Um problema de cidadania

A propósito do desafio que aqui se deixou ao ex-ministro da Eduçação - Carta Aberta a David Justino - recebemos o seguinte e-mail do próprio...


Estou tentado a aceitar o desafio de Rui Branco.

Sem desejar criar “tabus”, é provável que aproveite este período de “nojo” para registar não só a experiência do Ministério da Educação, mas também partilhar o muito que ficou por fazer e é urgente fazer.

A relutância que sinto prende-se com a prática de branqueamento da acção governativa, a que muitos ex-governantes não resistem. Na maior parte dos casos tendem a enaltecer os aspectos positivos e a esquecer os negativos.

Quero ter a independência e a liberdade para abordar a experiência, sem os limites nem os constrangimentos do “politicamente correcto” ou do “partidariamente inconveniente”.

Se tiverem alguma paciência, pode ser que o desafio se concretize.

David Justino


Publicado por Rui MCB 15:50:00  

26 Comments:

  1. Francisca said...
    É bem!
    Rui MCB said...
    Pedro M,
    Há ministérios onde os ministros são sucessivamente carne para canhão. O ministério da educação é um deles. Todos os ministros que por lá passaram foram absolutos incompetentes? Custa-me a crer.
    Prefiro "investigar" todas as pistas e algumas apontam para outros reservatórios de poder que escapam às mãos de qualquer ministro, bom ou mau. Não só lhes escapam como em alguns casos apontam as baterias precisamente para eles.
    Já vai sendo tempo de querermos perceber com mais detalhe qual a responsabilidade de cada um dos suspeitos do costume.
    josé said...
    Exactamente, Rui! E palpita-me que o David Justino é capaz de o fazer.
    COntudo, acho que o livro é um exercício moroso. Ainda por cima, em matérias acerca das quais há tantos pedagogos ( basta ver as bancas na secção respectiva numa qualquer Fnac), tornar-se-ia interessante conhecer desde já, quem são as forças de bloqueio e quem são os que dantes se chamava "reaccionários" e que resistem às mudanças notoriamente necessárias.

    Meu caro David Justino, escreva noutros sítios: jornais; revitas e...aqui, por exemplo! Porque não?!
    zazie said...
    olha só que engraçado! até o ex-ministro gosta dos naquitos. Seria muito mais interessante que mandasse um texto para aqui que para os jornais. Sempre dava para debate.
    zazie said...
    do pouco que conheço daquilo ia jurar que um ministro não pode nada contra tanto pedagogo... o cancro são esses... e bem mudam os governos que eles ficam por lá...
    zazie said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    zazie said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    Rui MCB said...
    José e Zazie: é engraçado que há bocado estava pensar exactamente isso. Ter um blogue seria interessante... Mas talvez depois de reflectir e escrever o livro seja mais adequado.

    Pedro M.: Vamos ter de confiar no nosso livre arbitrio para não cairmos em nenhum extremo (desculpabilizante, por exemplo). Mas neste momento preocupa-me mais ter acesso a outra versão do que se passa.
    zazie said...
    ups! peço desculpa pela repetição. Não era assim tão importante... foi a adsl que pifou.

    rui: eu prefiro o blogue ao livro. É mais rápido e mais em conta e dá para fazer perguntas ";O))

    Pedro M: até que enfim que alguém se atreve! "a efeminização, da pseudo-pedagogia" é isso mesmo! Ao tempo que malho nessa efeminização e não é só na educação, é na justiça é em todo o lado. Mas é muito politicamente incorrecto dizer-se uma coisa destas...
    ";O)
    Anónimo said...
    David Justino foi o pior Ministro da Educação nos últimos 100 anos. Outra coisa não seria de esperar de quem nem as regras mais elementares da gramática sabe respeitar. DJ exemplifica, cabalmente, que os limites no uso da linguagem são os limites na compreensão do mundo. Enfim, entrada de leão mas saída de sendeiro. Se tivesse uma réstea de carácter pedia desculpa aos portugueses pelo seu consulado incompetente e analfabeto.
    zazie said...
    ena pá! 100 anos é obra! bem que gostava de ter assim uma estudo científico sobre 1/3 do tempo de qualquer pequnina coisa que fosse...
    Agora em matéria política não há quem bata um tuga autodidata...
    josé said...
    Anónimo:

    Respeito opiniões, mesmo infundamentadas. Contudo, ajudava muito compreender essa dos 100 anos de solidão, se conseguisse explicar porque razão sofreu tanto com os dois anos justinianos.

    COmo já escrevi, depois de ouvir o DJ ao vivo, a falar sobre aquilo que queria fazer na Educação em Portugal, fiquei convencido de que era exactamente aquilo que seria preciso fazer. E que não fora feito ao longo dos últimos vinte e cinco anos de consulado de bloco central, com Fraustos, Grilos e Carneiros. Nada tenho contra estes a não ser o (res)sentimento deos considerar os obreiros directos da triste situação a que chegamos no ensino. Talvez seja injusto com eles e por isso gostaria que alguém mo demonstrasse.

    Quanto ao domínio do português pelo DJ, ser indicador da competência...fico com as minhas dúvidas.

    Concordo que mais importante que o discurso, é a acção e capacidade para a empreender- mas apenas se o discurso for compatível. PAra andar a fazer asneiras, parece-me que já chegam os anos 70, 80 e 90...e os pedagogos de gabinete, com as soluções da área-escola; do professor tutor e da maior interferência da comunidade no sistema de ensino. Isso, para além da excelente lei de bases do ensino que tínhamos ( e continuamos a ter, por obra de Sua Excelência).
    Os anos passam e tudo se arrasta penosamente. Desde o 25 de Abril que ouço o discurso repetitivo de que o mais importante para o desenvolvimento de um povo, é a educação. E será!
    Então porque não tem sido? Por mim, por causa daqueles génios que nomeei e mais uns quantos.
    Mas reconheço que posso estar enganado. Enquanto não for convencido do contrário continuarei a malhar em ferro frio.
    Anónimo said...
    100 anos é, como seria evidente para quem se tivesse formado antes da fornada de pedagogos ter invadido as escolas e a administração escolar, uma metáfora.
    "...depois de ouvir o DJ ao vivo, a falar sobre aquilo que queria fazer na Educação em Portugal, fiquei convencido de que era exactamente aquilo que seria preciso fazer....". Pois, este foi o problema: DJ apropriou-se de um discurso, no essencial correcto, mas que nunca verdadeiramente compreendeu e que, na prática, corrompeu ao instrumentalizá-lo politicamente para disfarçar a incompetência e a impreparação que marcaram o seu consulado. O pior que se pode fazer a uma boa causa é defendê-la intencionalmente com as piores razões. Foi o que fez DJ e é por isso que foi um dos piores ministros da educação que Portugal já teve.
    zazie said...
    O pior que se pode fazer a uma boa causa é defendê-la intencionalmente com as piores razões de acordo, isso é o pior que se pode fazer. Como também só conheço o blá, blá que tal o Anónimo adiantar razões para não repetir o "erro" do ex-ministro"?
    josé said...
    Pos bem, caro anónimo: acaba de subir a parada! A partir daqui, até as vírgulas contam! E quem diz vírgulas, diz pontuação; e quem refina a exigência - e muito bem!- está a pedir que lhe apontem as falhas, por mínimas que sejam!
    Se reparar, os tais pedagogos que execra, tal como a mim me apetece fazer, sem para tal estar apetrechado, pois até para isso é preciso ter competência, formaram-se todos "in illo tempore". Nessa época remota, nos anos sessenta, em que o ensino universitário, supostamente, funcionava melhor do que hoje, quem marcava o compasso? O pai do Eduardino, o que escreve crónicas semióticas no Público?
    Quem formou os formadores que temos?!
    Onde é que se alimentam as raízes da árvore do mal?
    Você conhece-as, estimado anónimo?

    Muito gostaria, também, de ter essa sabedoria. Como não tenho, às vezes, dou por mim a pensar: "se não sabes, porque é que perguntas?"
    Anónimo said...
    Discutiria com gosto as raízes do problema, mas se há domínio em que os diagnósticos estão feitos, e são consensuais, é o da educação. Apenas acrescentarei que está a terminar a semivida da geração de pedagogos para a qual uma dificuldade, seja numa equação, seja numa regra de gramática, é sempre uma injustiça. Espero que, numa espécie de epifania colectiva, se perceba, finalmente, que o operador fundamental da transmissão do conhecimento é o professor(mestre, em homenagem à GLQL) e não o aluno. (O anónimo não é professor, mas muito deve aos seus professores.)
    josé said...
    "...uma dificuldade, seja numa equação, seja numa regra de gramática, é sempre uma injustiça."

    Quem plantou esta árvore? Qual o adubo que lhe puseram? Quem o comercializa?

    Os frutos não prestam e parafraseando o COmpêndio, " a árvore, conhece-se pelos seus frutos".

    Falou em metáforas? Pois aí as tem- e em barda!
    Sem grandes hipérboles...
    Anónimo said...
    Bem, caro José, em jeito de despedida: a solução não está em encontrar os culpados, coisa mais para detectives, mas em relembrar o conselho do velho e sábio Arquimedes, e mudar apenas o que faz mudar tudo o mais. Um dos problemas de DJ foi pensar, à semelhança de muitos dos seus antecessores, que se pode mudar um sistema alterando aqui e acolá, em vez de identificar o(s) princípio(s) regulador(es). Se tivessem lido e compreendido Kant não caíriam nessa ilusão positivista... O mais que conseguiram, como está à vista de todos, foi aumentar a entropia. Em todo o caso poderá já estar em curso uma alteração, essa sim, com potencial para introduzir efeitos sistémicos de sinal positivo: refiro-me à integração no sistema de ensino português dos filhos dos imigrantes do Leste europeu. Até à próxima.
    josé said...
    Fico-lhe agradecido e com pena que se retire tão cedo da tertúlia.

    Volte sempre que discutir com quem sabe algo mais do que nós, é sempre um prazer. Neste caso, meu.
    Anónimo said...
    Obrigado. Voltarei.
    Relativamente a DJ apenas uma última referência: já teve a sua oportunidade e falhou; não é um bom augúrio para o Requiem que diz ter a intenção de escrever.
    O comentário permanece anónimo para me manter fiel a esta forma de onanismo virtual que é a blogosfera.
    zazie said...
    é pena que não enuncie factos, Anónimo. Porque não conheço o ministério da educação mas uma coisa lhe garanto, os pedagogos não apresentam o menor sintoma de extinção. Bem pelo contrário, nunca houve tantos e tão encartados. E depois não se esqueça que lá dentro são vitalícios.
    Rui MCB said...
    Havemos de ter outras ocasiões de retomar a conversa. A última anotação sobre os filhos dos emigrantes de leste merece ser seguida. Esperemos que não haja uma rápida e indesejável aculturação e, de qualquer forma, é preciso recordar que o móbil é o professor.
    Cumprimentos a todos!
    zazie said...
    porque é que não há-de haver um rápida aculturação dos emigrantes de leste?
    essa agora... se não houver é que é mau. Ficam marginalizados. Qualquer emigrante precisa de se integrar para não ficar desenraizado. É assim mesmo. Nunca entendi essa folclórica ideia de anti-aculturação...
    zazie said...
    aliás, pelo pouco que sei eles não só se integram bem como fazem subir o nível de exigência do ensino.
    Rui MCB said...
    Ó Zazie, não me expliquei bem. Se a aculturação for muito eficaz eles deixam de "puxar" pelo ensino com os hábitos escolares paradigmáticos que trazem. Era só nesse sentido que lhes desejava "insucesso". Por outras, era bom que nós integrassemos os hábitos escolares deles e não o contrário. Quanto ao resto, por quem me toma! :-)
    zazie said...
    ahahah, era bom era... só ser for por brio deles e das próprias famílias. Eu gosto sempre de obsdervar estas coisas porque, por muito que se diga que não há características de povos, a verdade é qeu ela existe. Eles são bons a matemática, têm mais formação do que nós e uma tradição musical de meter inveja a qualquer um. Essa é que é essa... e a nível mais alto vais ver como também estamos tramados a nível de investigação lá fora... não tarda nada e a concorrência vai ser tremenda. É o Norte meu caro, o velho Norte da Europa a mostrar de novo a sua garra...
    Quanto à aculturação lembrei-me que também é um folclore muito ao gosto de pedagogos. Por acaso até conheci uma pedagoga com tese de mestrado em "multiculturalismo cigano" e as ideias que transmitia nas aulas eram de se ficar de cabelos em pé...
    O poliicamente corecto serve para tudo. Neste caso servia para se fabricar um ensino em guethos em nome da "prevalência das raízes". E olha que a brincar a brincar, é o que se faz com a dita área escola.

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