Alberto Caeiro
"XXI - Se Eu Pudesse"


Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...

Alberto Caeiro

Publicado por Manuel 11:15:00  

2 Comments:

  1. Zu said...
    Este é o "meu" poema de Alberto Caeiro. Poema de horas de desânimo, que ajuda a retomar o fio da vida e a dar-lhe sentido. Obrigada por mo recordarem aqui.
    Anónimo said...
    Pessoa no seu melhor : lucidez e serenidade.

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