imperdoável
segunda-feira, janeiro 24, 2005
Confesso que não falei até hoje no debate entre os Drs Portas e Louçã por duas ordens de razões - pudor e falta de habilidade. Agora, já não vale a pena estar calado, o mal já está todo feito. Com efeito, para mim, foi óbvio desde o primeiro momento a intenção soez do Dr. Louçã ao atirar à cara do Líder do CDS/PP que ele não poderia falar do aborto porque não sabia o que é ter um filho. Não me interessa agora saber se foi uma canalhice pensada ou improvisada na hora, o mal está feito e a campanha provavelmente entornada de vez. Queira-se ou não, aquelas palavras tiveram um efeito, e tiveram-no porque foram ditas, especificamente, ao Dr. Portas, ninguém está a imaginar alguém a proferi-las ao Dr. Mota Amaral, por exemplo. Ora, já aqui se tinha antecipado que esta seria provavelmente a campanha mais suja de sempre mas, e isto não deixa de se ser sintomático, nunca ninguém pensou que o tiro de partida formal viesse a ser dado pelo Bloco de Esquerda... Sejamos claros, há franjas, nomeadamente no PSD, que pensam que a introdução no mainstream da campanha de determinadas temáticas, invariavelmente relacionadas com a vida privada, benefeciará indirectamente Santana Lopes pois haverá uma parte tangivel do eleitorado que não se reverá num Primeiro-Ministro com determinadas (alegadas) características da sua vida pessoal. Até à semana passada as tentativas de introduzir o tema reduziram-se a bocas plantadas na imprensa brasileira, a capas de pasquins de terceira linha como o Diabo e o O Crime e a uma peça hiperbólica na Visão sobre boatos. Agora, é ler a pena de Ana Sá Lopes no Público de ontem, ou no causa nossa um jacobino chamado Vicente Jorge Silva, já se discute abertamente a, alegada, vida privada do Dr. Portas. Do Dr. Portas ao Eng. Sócrates será provável e infelizmente apenas mais um passo. Algures na entourage do Dr. Lopes já há gente a sorrir. Por cá pode ser também assim que se dinamitam maiorias absolutas. Imperdoável. Cairam todos como patinhos (há excepções - note-se a forma hábil como Graça Franco hoje, no Público, fala sobre o assunto, não caindo no óbvio)...
Publicado por Manuel 15:30:00
A questão que eu levanto, porque o comentário não foi assim tão óbvio, em primeiro lugar, e, em segundo, porque o assunto não aproveita a nenhum partido e, ao contrário do que diz, a nenhum lider, é se não haverá aqui algum desejo subterrâneo em explorar um tema, que até nem é novo em campanha eleitoral, até à exaustão, para haver o pretexto para se puxar da lista de quem é o quê na sociedade portuguesa e a pôr a render na comunicação social.
I Violino.