Um outro tipo de ecologia
segunda-feira, setembro 06, 2004
Ainda a propósito do terror e matérias afins proponho um lema simples descoberto há muitos anos: conhecermo-nos a nós, conhecer o outro.
Acho que este é o único caminho seguro para enfrentar os nossos males do mundo e para reagir a qualquer provação. Aliás este lema não é uma reacção pontual, é tão simplesmente algo que nos deve acompanhar permanentemente.
É um lema transversal aos ditos e escritos de várias religiões (ainda que humanamente ignorado), é também um dos fundamentos do humanismo renascentista europeu se a história não me falha. Há maior deslumbramento, melhor surpresa do que estar atento ao outro seja ele um filho, um amigo, um desconhecido, um estrangeiro ou mesmo um antepassado?
É importante ser curioso, é importante estar atento, é importante termos liberdade, uma coisinha que se mima e vive de mimos.
Liberdade para perguntar, liberdade para viajar, liberdade para saber.
Esta batalha pelo conhecimento mútuo é a única que verdadeiramente interessa. Um desafio que permanece latente, imperturbável e incontornável seja qual for a moda política ou social de cada ocasião.
Foi, é e será sempre preciso abrir a porta, espreitar, oferecer a mão aberta, mostrar os dentes, sorrir. Este é um irrenunciável "risco" que todos temos de saber correr sob pena de nos destruirmos mutuamente.
Mas estes ancestrais gestos só são possíveis pela proximidade e nunca pela distância. E estar próximo faz-se por um caminho, por muitos caminhos.
O destino destas andanças é das poucas coisas que mais aquecem a nossa precária existência e está ao dispor de todos independentemente do credo, fé ou condição. Perante esta preocupação basilar discutir Deus é secundário ou, para alguns, a mesma coisa.
Apenas este árduo caminho de saber, dar e receber será seguro. Acho que é por aqui que temos todos de assinar por baixo e deitar mãos à obra, em cada dia, até ao nosso fim.
Por vezes esqueço-me, por vezes é difícil saber como, mas há tarefas bem mais difíceis, convenhamos! Exige apenas disponibilidade e o melhor que há na nossa humanidade. Recursos próximos e renováveis, portanto!
* A imagem é uma lanterna Beiroa do António Colaço "Em memória de todas as vítimas do massacre na Ossétia, em especial por todas as crianças!"
Publicado por Rui MCB 19:21:00
Quem é esse outro de que fala?
O que é isso de excesso de humanidade e onde é que o lê no que eu escrevi?
Onde escrevi que a pena é mais forte que a espada e em que junção de palavras expressei que são incompatíveis?
O que escrevi vejo-o como universal e não como conversa do "ocidente".
Por que música rufam os seus tambores?
Que sujidade é essa que vê nos pratos?
Quem são os outros? Quem não são os outros?
Será que seguindo aquele simples lema não procuro responder a algumas das confusas, perdão, muito claras, questões que expressa?
Nem Ghandi pôs de parte matar em legitima defesa, meu caro. Encontrou contudo métodos mais eficazes no seu contexto histórico. Usou a cabeça. Estudou o seu meio e o seu adversário e fê-lo de tal forma que em nenhum momento fez germinar hostilidade entre o derrotado, nem no dia da sua vitória. Não me parece que o nosso contexto permita estes meios e este desfecho mas não há apenas uma maneira de fazer a "guerra". São pratos dificeis de limpar estes e não nos bastará o poder da bala, antes pelo contrário!
O nosso desafio para garantir um futuro é não cair no poço, agir cegamente disparando contra tudo e tudos aqueles que nos parecem estranhos, um cenário muito plausivel quando é dificil definir esse outro de que se fala mas somos incapazes de admitir isso mesmo.
Repito, diga-me o Pedro quem é esse outro que eu mesmo saio já daqui aos tiros. Mas defina-o de tal forma que não tenha de estar todos os dias a falar de danos colaterais ao ponto de não saber exactamente o que isso será.
O Pedro M com tanta ligeireza crítica arrisca-se a ser parte do problema, um mau aliado de muitos, desde a criança que vai à escola ao militar especializado que forma as fileiras dos nossos exércitos.
O horror, o ediando, o desumano todos sabemos no nosso intimo o que é. Essa é a parte mais fácil, a mais dificil é preparar o que que fazer a seguir. E aí, conhecer-nos a nós e conhecer o outro nunca será uma má aposta.