Admito que seja maçador e deprimente. É. Quanto menos tempo falta para o dia 20 de Fevereiro maior é o calvário, menor é o debate e maior é a vergonha. Vergonha em ver dois partidos de regime, PS e PSD, incapazes de apresentar propostas concretas e cabais, vergonha em ver dois partidos incapazes de apresentar lideranças credíveis e confiáveis e equipas fortes que as sustentem. Vergonha porque nunca uma campanha andou de facto tão distante daquilo que realmente interessa, isto apesar de nunca provavelmente se ir falar tanto de uma, por todas as razões erradas. Infelizmente a vergonha não vai acabar a 20 de Fevereiro, vai continuar e aumentar, porque a incapacidade gritante, à esquerda e à direita, em discutir Política, note-se a maiúscula, vai continuar. Não é que não haja ideologias, há-as, mas dá muito trabalho fazer os trabalhos de casa. Para alguns as coisas querem-se simples, assépticas, inodoras e incolores, o que interessa são os resultados, omitindo que estes muitas vezes são indissociaveis do processo por que foram alcançados. Substitui-se a política pela técnica, os políticos pelos homens de sucesso, as ideias pela competência, que se passa a medir apenas pelo sucesso, pelos resultados, pelas benchmarks. Em suma, nega-se a política. Não se decide, gere-se. É óbvio que precisamos de gente tecnicamente competente mas convém não esquecer, nestes dias de vendaval, que no fundo, no limite, toda e qualquer decisão técnica é também, sempre, política, porque a Política, outra vez a maiúscula, não se compadece apenas com resultados, trimestrais ou anuais, ou ciclos, a Política é sobretudo acerca de desígnios, de objectivos de longo prazo, de ideias, de grandes projectos. É verdade que o país é actualmente, muito, mal gerido mas daí a termos de nos contentar-mos com uma mera gestão corrente vai muito. É que este discurso delicodoce dos resultados mais não é uma e outra forma de escamotear uma gritante falta de ideias, um avassalador vazio, um vazio gerador de falsos consensos, num país que parece ter horror ao verdadeiro debate, que também é uma das múltiplas formas do bloco central.

[Ler também o Pula Pula Pulga]

Publicado por Manuel 18:34:00  

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