"reality shock" ou "reality check"...

Alguns dos nossos leitores andam descontentes, tem saúdades do tempo em que as coisas eram claras, axiomáticas, inequivocas e transparentes, eu não me lembro desse tempo, duvido aliás que alguma vez tenha existido.

Quem vem aqui à procura de respostas simples, fast-food, verdades absolutas e incortonáveis que se desengane porque não enc0ntrará disso por aqui. E não encontra porque não as temos, porque elas não existem. Faremos sempre mais perguntas que respostas, teremos sempre mais dúvidas que certezas, porque sabemos que o mundo e a realidade são complexos e multifacetados.

Nós não fugimos à realidade, não a pintamos a preto e branco, não a simplificamos ou estetizamos porque mesmo quando esta não é a cores há muitos niveis de cinzento, e sobretudo não a escondemos. Ela existe, está aí, goste-se ou não. No antigamente não havia nem droga nem prostituição muito menos corrupção, o Ballet Rose mal aconteceu, não se falava logo não existia. Não acreditamos em pactos de regime ou em grandes blocos centrais que definam o que é e o que não é...

Não se trata de pessimismo nem de derrotismo, só se pode consertar o que se sabe que está mal, só se é credível dizendo ironicamente aquilo que as pessoas se calhar não querem e não gostam de ouvir...

Aqui falamos, projectamos sombras numa parede virtual, sombras de um mundo que existe. Não é por não se falar nela que a intriga não existe, não é por não se falar no mal que este desaparece magicamente. Não acreditamos que o mundo seja um conto de fadas e não o pintamos como tal, porque o mundo não o é.

Nos comentários, e noutras paróquias, há quem veja uma contradição entre o que escrevi sobre o processo de demissão de Adelino Salvado e a minha linha de pensamento habitual. Que fique claro, não há rigorosamente qualquer contradição.

O que sucedeu com Adelino Salvado faz lembrar muito da história do Watergate, tal como Nixon o único crime porque Adelino Salvado foi "punido" foi ter sido "apanhado".

"Apenas" apanhado, e tal é um não julgamento amoral e irresponsável que paradoxalmente branqueia todos os seus actos. Adelino Salvado foi parar ao mesmo saco que Fátima Felgueiras, a mentora do único saco azul autárquico do país (cadê os outros ? não os há?) , foi apanhado e subitamente passou à categoria de descartável, para que tudo continue na mesma.

Quanto ao resto mesmo depois da "elegante" carta de despedida dele mandada por fax da PJ para tudo quanto é redação até lhe agradeceram os notáveis serviços em prime-time. Eu não critico a queda do Salvado per se nem tenho pena dela, choca-me é a gratuitidade e inconsequência substantiva da mesma, isso mais a alegria de quem se sente meramente vingado. Salvado não pode, não deveria digo, ser mais uma árvore que serve para esconder a floresta.

Não "gostando" do Salvado tenho princípios, e por via disso independentemente do que o Salvado tenha feito a terceiros por princípio civilizacional não é correcto - penso eu - fazer-lhe, como fizeram, rigorosamente o mesmo qjue ele fez a outros, e o que lhe fizeram, a forma como foi literalmente enxotado, não se faz a um cão - por princípio...

... mas se calhar só contam mesmo os fins, os resultados, a aparência, a tal eficácia.

P.S. Há quem se queixe da ambiguidade eventualmente latente em algumas crónicas minhas mas alguém é capaz de explicar objectiva e factualmente todo o processo que levou à demissão de Salvado? Querem algo mais ambíguo que uma demissão por causa de umas cassetes que quase ninguém ouviu, de facto trabalhadas porque apenas com sons selecionados, que ninguém em sede própria validou ou apreciou ? Alguém acredita que Salvado se demitiu por pesos na consciência ? A única mostra de sensatez até agora foi o lacónico comunicado exarado da PGR, comunicado esse por uma vez consciso, claro e objectivo. O País, meus caros, e os factos são estes e não outros. Lamento.


Publicado por Manuel 05:54:00  

1 Comment:

  1. Anónimo said...
    Em "A Capital" lá está chapadinha a GLQL como "virulento blog".

Post a Comment