Todas as dúvidas sobre um partido aberto ao exterior

(actualizado)


Que fique claro que não me tenho como especialista em análise política, nem como um tipo particularmente "batido" nestas andanças - o que não sei ainda se é uma desvantagem de peso... Um pedacito ingénuo? Sem dúvida! Mas prefiro correr eu o risco do ridículo a deixar-me ridicularizar-me pelos rostos que se me oferecem. Dito isto, lá vai prosa.

Sócrates falou de abertura, renovação. Há que abrir o partido à sociedade civil...

Hoje deu argumentos fáceis aos seus opositores recusando-se tornar públicos os três debates que se alinhavavam entre os três candidatos a secretário-geral do PS. Porque são assuntos internos do partido. Se quer saber mais faça-se militante? Se calhar é marketing do melhor e eu não dei por nada.

Debates só para militante ver, para todos estarem "à vontade" sem jornalista por perto.

Mas será que o PS não é capaz de nos oferecer um candidato (ou um trio) que seja capaz de manter a dignidade e a fidelidade às suas ideias e a sua capacidade de frontalidade se houver um gravador, uma câmara, uma caneta e um caderno nas redondezas? Talvez seja capaz, mas talvez não seja Sócrates, talvez não seja o candidato do "socialismo moderno".

Parecia-me evidente que estas eleições eram determinantes e singulares para o PS por se terem criado as condições ideais de se mostrar ao país como um valor intrínseco da nossa democracia. A pressão do calendário é mínima, estamos ainda a dois anos das legislativas, afastou-se o fantasma Casa Pia, há real mobilização em torno de orientações políticas supostamente distintas. Poder-se-iam esgrimir argumentos, apresentando o partido, no seu conjunto, lições ao país sobre como fazer boa política pelo confronto de ideias, com elevação e com um fim claro - o interesse nacional. Um passo no caminho da recuperação da política, sonhava eu...

Hoje devemos perguntar - que bois tem Sócrates medo de nomear publicamente?

Será mais interessante que se saiba dos debates pelo crivo dos tradicionais informadores da imprensa?

Será melhor que não se saiba do debate? Que não se perceba alguma suspeita vacuidade de ideias?

Junto a isto o desígnio para Portugal do "choque tecnológico"- no artigo de hoje no Público -, sem uma réstia de fulgor e completamente solitário, sem qualquer outra referência ao "resto" que interessa ao país e à sua gestão corrente e fico-me a olhar para ontem e para amanhã.

Se José Sócrates lêsse esta crítica preocupar-se-ia em tentar perceber o conteúdo ou a ausência dele que vai começando a deixar patente ou preocupar-se-ia em arranjar novo auxiliar na escrita de discursos?

Será que ainda há tempo?

Serei eu incapaz de me empolgar, de me alinhar com um político de referência de entre os que se "me oferecem"? Terei a minha fasquia demasiado elevada? Cada vez menos me imagino a fazer a apologia de Sócrates, isso é certo.

Todos sabiamos que a imprensa, parte dela, faria da disputa pelo cargo de SG (Secretário-Geral) no PS um potencial campo para novelas mas, até ao momento, as tristes imagens que temos estão longe de resultar da fabricação mediática. E nisso todos metem a sua colher. Estas eleições ameaçam fazer-nos lembrar os piores momentos da JS e, aquilo que adivinhava como uma oportunidade, poderá demorar a sê-lo de facto.

Será a eleição uma rampa de lançamento ou um evento que promoverá um colossal momento de limitação de avarias, operações plásticas e afins?

Hoje, perante a recusa da publicitação dos debates e perante o conexo papel de vencedor antecipado que só tem a perder com um eventual mau debate, Sócrates diz-nos que apenas o espectáculo da consagração em congresso lhe interessa desta campanha (uma vitória menos que expressiva será sempre mais complicada de gerir caso fiquem claras publicamente as eventuais distinções programáticas).

O resto é trabalho de formiga junto das bases, dirá. Quando vai vingando a imagem de uma certa cigarra perece-me uma péssima jogada. Ou andará meio partido desconhecedor de uma sua potencial reserva mental que teria de expôr num debate público perdendo com isso apoios? Muito provavelment nem isso, infelizmente. What you see is what you get.

O espírito da eleição directa do SG seria o de anular os já raros momentos de confrotação pública em congresso mediatizado, substituindo-o pelo debate exclusivo nas capelinhas?

É claro que os militantes têm todo o direito e todas as possibilidades de discutir à porta fechada, à porta entre-aberta, sem porta, debaixo de água, em chinês. Agora imagine-se Kerry, Edwards e Dean a debaterem à porta fechada num pavilhão desportivo no Illinois...

Quem fala em reformas, em renovação, em abertura e se apresenta com o aparelho em peso em seu apoio tem um anátema. Repito, Sócrates vai apresentar-se como SG sem que eu lhe saiba mais do que o "choque" tecnológico que hoje advogou nas páginas do Público ou a triste entrevista ao Expresso?

É curioso ver Santana e Sócrates com dificuldades de adaptação aos seus novos papéis. Santana não me surpreende, de Sócrates esperava mais...

Depois desta tirada de debate com assistência condicionada, Santana Lopes vai poder dar-se ao luxo de fazer campanha pelo PSD sem ter de debater com Sócrates. Só o fará se se quiser divertir ou mostrar credênciais de superioridade democrática. Lopes o magnânimo, oportunista mas magnânimo, Sócrates o...

Eu vou ali para o meu deserto imaginário e já venho. Saltou-me a tampa!

Desculpem qualquer coisinha.

A menina dança?
Só se for com o Santana Lopes.
Sinatra fades in...


Publicado por Rui MCB 22:04:00  

3 Comments:

  1. Zu said...
    Parabéns, Rui. Gostei. Muito. Aliás, já gostava de te ler no Adufe; os Veneráveis Irmãos da Loja fizeram uma belíssima contratação.
    Luís Bonifácio said...
    "Sistema Nacional de Qualificação e Inovação"
    "superar os bloqueios na aprendizagem do português e da matemática"
    "reforçar e reorientar os programas de formação profissional"
    "programa de informatização acelerada do País"
    "apoiar a internacionalização dos grupos portugueses"
    "apoio a centros de excelência"

    De boas intenções está o inferno cheio.

    De chavões, ideias feitas e medidas que muitos preconizam e alguns tentaram implementar, mas que deram em nada, está Sócrates cheio
    Anónimo said...
    João Soares é uma triste anedota, Manuel Alegre não merecia isto e José Sócrates deveria ser o candidato que eu quereria ver a concorrer a primeri ministro.Não consigo vibrar com os vosso elogios mas de qualquer forma obrigado. Entretanto parece que reconsiderou e já vai a debates. Não havia necessidade de se desgastar, de se sujeitar a ouvir o que os adversários dele dsseram ou o que eu e outros pensaram ou escreveram. Vai a votos com o balão mais vazio e com mais gente a olha-lo de meio fio, como eu. Entretanto, adivinhem quem ganha com tudo isto? Ou pior quem perde?

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