Demagogia demográfica
sexta-feira, janeiro 21, 2005
No Público de hoje, temos um retrato do país que também ainda somos...
Vinhais, distrito de Bragança, tem quase dois pensionistas por cada pessoa que trabalha. Em Penedono, nordeste de Viseu, o valor médio das pensões de velhice, invalidez e sobrevivência é o mais baixo do país: 163 euros por mês. A taxa de desemprego em Almodôvar, Baixo Alentejo, é de mais de 20 por cento.Qualquer um destes concelhos bate recordes em diferentes indicadores. E faz parte de um dos grupos mais desfavorecidos em matéria de pobreza e exclusão social, onde se incluem 68 concelhos. Vivem um estádio anterior ao da "morte social".
O facto de muitos jovens não terem, ainda assim, abandonado estas zonas pode ser um sinal de esperança. Mas só se forem tomadas medidas. "
Dizem os autores do documento, ainda em fase de finalização, que este território, habitado por 7,8 por cento da população portuguesa, está deprimido, empobrecido e desqualificado.
É um retrato de atraso social e miséria material. Muita miséria e que atinge centenas de milhar de pessoas! Em 7,8 da população portuguesa nota-se, a olho nu, essa miséria despida que nos repele a consciência quando a defrontamos. São pessoas que nasceram, cresceram e envelheceram num ambiente natural muitas vezes de excepcional beleza – o nosso país ainda conserva essa prodigalidade da natureza - e vivem em casebres, com tv e telenovela; vão às tascas mesmo rascas; convivem nos adros e terreiros e aguentam-se numa economia doméstica de algumas centenas de euros por mês, entregues pela Segurança Social a seu tempo e a descontar em estações de correios.
Comem o quê, essas pessoas, nossas iguais em direitos e deveres? Talvez fosse interessante um estudo sobre esses hábitos. A carne e o peixe entram na ementa habitual? Cozinham em casa o quê? Aguentam-se à custa dos animais domésticos? Das galinhas e coelhos? E nas cidades pequenas que não têm quintal? Enfim, esperemos que o estudo futuro de António Barreto ou outros sociólogos, nos elucidem sobre estas minudências do estômago dos carenciados.
Mas nem tudo são más notícias, nesta matéria !
Há um outro Portugal, o do "beautiful people" que nem aparece nas revistas da pinderiquice habitual e que se vendem junto às caixas de hipermercado. É um Portugal sofisticado no gosto e caro nas preferências e que gasta num almoço o equivalente à pensão mensal daqueles desvalidos do interior desertificado.
Ora tome-se nota, para gáudio do nosso espírito e alegria do nosso apetite:
" Já há algum tempo que se aguardava com enorme expectativa o restaurante que «um grupo de milionários» iria abrir no alto do Parque Eduardo VII, que se assumia logo como candidato a estrelas Michelin... Pois bem, o mistério abriu ontem as portas ao curioso público e não há dúvida que é de causar espanto: poucas vezes Lisboa terá visto um projecto de restaurante tão bem delineado e concretizado.Vamos começar a decifrar o código do seu nome, Eleven (onze em inglês). É o número de sócios, será o número da porta, foi o dia que se estreou só para os amigos, no mês de Novembro (11.º do ano). Os responsáveis querem também que os algarismos se identifiquem com as célebres duas colunas que Keil do Amaral projectou e que simbolizam todo o parque.E quem são os «onze»? José Miguel Júdice, José Bento dos Santos, Américo Amorim, o arquitecto João Correia (responsável pelo projecto do edifício, construído de raiz), Stefano Saviotti, Joachim Koerper ( chefe alemão de 51 anos, duas estrelas Michelin no seu restaurante Girasol, em Alicante), o banqueiro João Rendeiro e os empresários Nabil Aouad, José Marques da Silva, Hipólito Pires e Tiago Câmara Pestana.«É bastante exagerado falar de milionários. É antes um grupo de amigos interessados em gastronomia», esclarece Miguel Júdice (filho do actual bastonário da Ordem dos Advogados). «Depois da Quinta das Lágrimas, em Coimbra, tínhamos interesse num projecto de qualidade em Lisboa. Havia este terreno, que a câmara tinha posto a concurso e cuja concessão foi ganha pelo arq. João Correia, e vimos que precisávamos de sócios que nos ajudassem no investimento».
Não se diga que a iniciativa empresarial neste ramo anda em crise. E não se diga também que não há bom gosto neste nível e que somos um país de labregos e com 7,8 da população ao nível da indigência...
O Menu Degustação conta com a apresentação de cinco pratos, cada um a seu tempo, uma selecção de queijos, sortido de sobremesas, doces e telhas. Por 79 euros com um suplemento de 29 euros para vinhos e água. Mas também há o Menu Eleven de três pratos e sobremesa à escolha de entre duas sugestões e ainda o Menu Expresso. Aquela qualidade, mas para os mais apressados...
Outro ingrediente da refeição, é o vinho. A carta está a ser complementada e até ao final do primeiro ano contam chegar aos 300 rótulos de uma selecção cuidada elaborada pelo jovem escansão João Pedro Fonseca. Néctares de todas as regiões vitivinícolas nacionais mas com espaço ainda para sumos de paragens internacionais. Franceses, australianos, californianos...
À mesa, os 11 escolheram tudo do melhor. Não só o que se come, como se viu e se provou, mas também o que contribui para o sucesso de uma expeiência deste tipo. Talheres Hepp, copos Schott Wiesel e loiça Vista Alegre. Afinal, a aposta é também dos sentidos.
E está pronto a servir! Mesmo sem escanção... mas com alguma escansão, reconheço.
Publicado por josé 11:44:00
6 Comments:
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Temo bem que a única resposta negativa seja à primeira pergunta que formulou:o manual não deve estar errado! Porém, a prova dos nove só poderá ser feita com algum estudo sociológico, mesmo empírico.
Elaboremos: Quem são os 11 magníficos?! De onde vieram? Onde foram educados? Que convivências têm? Que valores asseguram pelo exemplo?
Poderíamos começar logo pela compra do terreno, posto á venda pela Câmara...e adquirido por um arquitecto. Perguntar não ofende, mas...quem é João Correia? No Google, os resultados são nulos ou quase. COmo o são para os restantes empresários, à excepção de João Rendeiro, banqueiro. Ia a crescentar, "de ricos", mas não o faço, embora já esteja feito.
O que significa não constar do Google?! Significa que não há registos mediáticos ou documentais de actividades com o nome deles.
Experimente colocar o nome José Bento dos Santos e verá a excepção à regra! A excelência no ofício.
Não gostaria de dizer mal por dizer mal, pois nesse campo há sempre pano para mangas e a maledicência é desporto nacional. Inútil e muitas vezes derivado de uma inveja estúpida e nociva.
Prefiro pensar que somos mesmo um povo nobre de uma nação valente, em que os pindéricos de alma oportunidade, mandam em nós. E digo isto sem inveja, mas com tristeza.
As minhas desculpas ao José e aos parceiros da loja, mas vou fazer do funil um post. A quem pago o copyright?
Se queres a minha opinião (não queiras!) aquilo, do tal "eleven", é altamente suspeito. Tudo gajos, a fixação com o 11 (raio de número), ali no Parque Eduardo VII...
Umas quantas coincidências, não?!...:O)
Pelo sim, pelo não, não conto meter lá as patorras. Tenho mais em que delapidar a fortuna.