choque tecnológico - à atenção do Dr. Mariano Gago e não só.
segunda-feira, março 21, 2005
Por cá somos um país prá frentex, sempre fomos. Um professor de matemática não precisa de saber a tabuada, e muitos não a sabem de facto, basta-lhe ter muita "aptidão pedagógica" (mesmo que esta de nada sirva se não souber o que ensinar), a concursos de TV até vão professoras de química confessar que não sabem o que é um ângulo recto, etc, etc, etc. Gosta-se de comprar tudo feito, o quilo é igual ao litro, e Deus, felizmente, inventou a máquina de calcular.
Agora há um novo remédio para todos os males, inclusive o da falta de competitividade, o computador, e por via deste, a net, nomeadamente o Google, se lá vem deve ser verdade e ai do catraio que não tiver um PC para aceder a este...
São estas as verdades fáceis. A realidade porém não é tão simples. Um computador, como qualquer outro instrumento, é um meio, uma forma de acesso. Só e apenas um meio. Ter um computador não torna ninguém automaticamente mais esperto, não ensina a pensar, não agiliza a mente. De nada serve ter acesso à informação se não se souber triar, ponderar, processar e tratar esta. E para pensar, e antes de se saber inglês, é fundamental ser bom a duas coisas - na lingua materna - o português e a matemática. E não o somos, nem temos bons professores, nomeadamente no básico e no secundário.
A prosa que abaixo se transcreve saiu hoje no Daily Telegraph... Devia ser absolutamente óbvia, não é. A demagogia, como o prozac, é mais fácil de vender e engolir.
The less pupils use computers at school and at home, the better they do in international tests of literacy and maths, the largest study of its kind says today.
The findings raise questions over the Government's decision, announced by Gordon Brown in the Budget last week, to spend another £1.5 billion on school computers, in addition to the £2.5 billion it has already spent.
Mr Brown said: "The teaching and educational revolution is no longer blackboards and chalk, it is computers and electronic whiteboards."
However, the study, published by the Royal Economic Society, said: "Despite numerous claims by politicians and software vendors to the contrary, the evidence so far suggests that computer use in schools does not seem to contribute substantially to students' learning of basic skills such as maths or reading."
Indeed, the more pupils used computers, the worse they performed, said Thomas Fuchs and Ludger Wossmann of Munich University.
Their report also noted that being able to use a computer at work - one of the justifications for devoting so much teaching time to ICT (information and communications technology) - had no greater impact on employability or wage levels than being able to use a telephone or a pencil.
The researchers analysed the achievements and home backgrounds of 100,000 15-year-olds in 31 countries taking part in the Pisa (Programme for International Student Assessment) study in 2000 for the Organisation for Economic Co-operation and Development.
Pisa, to the British and many other governments' satisfaction, claimed that the more pupils used computers the better they did. It even suggested those with more than one computer at home were a year ahead of those who had none.
The study found this conclusion "highly misleading" because computer availability at home is linked to other family-background characteristics, in the same way computer availability at school is strongly linked to availability of other resources.
Once those influences were eliminated, the relationship between use of computers and performance in maths and literacy tests was reduced to zero, showing how "careless interpretations can lead to patently false conclusions".
The more access pupils had to computers at home, the lower they scored in tests, partly because they diverted attention from homework.
Pupils tended to do worse in schools generously equipped with computers, apparently because computerised instruction replaced more effective forms of teaching.
The Government says computers are the key to "personalised learning" and computers should be "embedded" in the teaching of every subject.
Ruth Kelly, the Education Secretary, has said: "We must move the thinking about ICT from being an add-on to being an integral part of the way we teach and learn."
Publicado por Manuel 17:35:00
não faltam exemplos interessantes:
http://www.squeakland.org/whatis/whatishome.html
Estas posições extremistas baseiam-se por um lado em estudos cuja cientificidade é algo questionável, por outro lado na ilusão alimentada nalgumas mentes pouco brilhantes que vendem à opinião pública a ideia de que as crianças colocadas frente ao écran dum computador absorvem milagrosamente o saber debitado pelo computador.
O que estes estudos demonstram não é tanto a falência do computador enquanto ferramenta de trabalho intelectual, mas sobretudo as limitações do modelo pedagógico tradicional "drill and practice".
Carlos José