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Hit 'n' Run
segunda-feira, outubro 18, 2004
- Manuela Ferreira Leite, alegadamente por não ter quotas em dia, foi impedida, no último minuto, de ser eleita delegada para o próximo pseudo Congresso do PSD. Isto depois de ter sido convidada, ter aceite, terem sido mandadas cartas aos militantes onde o seu nome constava numa lista encabeçada por... Pedro Santana Lopes. Já aqui muito se zurziu contra Ferreira Leite.
Ferreira Leite não é política e tem uma fé inusitada na natureza humana, vulgo inocência, que faz lembrar a de Souto Moura. Ferreira Leite aceitou ser Ministra das Finanças de Barroso sem condições objectivas de autoridade, de autonomia, de controlo e margem de manobra para o exercício das funções; aceitou dar a cara pelas medidas mais difíceis e acabou humilhada. Humilhada aquando da ascensão do Dr. Lopes ao poder no rescaldo de ingenuamente ter pensado que era possível arranjar um governo decente aquando da fuga do José Manuel Barroso, humilhada pela linha duras santanista num célebre Conselho Nacional, humilhada com esta história das quotas e humilhada supremamente esta sexta pelo seu ex-colega Bagão Félix que, durante a apresentação do OE, não se coibiu de mandar algumas boas bocas que tinham uma só destinatária. Dir-se-á que a política é assim.
A senhora é de facto crente, desde a sua associação a António Preto na Distrital de Lisboa até aceitar fazer - agora - parte de uma lista encabeçado pelo Dr. Lopes. É assim, crente, voluntariosa mas concorde-se ou não com ela, ache-se bem ou mal os muitos sapos que já engoliu, o facto é que não foi para a CGD, a EDP ou a GALP, não ganhou um tostão a mais, nem o seu parque automóvel ou (i)mobiliário dispararam.
Mas não se pense que o episódio das quotas é inocente ou gratuito, porque não o é. Os spinners do Dr. Lopes elegeram-na como exemplo. Como exemplo de até onde - e a quem - estão dispostos a ir para se manterem no poder por cima. O episódio serve também, julgam eles, de aviso a Cavaco, cavaquistas e outros livres pensadores. O recado está dado e ninguém, nem Marcelo, nem Manuela, ninguém, escapa à fúria da patrulha santanista. É claro que como habitualmente a tropa santanista meteu água, e da grossa. Nunca se ataca e humilha uma mulher, muito menos cobardemente e pelas costas.
Ferreira Leite já foi mais aplaudida em Congresso que o Dr. Lopes (ainda no último) e, por muitos erros - nomeadamente de avaliação - que tenha cometido, será à custa de operações como esta das quotas que no Congresso que se seguirá a este que aí vem (e que será - a não ser que o Dr. Lopes, ou alguém por ele, no imediato se estatele outra vez com estrondo - um não evento marcado pela "fundamentalização" da Direção Nacional, já que nem as Presidenciais ficarão alinhavadas porque o Prof. Cavaco obviamente não vai dar trela aquela corja, e sobre coligações em tempo devido o Dr. Nobre Guedes tratou de espalhafatosamente forçar o congelamento do assunto...) o será ainda mais. É a vida.
- O Professor Marcelo explicou (?) finalmente as razões da sua saída da TVI, ironicamente num jantar com jornalistas e quadros daquele canal de televisão. Marcelo pode ter sido o mais sincero e franco possível, mas de um detalhe nunca se livrará. De antes, uma semana antes, no meio das suas hesitações costumeiras, ter achado brilhante pôr-se a falar no Expresso - na terceira pessoa. Há erros que se pagam caro, e Marcelo, o mesmo que uniu o País contra Santana, consegue sair do filme tão pouco credível como entrou. Brilhante, talvez genial - duvido - mas impossível de levar totalmente a sério. Quem - em seu perfeito juízo - espera semanas para esclarecer um imbróglio, permitindo de permeio todo o tipo de confabulações? Marcelo, claro, só que assim continuará o eterno entertainer, e cruelmente o maior inimigo de si próprio.
- Ainda sobre a saída de Marcelo da TVI, e sobre o muito que se escreveu sobre a liberdade e independência da nossa imprensa, uma dúvida. Que regras de mercado, que lógica capitalista, é que permite que, semana após semana, o "deficitário" Semanário continue a ser publicado, seja qual for o governo, seja quem for que esteja nas finanças ?
- Agora que anda toda a gente excitada com a Polícia Fiscal anunciada pelo Dr. Bagão, seria pertinente saber o que é feito dos resultados da task-force para as grandes fortunas em tempos anunciada... Em primeiro lugar porque me parecem uma e a mesma coisa, em segundo lugar porque os resultados devem andar por aí a irritar muito boa gente...
- Curiosa a entrevista de Horácio Roque a um jornal económico. Gostei da confissão de que já tinha financiado Partidos Políticos para ajudar a Democracia, e ainda mais da dica de que nunca se deve processar o Estado... Para bom entendedor.
- Entretanto, e enquanto o Patriarcado não se livra de Braga da Cruz sem entregar ao mesmo tempo a UCP à Obra, um Tribunal penhora o gabinete do reitor da Universidade Católica (!), isto quando ainda não se começou a falar a sério da aventura pouco católica de Viseu. Também ainda não se voltou a falar da Portucalense, aquela onde há uns tempos até buscas houve, já estarão todos amigos?
- Luis Delgado pede, encarecidamente, em mais uma crónica no Diário Digital (a propósito, aquilo actualmente é exactamente de quem?) que respeitem a opinião dele (socorre-se, imagine-se, até do apoio do New York Times a Kerry e de declarações de Sampaio). Eu respeito, aliás respeito-as tanto como ele respeita as dos outros como Eduardo Cintra Torres, que sossegue pois que, pela parte que me toca, nunca defenderei o internamento dele, só um tratamentozito aí prás bandas dos seus amigos de Pyoniang...
- Também no Diário Digital Clara Ferreira Alves surge como a luz. Acha, a propósito do preço do crude, que "ninguém em Portugal parece preocupado", escreve "que pequena intriga, o chiste e a pilhéria dominam a nossa politiquice, e a complexidade da situação económica mundial e das consequências da globalização, surge-nos como um problema alheio" e remata "Os think tanks portugueses, conclaves de ponderação e análise, são tanques vazios, os partidos não os têm. Tão vazios como os tanques das refinarias se isto der para o torto". Será que ninguém explica à senhora que é muito feio julgar todo um país pela qualidade dos circulos em que ela se move e que a alimentam ?
Publicado por Manuel 03:25:00
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