, Custódio, entre outros, completavam um sector intermédio de fazer inveja a qualquer um. O Sporting foi brilhante no Bessa, com o Newcastle, em Middlesbrough e noutras alturas, mas, inexplicavelmente, oscilou grandes exibições com derrotas absurdas. Foi assim até ontem, com aquele desastre de 2-4 em casa com o Nacional (uma vitória dava-lhe o segundo lugar, como é possível??). Por tudo isto, é forçoso concluir que José Peseiro tem grande parte da culpa do insucesso. Não soube gerir uma equipa de enormes potencialidades e exalou nervosismo nos momentos de maior tensão. Dificilmente terá espaço para voltar a falhar mais vezes em Alvalade.

  • 4. Simão, Manuel Fernandes, Petit e Nuno Gomes foram as pedras mais influentes do Benfica. Miguel só não entra neste lote porque quebrou fisicamente durante muito tempo. A estabilização da dupla de centrais Luisão/Ricardo Rocha foi, também, decisiva, para se sonhar com o título.

  • 5. Vítor Baía é a figura que elejo da época do FC Porto: nos momentos de maior risco, lá estava ele para salvar o pior.

  • 6. As falhas de Ricardo e a aparição fulgurante de João Moutinho são as notas negativa e positiva no Sporting. Rochemback fez uma grande época.

  • 7. Aqui vai a equipa-ideal da SuperLiga na opinião da Grande Loja: Vítor Baía (FC Porto); Abel (Sp. Braga), Luisão (Benfica), Nunes (Sp. Braga) e Jorge Luiz (Sp. Braga); João Moutinho (Sporting), Manuel Fernandes (Benfica), Rochemback (Sporting) e Diego (FC Porto); Liedson (Sporting) e Nuno Gomes (Benfica)

    As segundas escolhas, num mesmo sistema de 4x4x2 seriam: Quim (Benfica); Miguel (Benfica), Ricardo Rocha (Benfica), Jorge Costa (FC Porto) e Leandro (FC Porto); Simão (Benfica), Petit (Benfica), Custódio (Sporting) e Ibson (FC Porto); Douala (Sporting) e Wender (Sp. Braga)
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Publicado por André 19:09:00  

2 Comments:

  1. Fernando Martins said...
    Já agora, após o trabalho feito (o jejum terminou...) deveria também fazer ou incluir na lista os árbitros (sem estes a lista seria obrigatoriamente muito diferente). Nunca vi tantos erros em tão pouco tempo...
    Anónimo said...
    o regresso de Mantorrras serviu também para galvanizar a equipa na ponta final do campeonato.

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