"A delicada majestade"



Um dia poderás chegar, tu que nunca chegas
porque não és um tu
ou porque chegas sempre em não chegares.
Subi um dia por uma escada silenciosa
e em torno era um pomar branco, tranquila maravilha
e eu senti, eu vi, adivinhei
a divindade amada, a soberana e delicada
majestade. Que suavidade de oriente,
que suave esplendor! Era o fulgor de um sono
límpido, entre olhos verdes, entre mãos verdes.
E num repouso de oiro adormecido era quase um rosto
Antiquíssimo e inicial. Contemplava
a quietude de um imenso nenúfar
e a fragância era quase visível como um mar entreaberto.
Era um rio detido ou uma tersa nuca ou um braço estendido
que descansa entre ribeiros primaveris
ou era antes a serena felicidade
e era uma boca da terra que não cantava que não dizia
o silêncio ardente que no peito de espuma cintilava.

António Ramos Rosa

Publicado por Manuel 02:44:00  

3 Comments:

  1. Anónimo said...
    Por onde andara aquele cromo que nao gosta destas poesias?
    Anónimo said...
    Oferecem-nos Ramos Rosa, o poeta que dizia "Não posso adiar o amor para outro século...", contemplando
    a quietude de um imenso nenúfar.
    Venha mais poesia

    MJ
    Anónimo said...
    Eis que nos oferecem Ramos Rosa contemplando a quietude de um imenso nenúfar, ele que disse “Não posso adiar o amor para outro século ...”
    Agradecidos

Post a Comment