Manuela, volta que tás perdoada!...


Sempre fui um daqueles portugueses estúpidos, que pensa que o Estado somos nós todos e que a receita cobrada aos contribuintes que ganham melhor, vem beneficiar todos, em particular aqueles cujos rendimentos lhes permitem apenas (ou nem sequer permitem) sobreviver. Isto, apesar de, ao longo dos anos, ir ouvindo uns zunzuns que, aquilo que eu pago ao Estado e que bem falta me faz, para gastar em livros ou CD's ou idas ao cinema ou viagens ou jantaradas com os amigos ou ir ver a Madonna ou trocar de carro ou trocar de casa para o meu filho ter mais espaço, em vez de ser usado para pagar a educação de meninos cujas mães não podem pagar colégios particulares, ou o tratamento em hospitais e centros de saúde para meninos cujas mães não têm um seguro de saúde, ou para transportes públicos decentes para meninos cujas mães não têm dinheiro para ter carro, ou estradas decentes para os meninos não morrerem porque o carro em sentido contrário chocou de frente por não haver nem rail, nem polícia a passar multas de excesso de velocidade, e mais um monte de coisas, era na realidade usado para alguns governantes deste país poderem gastar em livros ou CD's ou idas ao cinema ou viagens ou jantaradas com os amigos ou ir ver a Madonna ou trocar de carro ou trocar de casa para os filhos terem mais espaço. Mas achei que isso seriam boatos. Embora a realidade me viesse contradizer.

Sou daqueles portugueses estúpidos que pagam os impostos todos, até ao último tostão, sem qualquer aldrabice. Ainda tenho metade dos móveis da cozinha para trocar e todos os cortinados para colocar e uns sofás velhos para trocar à conta das oitocentas mocas que paguei de sisa. E por aí fora.



Chega de lamechiche demagógica.

Os benefícios fiscais dos planos de poupança habitação e poupança reforma vão sofrer uma redução ou mesmo desaparecer. O Ministro arranjou uma forma rápida de conseguir uma receita maior. Rápida e de curto prazo. Com a desculpa de maior igualdade e outras palermices, penaliza a classe média que já paga os seus impostos e que não vê resultados práticos da aplicação eficiente desses recursos. Pensa o Ministro, abarbato-me aqui a uns pontos percentuais, mando umas tretas sobre diferenciais de taxas suportados pelo Estado, no pressuposto de que as poupanças serão canalizadas para outro produto do mesmo género. Errado. Ninguém vai passar a fazer um depósito a prazo com o dinheiro que era antes aplicado num PPH ou PPR: as taxas não justificam o sacrificio e não há benefícios futuros tão visíveis; apesar de esse dinheiro poder servir para comprar uma casa ou ser um complemento de reforma, na realidade, mais tarde ou mais cedo, estando ali, será uma tentação para comprar uma televisão nova ou trocar de carro. Os planos poupança têm a vantagem de obrigatoriedade de manutenção como poupança pelas suas próprias características: se forem usados para outra finalidade, os benefícios fiscais são anulados. De uma certa forma, o Estado obriga as pessoas a fazerem mesmo aqueles investimentos em bens que são essenciais: habitação, educação e reforma.

O Ministro já não está obssessivo pelo défice. O Ministro quer crescimento económico. A malta vai passar a gastar as poupanças. A malta sabe que o consumo aumenta o crescimento económico, a malta compra mais, produz-se mais, tá tudo em casa. A malta é assim, bruta e acredita no que vê na televisão.

Desculpem os especialistas que a minha teoria económica já está esquecida há muito tempo: mas a palavra 'inflacção' desapareceu dos manuais?

PS: Cá pelos meus lados, vou usar a parte do meu orçamento, que era antes aplicada em planos de poupança, na contratação de um bom contabilista.

in 100 Nada


Publicado por Rui MCB 13:36:00  

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