A lucidez de Maltez

No blog Sobre o tempo que passa, José Adelino Maltez, comenta um postal desta Loja sobre "o seu amigo" José Miguel Júdice.

E diz o que deve ser dito, sem arrasar a amizade ou lealdade e que pelas leituras que de lá faço, sei que são valores que preza...


depois de verificar como as "auditorias jurídicas" existentes nos vários ministérios foram ultrapassadas pelo recurso à consultadoria deste oligopólio, também bastante influente a nível da partidocracia e do mundo dos grandes negócios, julgo que o Estado, para salvaguardar a excelência destes centros de decisão nacional, deveria dar um passo ainda mais ousado, concessionando todos os serviços da Procuradoria-Geral da República a estas entidades, ao mesmo tempo que as principais faculdades de direito também poderiam passar para a gestão de tais entidades.


De facto, o Conselho Consultivo da Procuradoria da República tem andado muito apagado como órgão de Supervisão do Estado.

Pode ser por várias razões. Uma delas será certamente pelo frenesin neo-liberal de que fala José Adelino Maltez e que denota uma passagem para valores novos: a eficiência ligada à iniciativa privada, em detrimento da tradição sólida do serviço público estatal.

Outra, porém, mais tenebrosa e plausível, pode apontar-se e vai mesmo em inglês que é para se entender o contexto: GREED!

Talvez por este fenómeno valha a pena ler e reflectir sobre o livro de José Adelino Maltez
, publicado na semana passada: Tradição e Revolução, 2º Vol.

Embora ainda não lhe tenha posto a vista em cima (as livrarias de província são o que são...) os anúncios e encómios não enganam - é livro a ler e meditar! Porém, tirando um artigo no Expresso assinado por Francisco José Viegas e uma ou outra referência, nenhuma outra publicação se lhe referiu e principalmente, aos problemas que aparentemente aí se levantam, e que parecem não interessar à inteligentsia pátria.

A tradição parece contar quase nada e no entanto, citando um poema de Pablo Milanez, cantado de modo soberbo por Milton Nascimento em Clube da Esquina nº 2:

E quem garante que a História
É carroça abandonada
Numa beira de estrada
Ou numa estação inglória

A História é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue

É um trem riscando trilhos
Abrindo novos espaços
Acenando muitos braços
Balançando nossos filhos

E para terminar, outra estrofe da mesma canção dos anos setenta e que aqui se aplica com toda a propriedade...

Lo que brilla com luz propia
Nadie lo puede apagar
Su brillo puede alcanzar
La oscuridad de otras costas
.

Publicado por josé 10:58:00  

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