De rabo na boca

A questão "Campos e Cunha pode sair" merece maior atenção e menos ironia. De certa maneira, Vasco Pulido Valente, nos seus artigos no Público de ontem e de hoje ("Uma questão política" e "Sete luminárias", sem links disponíveis), explica o essencial. Em 1983, quando ainda não pertencíamos à então Comunidade Europeia, Mário Soares e Mota Pinto formaram um governo, dito de "bloco central", para "salvar" a economia e as finanças públicas. Soares disse ao seu ministro das Finanças, Ernâni Lopes, para fazer o que era preciso fazer, doesse a quem doesse, que ele, Soares, "cobria" politicamente tudo. Assim aconteceu. E nas eleições de 1985, o PS perdeu mais de 20 por cento do seu eleitorado e Mário Soares começou as presidenciais de rastos. Já não estamos em 1983, não nos espreita o FMI (agora chama-se Comissão Europeia), mas a situação tem demasiadas semelhanças. Ali como hoje, trata-se de uma questão de governabilidade do país, ou seja, de uma questão política. Exibir bons académicos, excelentes contabilistas e luminosos "técnicos" não chega. Não só não chega como não resolve praticamente problema nenhum. O ministro das Finanças, num quadro como o nosso actual, tem de ser porventura o mais político dos ministros, logo seguir ao primeiro-ministro. Cavaco Silva chegou lá rapidamente, ainda com Sá Carneiro. O poder "absoluto" que exigiu e obteve posteriormente, mostra que até ele, o supremo "tecnocrata", intuiu que tudo passava pela "política". Por isso, a aparente força da independência "política" de Campos e Cunha, acaba por ser sua maior fraqueza. Manuel Pinho - já se percebeu - não conta. E José Sócrates, por mais que se esprema, não é Mário Soares. Estamos, pois, de novo, com a "pescadinha de rabo na boca".
.

Publicado por João Gonçalves 18:10:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    O PInho não presta, O Das Finanças
    não tem força e o Socrates è um histerico frouxo!
    Portanto coloquem a bandeira de leilão e o Sampaio, que se aguente!
    Não era dificil que isto vai acbar
    mal, ou surge do PS, um primeiro ministro, que tenha unhas , indicado ao Sampaio e este nomeia-o
    e a partir daqui isto tome algum
    jeito!
    josé said...
    Inflizmente, parece que a receita de 85 desta vez não vai pegar, pela razão que Pulido Valente hoje aponta na sua crónica, excelente, para não variar, pois expõe sinteticamente o cancro que nos mina há mais de vinte anos:

    As sete luminárias que agora receitam mezinhas, já lá estiveram quase todas e não tiveram peso político suficiente para mudar o que deveria ser mudado.
    Aliás, uma dessas luminárias( sem ofensa que afinal não comporta, sendo termo retórico)- Medina Carreira- já lá esteve há muitos anos e há mais ainda que é crítico dos governos que têm indivíduos competentes tecnicamente e incapazes de impor a política que se impõe...

    Então, agora o problema vai desenhando um contorno perigoso e que é o do desejo latente da maior parte das pessoas em que apareça alguém que "tenha mão nisto"!
    Não custa muito a imaginar que se aparece alguém com alguma credibilidade, seriedade e competência, juntando a fome à vontade de comer, limpa "isto" num instantinho.
    Basta que seja sério como o Cavaco; político como o Soares, (o que já comporta contradição nos termos...); e capaz como um Sá Carneiro e temos o caudilho à vista!
    Ainda bem que estamos na Europa e os partidos estão corrompidos por uma clientela que não deixa ninguém aparecer e apresentar semelhante perfil.
    Mas talvez não seja inútil perceber que há necessidade de "law and order" nisto tudo. E não é com Marques Mendes que lá vamos; nem com Sócrates, aliás.
    É com mudanças de alto a baixo nas equipas que desde há dezenas de anos mandam; põe e dispõe e se revezam na "gamela".
    Isto é só um desabafo...

Post a Comment