Esta Gente

Neste tempo sombrio, de ausência de referências e um manto de apatia e cinismo, é urgente recordar Sophia. Que falta ela nos faz...

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova

E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
De um tempo justo»

«Esta Gente», Sophia de Mello Breyner Andresen in «Geografia», 1967
.

Publicado por André 01:23:00  

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