"freelancer"
terça-feira, setembro 07, 2004
Há uns quinze anos, um familiar meu muito próximo rumou na direcção-geral de Londres. Objectivo: frequentar um curso superior que nãoexiste no rectângulo.
Lá frequentou o curso e obteve o canudo. Nunca mais regressou. Como bom português que não larga a terra nem os "seus", de quando em vez, vou a Londres.
O meu inglês é paupérrimo, não dando, quase nunca, para solicitar esta ou aquela informação, mesmo até para saber a estação do metro onde devo sair ou o prato que devo pedir neste ou aquele restaurante. Lá me tenho safado...
Das coisas que mais me impressionou e continua a impressionar em Londres é que, nos transportes públicos, do metro, ao comboio, ao autocarro, as pessoas sacam de um livro ou jornal que trazem no saco, ou simplesmenteno bolso do casaco e aproveitam para ler. Coisa que, como é sabido, é um hábito secular da terra de Vasco daGama.
Nos nossos transportes, lê-se de tudo, desde a BOLA ao EduardoLourenço, passando pela poesia magistral de Natália Correia.
Ora, em Londres, também é hábito distribuir gratuitamente jornais nos transportes públicos, desde os tabloides, aos de mera informação e mesmo os consagrados, tal como se faz cá na classe executiva da CP e da TAP, mas só para o "grand monde", ou, em português mais corrente, "alta sociedade".
Como ignorante que sou, há uns dez anos, estando então em Londres, e viajando no comboio de Forest Hill para o centro, foi-me entregue um jornal dito tabloide, com aquelas fotografias que os "macholas" apreciam e outras coisas do género, entrevistas, textos, anúncios, referências múltiplas a espectáculos, o que têm os jornais. Aceitei, mas fui ao bolso em busca de libras para pagar o serviço, mas logo me foi dito que não senhor, que aquilo era grátis. Desconfiado, como saloio que sou, de origem familiar e pátria, aceitei e tentei perceber alguma coisa daquilo que ali estava. Percebi, é óbvio, as fotografias bem apelativas, mas dos textos, zero. Nadinha.
Com a ajuda do meu familiar, sem a qual não perceberia patavina daquilo, "li" algumas entrevistas, a futebolistas, artistas de segunda e a um jornalista que trabalhava por conta própria. Freelancer. Eu, com franqueza, não sabia o que era aquilo.
De "free" apanhava ser próximo deliberdade. Mas de "lancer" é que nada. Foi-me explicadinho que se tratava de jornalistas de investigação, mais ou menos isto, e que, feita a dita, a vendiam aos jornais importantes.
Achei, então, ainda como parolo, que devia ser interessante, mas que cá disso não existia, pois toda a gente, no jornalismo, tinha um patrão, trabalhava num jornal ou na rádio, ou na televisão que, obviamente, lhe pagava o soldo, ou seja, o produto do seu trabalho.
Sendo parolo, mas pensando não ser estúpido, há dez anos, mas só há dez, descobri o que era um Freelancer.
Mas vale mais tarde do que nunca, como diz o Povo.
Alberto Pinto Nogueira
Publicado por josé 11:24:00
4 Comments:
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Quanto às leituras também já assisti por lá a coisas muito curiosas. Até os mendigos lêem. Em Oxford dei com um já cinquentão que colocava no chão um cãozinho de plástico de pata levantada na direcção do pratinho das esmolas (não tinha pachorrra para animal de verdade como os outros) enquanto ele lia displicentemente o Crime e Castigo do Dostoievsky ";O)))
"You don't have to be crazy to be a freelance journalist, but you try convincing your friends and family, let alone your shrink. If the laws of physics ever delved deeply enough into the human condition, it would include a theorem that proved it was impossible to make a living from freelance journalism and still remain sane".
Não é inventado, está aqui:
http://www.legends.org.za/arthur/journ.htm