Rossio ao Sul do Tejo....
segunda-feira, outubro 25, 2004
O relatório do LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil – aponta para uma deficiência estrutural grave ao quilómetro 2.020 e numa extensão de 40 metros. O caso passa-se no túnel ferroviário que liga o Rossio até Campolide, naquela que é seguramente a linha suburbana da Grande Lisboa com maior fluxo pendular diário. A REFER decidiu fechar o túnel, mas decididamente não fechou a polémica, antes abrindo-a novamente, desta feita, visando a irresponsabilidade que grassa nos governos.
Em primeiro lugar, desde 1979 que existem relatório indicando problemas graves na estrutura e em 1998, durante o consulado de Jorge Coelho no ministério, um relatório do LNEC aconselhava o fecho da estrutura, para uma intervenção global e profunda. Algo que Jorge Coelho terá preferido não fazer, porque fechar o túnel durante 18 meses era impopular mesmo que haja o risco de cair, e depois porque o custo da obra ascendia a uns largos 89 Milhões de Euros.
Percebe-se hoje a sorte que todos os utentes da linha de Sintra tiveram, e que diariamente saiam no Rossio, não terem feito parte de um espectáculo televisivo semelhante a Entre-os-Rios.
Percebe-se hoje a sorte que todos os utentes da linha de Sintra tiveram, e que diariamente saiam no Rossio, não terem feito parte de um espectáculo televisivo semelhante a Entre-os-Rios.
Mas mais grave é atitude da REFER, hoje, e nomeadamente do seu presidente Braancamp Sobral ao se justificar pelo fecho do túnel. O relatório do LNEC baseia-se em inspecções efectuadas em Agosto de 2003 apenas dá entrada na REFER em Agosto de 2004, onde nos serviços de engenharia é capeado e inscrito manualmente “risco de colapso iminente”. Em Setembro de 2004 é enviado para a Administração da REFER e só em Outubro, do dia para a noite às 3 da manhã, a REFER decide fechar o túnel.
Ou seja, parece-me lícito pensar que durante 14 meses houve risco de colapso iminente que em nada justificavam tal decisão apressada de quinta para sexta feira às 3 da manhã. Das duas uma, ou a REFER mostrou neste processo toda a leviandade que o Estado por norma tem em processos que envolvem a responsabilidade ou aconteceu algo de muito mais grave nos últimos dias ali na zona da Rua da Artilharia Um em Lisboa, zona onde existe a falha, e onde curiosamente, ou talvez não, começaram as obras do famoso túnel rodoviário do Marquês.
A história não termina sem mais uma pérola bem própria da nossa sociedade. Enquanto os jornais fazem manchete com a discussão do prazo, que inicialmente era de 60 dias e que agora pode atingir os 18 meses, deixando para terceiro plano, o facto no mínimo ridículo de as obras custarem entre 25 milhões e os 100 milhões mas onde, segundo o presidente da REFER, não se sabe bem o que se têm que fazer.
Há muito que está instalado na sociedade portuguesa um sentimento de repulsa contra o actual estado do Estado em muitas matérias. E este caso do túnel vem apenas demonstrar o quão fútil é a discussão do significado das palavras direita e esquerda.
Tenha-se isso sim coragem de hoje perguntar porque Jorge Coelho não fechou o túnel e confronta-lo com o relatório. Tenha-se coragem e pergunte-se a Carmona Rodrigues, ex-ministro das Obras Públicas, porque demorou 14 meses um relatório que contêm dados, considerados do dia para a noite relevantes, que levem ao fecho do túnel a ser analisado.
Tenha-se coragem de exigir responsabilidade política neste caso.
Há muito que está instalado na sociedade portuguesa um sentimento de repulsa contra o actual estado do Estado em muitas matérias. E este caso do túnel vem apenas demonstrar o quão fútil é a discussão do significado das palavras direita e esquerda.
Tenha-se isso sim coragem de hoje perguntar porque Jorge Coelho não fechou o túnel e confronta-lo com o relatório. Tenha-se coragem e pergunte-se a Carmona Rodrigues, ex-ministro das Obras Públicas, porque demorou 14 meses um relatório que contêm dados, considerados do dia para a noite relevantes, que levem ao fecho do túnel a ser analisado.
Tenha-se coragem de exigir responsabilidade política neste caso.
Ou será que a culpa é de Arantes de Oliveira ?
Publicado por António Duarte 10:43:00
11 Comments:
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Vai ver que ainda aparece o Vital Moreira a dizer que a culpa é do PGR SOuto Moura que de certeza andou no local e não fez nada...
A sério:
Isto que acaba de denunciar é o espelho em que nos podemos mirar. São esses os líderes que vamos escolhendo; são esses os métodos que vamos sufragando e são esses os resultados que vamos admitindo e tolerando.
Jorge Coelho, aliás, tem antecedentes subterrâneos e que são também inescrutáveis. Refiro-me ao problema do Terreiro do Paço. Pensavam que era outra coisa?!!
Voce tenha la cuidado se mascar chiclete, nao va um dia, acidentalmente, morder a lingua...
Não gosto de chicletes. Nunca gostei. Nem gosto de ver o estenderete deles, pisados e enegrecidos pelo pisoteado da anomia e do desleixo cívico, no chão das ruas destas cidades.
Em Singapura, há uns anos, tornou-se proibida e punível com coimas, tal conduta mascarrada e atentatória do bom ar público.
Aqui, tudo se passa nos subterrâneos inescrutáveis. As mascarras daí não tem saído. De lá, só saiem murumúrios abafados pela conveniência dos apananiguados que se preocupam mais com os ditos de um PGR do que com essas nódoas que aviltam a democracia.
Mas talvez um dia saiam, quando alguém fizer luz sobre elas e as mostrar em todo o esplendor naquilo que verdadeiramente são: corrupção, nepotismo e perversão democrática!
Foi so porque voce aproveitou um texto (muito importante, alias) do Antonio para largar uma vaga insinuacao sobre o Jorge Coelho, e de caminho (nada se perde, nao e?) ainda aproveitou para disparar ao lado no Vital Moreira
O mesmo anonimo de ha bocado...
Também não levei a mal. Aproveitei foi o ensejo para dar vazão a frustrações acumuladas em ver isto sempre parado, num anomia preocupante, enquanto nos subterrâneos se movimentam as toupeiras que nos moem o cabedal de alguma honra que nos sobra do tempo de D. Afonso Henriques e D. João de Castro, o que empenhou as barbas para mostrar lealdade à cousa pública, ou ao rei- o que na altura ia dar ao mesmo!
Segundo um jornal do Centro, D. João de Castro,
"Favoreceu os fidalgos e os defensores de Diu. Mas não roubou. À sua morte, fizeram inventário dos pertences da sua câmara. Acharam três tangas de prata e as barbas do penhor numa boceta de marfim. Noutra boceta estavam os cilícios com que disciplinava a carne».
O tipo recuperou as barbas. Outros, actualmente tem-nas de molho...
Não sei as razões, nem me interessam muito.
Acho apenas graça a que, por tudo e por nada, lá vem um desagravo ao pobrezinho mesmo que a despropósito.
Quanto ao túnel...
Sou um dos utentes. Ainda não me caíu em cima. Entenderam fazer obras agora. Façam-nas.
Não andem sempre a querer arranjar culpados. O juiz que relativamente a Entre os Rios resolveu não avançar com o processo é muito mais lúcido que que toda a turba que quer sempre demonizar alguém.
Ou será que a ideia é ir-mos para algo daquilo que é prática nos EUA, onde tudo é pretexto para acções judiciais na mira de rentabilizar qualquer dano e sacar dinheiro seja a quem for?
Artur Santos
COm respeito ao PGR SOuto Moura, não se trata bem de gostar da pessoa em si...
Quem ler o que tenho escrito, percebe bem que se trata mais de defender uma opinião sobre a acção de SM na PGR.
Defender o essencial e que se trata de um reduto fundamental para a democracia: a não interferência de um órgão tão importante como é o PGR, na política e diferenciar pessoas em função da importância social que possam ter. Só isso- e já é muitíssimo! Muitos outros, inclusivé magistrados do MP defendem o contrário, ou seja que o PGR devia interferir nestes casos e orientar ou dirigir os processos de outro modo.
Porém, não consigo descortinar argumentos a sustentar tal opinião.
Uma das críticas que faço ao PGR é a de não mudar o esquema dos DCIAPS E DIAPS, mudando quem lá está há demasiado tempo e tem dado provas de pouco fazer de substancial e principalmente não ter espírito de inovação e criatividade.
Trata-se assim de defesa de uma posição de princípio e com o qual concordo inteiramente: o PGR deve defender a legalidade democrátrica, não interferindo nas investigações criminais, mesmo que em causa possam estar indivíduos que pensam que a legalidade democrática não sobrevive sem eles.
Parece-me que Vital Moreira, por exemplo, pensa assim. Lamentavelmente.
Quanto às desgraça naturais nos túneis, rios e estradas:
acha, pelos vistos, que o trabalho do MP no caso de Entre-os-Rios foi tempo perdido e que o juiz, -um único juiz, andou bem em não pronunciar os eventuais responsáveis que o MP e os assistentes no processo descobriram.
É uma opinião. Já agora, se quiser elaborar, diga porquê!
Para ser rigoroso não se pode ficar por Jorge Coelho e Carmona Rodrigues. Então e Valente de Oliveira? E Ferro Rodrigues? E os senhores Secretários de Estado dos Transportes de todos estes ministros? E os sucessivos Conselhos de Administração da CP e da REFER? e o Instituto Nacional do Transporte Ferroviário?
E porquê parar aqui? O problema é antigo, a diferença é que agora agravou-se. Chmae João Cravinho, chame Ferreira do Amaral, chame-os todos à liça.
Sendo certo que - sublinho e sei do que falo - a situação era uma coisa e, subitamente, passou a ser outra. A pergunta que se impõe é: porquê? O que mudou num túnel com mais de 100 anos? E não se venha culpar as chuvinhas de Outono. O velho túnel já passou por Invernos bem mais rigorosos.