"Férias de Magistrados"


Um cidadão que desconheço por completo, mas que, nem por isso, deixo de respeitar, teve a amabilidade de me enviar um e-mail em que, no essencial, me acusava de viver "à custa dos contribuintes", de ser arrogante e pretensioso nos textos que aqui deixo e de, ainda por cima, ter férias de dois meses no Verão, uma semana no Natal e outra na Páscoa, coisa que, a seu ver, era só e apenas "vergonhosa".

Eu concordo que sou pretensioso e arrogante nos textos. Todavia, mesmo com autocrítica, quero afirmar que faço um esforço para o não ser. Muitas vezes é apenas uma questão de forma, de estilo, sabendo os que me conhecem que tais virtudes as não tenho.

Também anuo em que vivo "à custa dos contribuintes", dado que o Estado é quem me paga o trabalho que faço.

Mas, sendo assim, vivo também à minha custa, pois pago sem fugas e sem fraudes, os impostos que devo ao Estado, a começar pelo IRS.

Muitos dos que falam dos outros que vivem " à custa dos contribuintes" são exactamente aqueles que não pagam impostos e vivem à custa dos que pagam, como eu e todos os funcionários públicos, pois nenhum escapa a pagar. Ao contrário dos que apontam o dedo, declaram mil euros por mês, recebem, dois, três e mais, além dos carros e outras benesses que toda a gente conhece.

Quer dizer que já estou farto dessa conversa demagógica de que os funcionários públicos, como eu, vivem " à custa dos contribuintes". Verdade é que vivemos todos à custa uns dos outros, pois todos participamos na criação de riqueza para o país, em qualquer sector em que a nossa actividade se desenvolva. E se o Estado acha que não presta o serviço que me incumbe, tem um meio ao seu alcance: que me despeça com ou sem justa causa.

As FÉRIAS JUDICIAIS são, como diz o cidadão que me escreve, um tema sério. Deve ser repensado. E tudo isso veio agora ao de cima com o que aconteceu, de modo quase patético, num certo tribunal da capital.

Nunca defendi, nem defendo, as férias judiciais como estão. Não há razão séria que justifique o actual estado de coisas e, aí, dou plena razão ao meu crítico. Mas, muita atenção. A grande maioria dos magistrados laboram dias inteiros e pela noite fora. Nos fins de semana. Mesmo nas férias. Conheço-os e isto não é retórica, nem autodefesa, pois não trabalho aos fins de semana, nem nas férias.

O poder político pode e deve, ao que penso, alterar as regras atinentes ao assunto, mas terá de suportar as consequências da respectiva alteração. Não posso deixar de concordar em que o que se passou no tal tribunal não pode suceder e que se impõe a tomada de medidas legislativas adequadas.

Os cidadãos e a realização da Justiça nunca poderão ficar sujeitos ao aleatório de um turno. Não é admissível que, num estado de direito, um tribunal diga isto agora e diga aquilo logo. A liberdade dos cidadãos é, sem reservas, um bem tão incomensurável que não pode estar sujeita a tristes e lamentáveis acontecimentos como os que aqui refiro. E toda a gente sabe que coisas semelhantes se passam em todos os tribunais nas férias judiciais, mas que, não tendo ressonância pública, se desconhecem. Nem por isso deixam de ser relevantes e deixam de exigir medidas.

O LEGISLADOR que as tome que os magistrados cá estarão.

E pronto, caro Concidadão anónimo, ainda acha que sou arrogante, presunçoso, que vivo à custa dos contribuintes e que gozo férias a mais? Talvez goze.

Alberto Pinto Nogueira

Publicado por josé 16:18:00  

4 Comments:

  1. Zé Pedro Silva said...
    Vou muito à bola com esta resposta. Mas há uma coisa que não entendo. Se o anónimo que lhe escreveu, recorreu à velhinha história de "viver à custa", por que razão lhe respondeu com um "e você não deve pagar os seus impostos" (não estou a citar). Esta guerra que vivemos em Portugal em que todos achamos que pagamos os nossos impostos e os nossos vizinhos não, é absolutamente ridícula. Tão ridícula quanto dizer que um funcionário público vive à custa dos contribuintes. Se assim fosse um trabalhador dependente viveria à custa do patrão e um profissional liberal viveria à custa dos seus clientes. Ou seja, viveriamos todos às custas um dos outros em vez de vivermos do dinheiro fruto dos nossos trabalhos.
    Pedro said...
    Como professor, também considero que determinadas categorias profissionais possuem férias a mais, nomeadamente os professores e os juízes. Claro que ambas as profissões obrigam a que se trabalhe muitas horas em casa, fora do horário normal de trabalho.
    A resolução desta situação algo anormal em relação a muitas outras categorias profissionais não é de fácil resolução, mas parece claro que a concessão de privilégios após o 25 de Abril a muitos dos funcionários públicos foi algo excessiva se se considerar a situação vivida por aqueles que não trabalham para o Estado.
    É uma situação que urge alterar, por forma a que a justiça laboral seja uma realidade...
    Anónimo said...
    Não são só os magistrados que ficam até «às tantas» nos Tribunais, os funcionários dos Tribunais fazem o mesmo e não recebem um centimo que seja de horas extraodinarias pelo que quem se queixa da duração das férias judicias só pode pretender distrair o povo dos problemas da Justiça. Já agora, qual a será média de horas de trabalho diária de quem critica as ferias judiciais?
    Anónimo said...
    NÃO SEI SE SABEM, PELOS VISTOS NÃO SABEM: EM VÁRIOS PAÍSES DA EUROPA ( E CREIO QUE DE OUTROS CONTINENTES) AS FÉRIAS JUDICIAIS SÃO COMO AS NOSSAS, EM PORTUGAL. NÃO SEI SE SABEM, MAS AS FÉRIAS JUDICIAIS TAMBÉM INTERESSAM AOS SENHORES ADVOGADOS. E ATÉ AO CIDADÃO, PORQUE NÃO SEI SE JA IMAGINARAM A "EMPRESA" JUDICIÁRIA ENCERRADA PARA FÉRIAS (SENHORES "CLIENTES.. ESTAMOS ENCERRADOS...»!!!. E MAIS: QUEM GOZAVA FÉRIAS,COMO, QUANTOS DE CADA VEZ E QUANDO? e A FAMÍLIA E SUAS FÉRIAS? (AH DESCULPEM QUE JÁ ESQUECIA QUE EM PORTUGAL, OS MAGISTRADOS E OS POLÍCIAS, NÃO TEM DIREITO A TER E A AMAR A FAMÍLIA-- MULHER, FILHOS, ETC.!!) UNS NO VERÃO OUTROS NO INVERNO? TODOS DURANTE UM MÊS? UM JUIZ E UMA SECÇÃO DE CADA VEZ? O QUE É UM JUIZ SEM A SECÃO DE APOIO?-- NADA. E UMA SECÇÃO SEM O JUIZ?-- NADA. E O JUIZ SEM O PROCURADOR?--NADA. E O PROCURADOR SEM O JUIZ?-- NADA. E SEM OS ADVOGADOS?--NADA. JULGAM OS SENHORES QUE AS SOLUÇÕES SÃO MEROS "CAPRICHOS" "DOS TRIBUNAIS"? QUE A INTELIGÊNCIA CHEGOU AGORA, EXCLUSIVAMENTE, À CABEÇA DOS NOVOS CRÍTICOS DE ARQUIBANCADA? E QUE É INVENÇÃO PORTUGUESA? NÃO SEJAM INGÉNUOS! COMO OS MAGISTRADOS EM PORTUGAL SÃO CARNE PARA CANHÃO E NADA MANDAM,JÁ NEM FAZEM BARULHO, E QUEM GOVERNA O PAÍS HÁ 30 ANOS É A ADVOCRACRIA, NÃO ACHAM QUE SE ESQUECERAM DESTA E DOS SEUS PODERES, MESMO NESTA METÉRIA?
    VIVAM TODOS VOCÊS E EU TAMBÉM!

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