O economista e social-democrata António Borges assumiu hoje estar disponível para renovar o PSD, mas considerou que «infelizmente» não há tempo para discutir um novo candidato do partido às eleições legislativas.

Em entrevista publicada hoje no Diário Económico, o vice-presidente da Goldman Sachs considera que a situação do país é «suficientemente séria» para que ninguém possa dizer que fica de fora. «Nenhum de nós se pode alhear e estaria disposto a participar numa equipa que tivesse como missão renovar o PSD, desde que as pessoas fossem da minha confiança», declarou. O empresário disse ainda que «há a disponibilidade de muita gente para assumir um papel de responsabilidade» e que «isso tem de passar por uma grande renovação do PSD». «E é isso que acontecerá seguramente no PSD nos próximos meses», estimou.

Questionado se o primeiro-ministro, Santana Lopes, deve ser o candidato do PSD às próximas legislativas, António Borges afirmou que «infelizmente parece que essa questão não se põe». «Não haverá tempo para discutir o assunto antes das eleições. Em qualquer caso, vamos precisar de fazer uma profundíssima renovação no PSD», acrescentou o antigo vice-governador do Banco de Portugal. António Borges criticou ainda Santana Lopes por ter falhado a função de coordenar o Governo. «A função do primeiro-ministro é coordenar o Governo, dar-lhe credibilidade, comunicar correctamente uma direcção e uma política económica em particular. E nessa matéria temos as maiores reservas e as maiores razões de queixa, como admitem os ministros que saíram. Isso estava a falhar redondamente», comentou.

O economista manifestou-se ainda contra a aprovação do actual Orçamento de Estado, por considerar que «é muito difícil pedir à Assembleia da República» que o faça «depois de ter sido anunciado que será demitida». Se o orçamento para 2005 não for aprovado, António Borges não prevê grandes impactos na economia portuguesa: «porque este orçamento não se estava a revelar estabilizador, tranquilizador». O empresário manifestou ainda esperança de que Cavaco Silva seja o futuro Presidente da República.

in Expresso Online

Publicado por Manuel 10:20:00  

6 Comments:

  1. josé said...
    Parece-me óbvio, há muito tempo, que António Borges, pelo menos coloca o dedo na ferida aberta: a corrupção do sistema político que se enredou numa endogamia de apaniguados dos partidos. Só ascende a postos de poder, mesmo que seja o de mandar em contínuos de hospital, quem tiver o cartão certo na altura certa ou através do nepotismo e compadrio certos.
    António Borges, aparentemente, deu-se conta do fenómeno gangrenoso há já vários anos- pelo menos desde o tempo das conferências do Nicola! Tem insistido em que um dos maiores problemas do país é o da corrupção que aí está em todo o seu esplendor e á vista de todos no caso Apito Dourado. Basta querer e o regime cai como um castelo de cartas. Basta às autoridades do MP e da PJ quererem investigar e acaba-se com uma série de problemas endémicos de que fala António Borges.
    COntudo, parece-me bem que não querem ou não podem, por falta de meios. Será por atavismo ou indolência ou negligência ou falta de vontade ou ainda por razões que me escapam, mas parece que não querem.
    O Apito Dourado e outros processos pendentes de igual importância, poderiam ser o rastilho para aquilo que António Borges pretende: limpeza geral na política de mãos sujas.
    E isto não me parece que seja escrever com lirismo ou de modo inquisitorial. Parece-me antes a expressão de um realismo que nem sequer está escondido, mas sim á vista de quem quiser ver.
    Como temo que ainda não seja desta, resta-me transcrever um comentário que coloquei no Blasfémias:
    "Santana está para Cavaco, como este para Sá Carneiro: politicamente, correspondem a subprodutos, passe a expressão economicista.
    De Cavaco, é caso para dizer: ri-se o roto, do esfarrapado...

    COmo o poder do Estado ainda é demasiado e psicologicamente pesado, em todos os sectores, o drama continua em actos sucessivos, pois a chamada "sociedade civil" não gera alternativas a esses subprodutos que são chamados a tarefas para as quais não têm arcaboiço, nem nunca tiveram.
    Na Itália, esses "subprodutos" são relativamente indiferentes, porque a pujança económica e a organização social, não passa por eles. Aqui, é o contrário. Basta ligar a televisão ou ouvir a TSF.
    Isto, para mim, é o verdadeiro drama: queremos alguém que não temos, para mudarmos para uma sociedade que eles não quererão.
    Paradoxo à vista!"
    Anónimo said...
    Apito dourado e outros ... de igual ...
    Tenham vergonha!!!
    Anónimo said...
    Borges? Quem é este Borges? Pertence aos Vinhos Borges?
    Não conheço nada dele em política.
    Trabalhar em multinacionais das finaças não é governar um país!
    E porque é que este blog embandeiroe em arco? É o D. Sebastião alaranjado?

    Não me f....

    Um curioso
    josé said...
    Pois vergonha, eu tenho...e vou ser mais explícito quanto a essa vergonha que pelos vistos não aflige outros anónimos:

    -Tenho vergonha de viver em sociedade democrática em que supostamente elegemos alguns para nos representar no governo e na assembleia que nos faz as leis e deparar que ao fim de 30 anos desse regime, os modos de escolha emcalham nos directórios partidários e no poder de influência de alguns notáveis que se alaparam aos esquemas de influência e escolha e ainda não descolaram. O poder para esses, é bom- e por isso não querem mudanças.
    -Tenho vergonha de saber que para conservar esses poderes próprios a pequenos deuses caseiros, traduzido em nomeações para empresas e cargos que são de todos nós e com expressão concreta em ordenados depositados mensalmente em centenas ou até milhares de contos, vale tudo o que é lícito desde que não se descubra: compadrios, nepotismos,hipocrisias, deslealdades pessoais,bajulices e lambe botismo. Tudo qualidades e virtudes, nesse mundo vasto, da distribuição de prebendas e lugares.A competência é um acessório ao cartão de partido e é por isso dispensável. O poder, para esses, é bom- e por isso não querem mudanças.

    - Tenho vergonha de me aperceber de enriquecimentos rápidos e fatais em certos sectores ligados à construção civil e obras públicas e ver determinados funcionários de alto escalão que não tem cabras e vendem cabritos em todas as feiras do país.Para esses, o poder é bom- e por isso não querem mudanças.

    -Tenho vergonha de ver alguns governantes a lidar com a coisa pública como objecto de experiências e sem ligar a custos ou a estragos, ou mesmo a consequências. Para esses, o poder é bom- e por isso não querem mudanças.

    - Tenho finalmente vergonha de viver num país que não arranja uns quantos para varrerem a corja que nos tem governado sempre na mira de se governar a si mesmos e aos correligionários e apaniguados, por muitos que sejam. Não são todos. Mas são demasiados. E para esses o poder é bom- e por isso não quremn mudanças.

    O Apito ou o caso da Mala ou o assunto da Suíça e muitos outros que nem sequer conhecemos, porque se safaram a tempo e estão agora a bom recato, são meros epifenómenos de um fenómeno brutal e mais vasto: a CORRUPÇÂO generalizada no centro do aparelho do poder!
    Alguém me desminta!
    Anónimo said...
    Venerável Irmão José:Tocou em pontos essenciais.Ninguém com um mínimo de decoro e vergonha está disposto a trocar a sua carreira profissional ou a prescindir de vida privada por quatro anos para servir de alvo de chacota do pagode. Porquê? Por que nos conveceram que para cumprirmos uma missão de serviço público, seja numa junta de freguesia, seja num cargo de representação do Estado, precisamos de ser profissionais, isto é, aceitarmos que alguém nos ensine o protocolo duma cartilha a que temos de dar aval incondicional.
    Até parece que para participar na gestão da coisa pública há que ter andado na escola dos senadores.
    Até parece que a governação é exclusiva dos ministros, quando a gestão da coisa pública está repartida por inúmeros cargos, uns de soberania, outros de supervisão e controlo, outros de regulação, outros de planeamento, onde acessorias e consultorias técnicas se encarregam de fazer os trabalhos de casa, que permitirão aos decisores, aos mais diferentes níveis, tomar as decisões correspondentes aos diferentes níveis de responsabilidade - técnica e política, se for o caso.
    Portanto o segredo não está no topo, mas na estrutura e no processo.
    Onde é que entra a corrupção? Entra na contaminação das atribuições e na falha do carácter dos humanos que as executam.
    A.Gueterres confrontado no inicio do mandato com o fenómeno explicou-o com a ausência de regras claras e normativos dúbios.
    Esqueceu-se de acrescentar que as entidades que devem aplicar a lei e prevenir o crime estão paralisadas e submetidas ao poder do momento - são uma invariante histórica nos últimos 30 anos e ainda não fizeram a ruptura que outras instituições nacionais foram obrigadas a fazer. Não me venham com o aumento da conflitualidade e a "democratização" do acesso à Justiça (Que explicará esse aumento de conflitualidade numa sociedade aberta?).
    O drama é que deixámos que poderes fácticos assumissem a condução do poder, sem regras escrutináveis e ao arrepio do estado de direito, e muito menos do estado de direito democrático, que não é só um adjectivo decorativo.
    Concluindo: Tecnocratas precisam-se sim, mas sob as ordens de cidadãos incumbidos em gerir efemeramente (quatro anos)os negócios públicos, garantindo uma cultura de rigor e prudente exercício do poder e dirigindo uma administração de profissionais da coisa pública, com espírito de missão e gosto pela comunidade que servem.
    Talvez assim já cheguemos em vida!!

    Ass. Maria da Fonte II
    António Viriato said...
    Está por provar que um Profissional bem sucedido, ou próspero Empresário que seja, dê um bom governante. Acho até equívoca e perniciosa essa presunção. Muitas destas pessoas, sem dúvida capazes, competentes e até brilhantes, nas suas funções, revelam-se depois péssimos ou medíocres governantes, porque não têm sentido de missão, nem apego pela causa pública. Muitos deles, só se interessam por estas funções no Estado, em razão do penacho e da vaidade que elas proporcionam. Fariam melhor em continuar onde estão, procurando cumprir com honestidade o exercício das suas profissões e deixarem-se de devaneios de presumíveis estadistas... Se, de verdade, quiserem servir o País comecem por revelar pensamento político autónomo e cultura portuguesa, em lugar de um pseudo-científico jargão economês, que esconde muita impreparação para o exercício pleno da cidadania.

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