anomia
sexta-feira, janeiro 14, 2005
Confesso que li e não liguei especialmente. Um blog referia que o actual director nacional da PSP, magistrado, antes de ser chamado este verão a dirigir aquela policia se tinha reformado antecipadamente com base em motivos de saúde que o incapacitavam de exercer a sua função. Não liguei porque ao de leve o assunto, a reforma, já tinha abordado aquando da sua nomeação para a PJ. Não relevei o dado que terá sido omitido no verão passado - a reforma antecipada deu-se por razões psíquicas. Ao que vale outros relevaram. Não vale a pena glosar com as palavras, o facto é que uma série de gente, uma junta médica ?, terá achado normal (?) aposentar alguém por motivos psíquicos (e não me digam que o stress/depressão derivado da função de magistrado é maior que o de ser responsável máximo pela PSP) sem motivos, de longa duração... Tão normal, que eu nem relevei... Há meses o Venerável Irmão José falava do conceito de anomia. É isto. Às vezes uma pessoa não quer simplesmente acreditar.
Publicado por Manuel 10:49:00
A anomia reinante confunde-se com o "porreirismo". De tal modo que este já se confunde com a característica bem portuguesa ( até o Prof. Martinez em recente artigo no O DIabo o reconheceu) de "desenrascanço".
Os portugueses serão tão capazes como os outros povos, mas ainda mais: estão geneticamente predispostos para resolver o que aparentemente é impossível e contornar todos os paradoxos que fariam desistir o mais teutónico dos europeus.
Se não, viajemos um pouco, a vol d´oiseau e no habitual transporte empírico ( outra característica bem nossa- a imprecisão e a aproximação ao mais ou menos):
O director da PSP era juiz, mas não era bem um juiz em plenitude. Estava afastado das lides há uns anos e por isso, da função só lhe restava o nome- juiz -que nunca descola da pele, sendo uma segunda identidade e que misteriosamente, em Portugal confere automaticamente importância a quem reveste.
Passou esses anos, aliás, em comissão de serviço em organismos de Estado, como se pode ler aqui, em notícias da época ( Julho 2004)logo que foi anunciado o seu nome por...
"...Morais Sarmento destacou do currículo de Branquinho Lobo as funções que desempenhou enquanto secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna no XI Governo Constitucional, com Cavaco Silva como primeiro-ministro, e inspector-geral do Ministério da Segurança Social e Trabalho, como homem de confiança de Bagão Félix, entre outras funções no Ministério da Justiça, como secretário-geral e chefe de gabinete.
Durante a sua passagem pelo Ministério da Administração Interna, com Manuel Pereira como ministro, Branquinho Lobo viveu uma das épocas mais tumultuosas da história da PSP. Foi em 1989 que se desenrolou o episódio que ficou conhecido como "secos e molhados". A 8 de Abril de 1989, na Praça do Comércio, o movimento de representação sindical e laboral na polícia atingia o ponto de ebulição, e polícias opuseram-se a polícias.
Os activistas da PSP, contudo, ganharam a batalha entre "secos e molhados", ou seja, entre polícias e agentes do Corpo de Intervenção, chamados pelo ministro da Administração Interna, para rechaçar os colegas que se manifestavam à porta da tutela em luta pelos seus direitos laborais com mangueiras e jactos de água."
Depois daqueles anos todos, em funções de administração da coisa pública, como esperar que o juiz fosse outra vez...juiz?!
Todavia, ele era mesmo juiz- e até desembargador, tendo sido promovido certamente por mérito no efectivo exercício das funções da carreira!
Logo, como resolver o aparente paradoxo do juiz que era e não era ou já não queria ser, por não poder e padecer de problemas psíquicos?!
À maneira portuguesa!
Uma Junta médica entendeu pericialmente que o juiz que não era bem juiz, mas era na mesma juiz, não tinha condições psíquicas para continuar a ser juiz. E foi reformado por doença psíquica.
E foi logo escolhido para dirigir quem e o quê?! A PSP! Que acabava de perder outro brilhante juiz que se demitiu por causas espúrias.
E o novo juiz, reformado por doença psíquica, tomou posse e botou discurso e dirigiu e dirige a corporação certamente com competência e garbo. E continua a ser juiz- reformado, recebendo como tal e acumulando uma parte do que deveria receber como director geral.
Segundo os jornais, diz agora o mesmo juiz:
"Fiquei a receber da Caixa Geral de Aposentações 4035 euros líquidos. Como director recebo o mínimo: um terço, ou seja, 1577 euros”, explicou, afirmando que o actual vencimento de director, “foi uma condição moral” sua para aceitar o cargo. “Eu até sou maluco por estar a trabalhar na PSP e ganhar um terço do vencimento. quer dizer, com o esforço que faço deveria ganhar a totalidade”, afirmou."
Diz que é maluco...mas malucos somos nós, acho eu, por acharmos isto tudo muito normal.
E a verdade é que é mesmo normal!
COmo o comentário vai longo, escuso de continuar a botar outros exemplos de anomia porreirista que é nossa característica genética. SOmos um país pequeno; muita gente se conhece e a partir de certa altura, deixamos de pensar. Somos uns tipos porreiros e a coisa rola...