"As botas do Presidente"
domingo, novembro 14, 2004
Em tempos, um amigo meu, que escreve semanalmente num diário nacional, afirmava, numa das suas crónicas, a importância de se tratarem as coisas pequenas (?) do quotidiano. Se lhe não traio o pensamento, que já lá vão meses e não arquivei a crónica, a ideia era a de que é nas ditas "coisas pequenas" que se revelam os grandes homens, por isso que milhões de seres humanos são enormes e meia dúzia deles, os poderosos, são minúsculos.
Grandes, nessa vertente, são aqueles que, de um dia para o outro, são atirados para o desemprego, ficam com os filhos nos braços e engrossam a conta a débito na mercearia, os que suportam o rigor do Inverno de todas as madrugadas e seguem viagem para um trabalho a dezenas, se não centenas, de quilómetros para, a tempo do relógio de ponto, iniciarem mais um dia de labor e os que, padecendo de doença, aguardam anos e anos pela operação necessária. Os que, pacientemente, aguardam que a burocracia do estado ou de uma empresa privada, lhes satisfaça um direito, como a solução de um acidente de viação.
Pois estava eu, matutando nisto e visionando mais um vale de lágrimas, quando, como beneficiado que sou, e lendo o jornal, fico espantadamente espantado. É demais! Estes gajos abusam mesmo. São estes os "grandes" que governam não só o país que é o deles, mas ditam a guerra e a paz, as regras da economia universal, as relações entre os povos!!!
É, como escreveu o tal meu amigo, uma pequena coisa do quotidiano, mas, em verdade, define como se é grande e, ao mesmo tempo, de uma pequenez incomensurável.
Pois escrevia o diário, preto no branco, com provas que citava, que o presidente dos USA, o recém-eleito, possuía 25 par de botas tipo "cowboy" ROCKY CARROLL e que cada par custou cerca de 40.000 dólares!
O mesmo jornal afirmava, invocando provas, que, nos USA, o número de adultos analfabetos era de 72 milhões.
Juntei as BOTAS DO PRESIDENTE e os milhões de analfabetos e tentei compreender alguma coisa, pelo menos os resultados eleitorais das últimas eleições nos USA.
Mas logo parei, dado que os tais 72 milhões tanto votaram em BUSH, como antes em BIL CLINTON, atento o princípio democrático de que "one man, one vote".
A grande, embora pequena, questão teve mais a ver com as botas do que com tudo o mais.
Com a paz que o PRESIDENTE DAS BOTAS levou ao Médio Oriente, ao Iraque e a outros cantos da terra que Deus nos deu, com o evoluir constante da economia americana, com a inexistência de quaisquer milhões de desempregados nos USA, acabei por perceber, sem muita dificuldade, que tudo aquilo tem a ver com a suprema inteligência que lhe advém das botas.
Alberto Pinto Nogueira
Publicado por Manuel 19:29:00
10 Comments:
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Ora aqui vai o excerto:
"Footwear is that style item that makes a statement without your saying a word. If Italian loafers are a polite announcement, cowboy boots are a spirited oration. But boots that bespeak your personality don't come off the shelf. That's why Rocky Carroll's RJ's Boot Co., in Houston, hand-stitches and customizes every pair for each customer.
Carroll can speak for the feet of seven U.S. presidents, as well as other heads of state and celebrities. Former President George H. Bush has 25 pairs and President George W. Bush has a collection of his own. Former President Bill Clinton has 13 pairs. Other clients include Boris Yeltsin, Queen Elizabeth II, Prince Philip, Tony Blair, Oprah Winfrey and Elizabeth Taylor. The actor Russell Crowe recently traded in his gladiator sandals for cowboy boots, and Gen. Tommy Franks put in an order as well.
In addition to measuring your calf, instep, height, heel, waist and ball of your foot, Carroll sizes up your personality. The pair he made for George W. is stitched in eel skin and has the presidential seal tailored to the "shaft," or top portion, which hugs the calf. Liz Taylor's $40,000 boots came complete with nine carats of diamonds. (Less resplendent boots start at $600.) Toe, heel, leather, top, foot, stitching and scallop (top rim shape of the boot) are customized to your specifications and sent in three to four weeks.
Using a plastic or wood form, or last, of each customer's foot, Carroll cuts the soft skins to hug every bunion, bone and arch. Almost any skin or design is available, including water buffalo, ostrich, kangaroo, caribou, shark, anteater, lizard tail, elephant and, of course, red alligator, which the Queen Mum fancied. The boots slide on like socks and form to your foot like a glove.
Call RJ's Boot Co. at (713) 682-1650. "
Bem me queria parecer.
As botas do Texas são caras, mas ainda assim compram-se por uma bagatela: começa em 120 contos o par! Assim, já é mais razoável...e até o Boris do copo as tem!
Por exemplo, neste site -http://www.tcnj.edu/~rgraham/rhetoric/students/eager-reader.html - escreve-se que
"44 million American men and women who are functionally illiterate (Tharoor)?"
Enfim, estatísticas são estatísticas.
O que já foge à estatística são as citações mortíferas, como esta,proferida por um dos americanos mais cultos das últimas décadas:
"One of the great things about books is sometime there are some fantastic pictures."
Quem foi que a disse?!
O George W, incensado por aqui, pelos bravos intelectuais do liberalismo radical, como um grande líder!
http://www.ahalenia.com/id/id11/illiterati.html
C´Mon! Your point is proved, beyond reasonalbel doubt...
Também não acredito nas estatísticas sobre iliteracia e começo logo por embirrar com esta palavra que me atira para o funcionalismo analfabeto.
Porém, haverá estatísticas fiáveis, publicadas por ai?!
O problema começa logo na definição: o que é um analfabeto?
Aquele que não sabe ler, nem escrever, nem contar?
Aquele que não sabe redigir uma frase simples e ortograficamente irrepreensível?
Passando ao largo e falando de cor, parece que os USA, serão um dos países ditos do "Ocidente", em que os conhecimentos escolares básicos estão mais em falta para uma significativa maioria. A percentagem dessa maioria, não sei dizer, mas deve haver quem saiba.
http://www.census.gov/statab/www/part2.html#education
Espero que estas sirvam.
Quanto à avaliação da dita iliteracia é mesmo uma treta enervante. Lembra-me sempre aqueles impressos em tecnocratês que só um idiota é capaz de entender.