"O day after"
quinta-feira, janeiro 13, 2005
No PSD, é cada vez mais intenso o cheiro a estrugido de quem anda a cozinhar as tácticas para o "day after" eleitoral. Pode constar insistentemente nos bastidores sociais-democratas que Morais Sarmento se prepara para voltar à advocacia após a derrota anunciada nas próximas legislativas, mas o episódio da viagem a São Tomé e Príncipe (e sobretudo a inusitada declaração à imprensa em horário "late night") acaba de revelar o mais que previsível candidato do "barrosismo" à sucessão de Pedro Santana Lopes. Até porque, como disse o próprio, o ministro da Presidência ainda não desistiu de acreditar que "existe outra forma de fazer política".
A espreitar o descalabro e a subsequente incapacidade do primeiro-ministro cessante para resistir à convocação de um congresso extraordinário, que há-de escolher um novo líder, haverá já hoje muito mais gente, e alguma dela em lugares de destaque nas inenarráveis listas propostas ao eleitorado. Só isso pode explicar, por exemplo, que Luís Filipe Menezes se tenha resignado (e salvaguardado...) a ser o cabeça de cartaz no círculo de Braga, quando estava escrito nas estrelas que deveria ter sido ele, e não a segunda escolha Pôncio Monteiro, a ter motivado a lamentável confusão político-futebolístico-portista no segundo mais importante círculo eleitoral do país. E sobra sempre Marques Mendes, que teve o cuidado de marcar as devidas distâncias no congresso de Barcelos e tão cedo não voltará a ter outra oportunidade dourada para deixar de ser o eterno homem-sombra de um aparelho político-partidário que conhece e domina como poucos.
No meio de tudo isto, subsiste um mistério aparentemente impenetrável no actual panorama da vida pública portuguesa e do PPD-PSD-PSL em particular: por que é que Rui Rio, auto-intitulado arauto da luta contra a promiscuidade entre a política e o futebol e alegado inimigo prioritário do populismo e da demagogia fértil, aceitou transformar-se (e aí se mantém de pedra e cal) em caução política do antigo presidente do Sporting enquanto seu primeiro vice-presidente na direcção do partido? Ou, para glosar uma expressão de Pacheco Pereira, seu companheiro ideológico de longa data, por que é que Rui Rio ainda não percebeu - ou não quis perceber, como me parece ser o caso - "o tipo de gente" com que anda metido?
Ao melhor estilo do "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço", Rui Rio voltou a aproveitar a sua mais recente sessão solene - mediática e minuciosamente encenada, aliás - para dizer que "têm razão as vozes que criticam a forma como se tem vindo a fazer política em Portugal" e que "cada vez mais é a preocupação com a imagem que comanda o nosso quotidiano".
Disse ainda o autarca Rui Rio - que antes de caucionar Santana Lopes já havia caucionado, e por duas vezes, o homem forte do futebol português e do "populismo electrodoméstico" Valentim Loureiro como presidente do Metro do Porto e da junta metropolitana portuense - não ter sido escolhido para gestor de imagem. Talvez por isso tenha contratado a peso de ouro um antigo director de jornal e ex-quadro do grupo Lusomundo para cuidar disso por ele, embora se mostre agastado (em evidente sintonia com Santana Lopes, presume-se) com esta nossa política portuguesa "que tanto e tão mal se deixa condicionar pela agenda mediática".
Numa coisa, pelo menos, Rui Rio tem toda a razão: a culpa é um pouco de todos nós, embora com lugar de destaque para os políticos "que desprezam a coerência e que, muitas vezes, não têm sequer formação para os lugares que ocupam".
Luis Costa, Público
Publicado por Manuel 09:39:00
0 Comments:
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)