"Início do ano lectivo"


Hoje é dia 15 de Setembro. Amanhã deviam começar as aulas nas escolas do ensino público. Mas não vão começar. Hoje, dia 15 de Setembro, há apenas um professor colocado na escola que a minha filha frequenta e onde são precisos pelo menos oito professores. Hoje, a resposta que recebi quando liguei para a escola é que as aulas começarão no momento em que os professores estiverem colocados. Nunca, pois, antes de terça-feira, já que foi anunciado que apenas nesse dia serão publicadas as listas de colocação dos professores. A situação vivida nesta escola em concreto repete-se, decerto, de norte a sul do país em centenas de escolas. Até terça-feira, no mínimo, há pais a fazer malabarismos para encontrar onde deixar os seus filhos enquanto trabalham (os programas de ocupação dos tempos livres nas férias terminam hoje). Há professores que continuam sem saber se vão permanecer no mesmo local, mudar para outra escola, outra terra, com tudo o que isso significa na sua vida pessoal. É incrível, fantástico, vergonhoso. E nós somos, sem dúvida, um país de brandos e curiosos costumes. Andou-se para aí aos berros, ocupou-se toda a comunicação social durante semanas com um barquito holandês. Houve movimentos de solidariedade, chiadeira por todo o lado, reportagens em directo, o diabo a quatro. E quanto a uma vergonha destas, que afecta a vida de milhares de crianças e dos seus pais, e de milhares de professores, que não implica considerações de ordem moral sobre a vida humana, mas é simplesmente um escândalo sem precedentes e inadmissível, tudo se cala, tudo fica calmamente à espera, se calhar até se acha natural.

in um pouco mais de azul

Como adenda à prosa que se cita, e que reflecte bem a discrepância entre as agendas mediáticas (do BE ao PP) e as agendas do país real (de facto, há mesmo um), duas notas apenas... Uma para lembrar que se aguardam a todo o momento explicações voluntárias (já que ninguém formalmente lhe pergunta) de David Justino, ex-titular da pasta da educação, e uma outra para recordar que tendo o problema surgido e tido a sua génese, aparentemente, no consulado de Justino, o facto é que uma das primeiras medidas anunciadas num dos primeiros conselhos de ministros (porventura no primeiro) deste governo de Pedro Santana Lopes foi o de incumbir a nova ministra de garantir que o que se está a passar precisamente não se passava. E o facto é que se passou, aliás foi o pior introito de que há memória. Haverá pois responsabilidades a apurar, desde o que originou isto até quem politicamente e na mais completa incúria persistiu no bluff até ao último segundo, a actual titular da pasta. Houvesse responsabilidade e bastava ter sido dito - a tempo e horas - com humildade que as coisas não iam correr bem a tempo. Não foi dito, e não correram. Assim, e independentemente de tudo o que possa ser imputado a David Justino, o facto é que num País normal a actual ministra da educação já tinha posto o lugar à disposição. Ainda não pôs.

Publicado por Manuel 15:55:00  

7 Comments:

  1. Zu said...
    Acrescento (agradecendo o link)ao que escrevi uma coisa mais: a srª ministra disse no Parlamento (não ouvi, mas houve quem ouvisse, e pode-se ler aqui: http://forumcomunitario.blogspot.com/2004/09/sem-comentrios-posso-garantir-que-at.html) que como não era aldrabona garantia que os professores estariam colocados até ao dia 16. As listas afinal só saem a 20 (sairão?). Que devemos afinal chamar à srª ministra e à sua equipa, além de incompetentes e de não terem qualquer respeito pelos professores e pelos alunos? O adjectivo é dela - aliás, muito elegante, mesmo próprio para ser usada numa intervenção parlamentar.
    Tino said...
    Em trinta anos de democracia tivemos cerca de trinta ministros da educação.
    Se por cada erro cometido houver a demissão de um ministro teremos um ministro por semana.
    A ministra deve ficar e corrigir os erros existentes.
    Não concordo com a solução informática do desliga e volta a ligar para ver se fica tudo bem.
    zazie said...
    não é por nada mas alguém sabe ao certo em que consistiu o erro?
    eu já ouvi muita coisa, incluindo que se entregou a parte informática uma empresa privada...
    não é por nada mas o que eu queria mesmo era saber qual foi o erro... ia jurar que foi coisa de tal modo básica... de tal modo básica... ":O.
    Anónimo said...
    Já repararam: mudou o Governo, mudou o Ministro, mudou o Secretário de Estado, o que é que não mudou? Os erros, a Directora-Geral e o Director de Serviço. Curioso, não é? Ninguém repara?
    Anónimo said...
    Só para lembrar que uma das primeiras coisas que David Justino disse quande chegou ao ministerio é que estavam lá demasiados professores que deviam estar a dar aulas. Primeiro falou em devolver 10 mil às salas de aulas, depois que para começar, num primeiro ano, seriam 3 mil seguidos de 7 mil no ano seguinte.
    Cá se fazem cá se pagam! o David Justino já é história, o sistema colapsou, já têm mais uma ministra e alguns secretários de estado para queimar... mas os tais 10 mil professores que estão muito confortáveis em Lisboa (destacados de escolas em Alguidares-de-Baixo), incluíndo diversos directores, devem se estar a rir...
    Anónimo said...
    Como Gadamer, dir-se-á que ”todas as compreensões se reduzem, finalmente, ao eixo comum de um ‘sei como hei-de arranjar-me’”, i.é, “a defesa de uma ‘causa’ significa necessariamente que a façamos nossa, que a ‘compreendamos’ ao ponto de não nos sentirmos aflitos diante de nenhum argumento que a parte adversa possa avançar”.

    A justificação para a inexplicável ineficácia do mandato de David Justino que, com a sua reconhecida competência elaborou na GLQL uma portentosa defesa em 7 pontos (os preconceitos dos outros), estará em não ter conseguido ‘arranjar-se’ com a sua 'causa'?
    Em não ter tido tempo de a fazer sua?
    Novos episódios desta aflição estão a surgir com M. Carmo Seabra.
    Devemos continuar a permitir estas incompetências?

    MJ
    Zu said...
    Confesso que estaria pronta a dar o benefício da dúvida se tivesse havido humildade e honestidade por parte do Ministério, que a ministra tivesse sido capaz de vir a público explicar com clareza os problemas que surgiram, marcar uma data definitiva para a publicação das listas devidamente corrigidas, pedir desculpa aos afectados pelos percalços. Aceitaria uma posição frontal deste tipo. Não aceito o autismo, as promessas falsas, o desrespeito para com professores, alunos e a sociedade em geral. Não confio minimamente.
    Na verdade, como confiar na eficácia de um Ministério que, ano após ano, reúne grupos de professores que trabalham meses a fio para produzir provas de avaliação e exames que, inevitavelmente, apresentam erros de palmatória, imperdoáveis mas sempre perdoados?

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