Notas de Surrealismo
quarta-feira, agosto 11, 2004
José Manuel Fernandes escreve hoje em editorial do Público que a nota à imprensa da PGR é um documento surrealista. Como também o era o comunicado da demissão de Adelino Salvado. Sobre este, não vou escrever. Poupo alguns adjectivos desagradáveis e amplio o espaço para este postal.
Quanto ao teor surrealista do comunicado da PGR, na desassombrada classificação do director do Público, confesso perplexidade e surpresa no uso do termo. Por isso fui reler o documento que aliás é curto e vem assinado pelo “Gabinete de Imprensa”. Ou seja, não é do Procurador Geral da República, Souto Moura, como a Procuradoria Geral da República não é apenas Souto Moura.
Basta uma breve visita ao site da PGR para o perceber. Contudo, José Manuel Fernandes, cola o PGR ao Gabinete de Imprensa da PGR para que o PGR fique colado ao surrealismo do comunicado.
Na leitura do primeiro parágrafo, atenta-se no seguinte...
Vieram a lume, recentemente, notícias relativas a gravações de conversas telefónicas mantidas entre um senhor jornalista e várias entidades a propósito da investigação do processo denominado “Casa Pia".
É um facto tão notório que o surrealismo do parágrafo só poderia advir para quem tomasse LSD e estivesse em transe. Não sendo o caso do director do Público que nem tem ar de quem ouve constantemente a Lucy in the Sky with diamonds, vem daí a perplexidade. Vamos aos seguintes...
Tendo tais gravações sido realizadas à completa revelia de vários interlocutores daquele senhor jornalista estar-se-á perante um comportamento deontologicamente censurável e juridicamente ilícito que não pode deixar de ter repercussões no futuro sobre o trabalho de outros profissionais da comunicação social, dificultando-o.
À luz de jurisprudência que acabou por vingar num caso com contornos semelhantes ao presente e que teve enorme repercussão pública, o suposto material das gravações em causa poderá revelar-se inócuo como prova de crimes que possam ter sido cometidos com as conversas que hajam sido gravadas ilicitamente.
Não obstante, tal não impede que a partir do processo que sobre o assunto pende no DIAP de Lisboa, desde o dia 6 de Agosto de 2004, venham a investigar-se todos os comportamentos relacionados com o caso que tenham relevância penal, daí se retirando as devidas consequências.
Lisboa, 9 de Agosto de 2004
O Gabinete de Imprensa
A qual dos parágrafos se dirigirá a metáfora artística? A medo e aos passinhos, sumariamente e com muitas dúvidas, julga-se que só pode ser ao segundo.
Aí se classifica a já consabida gravação como tendo sido feita à revelia de alguns intervenientes, porque alguns já o afirmaram publicamente, como é o caso de Maria José Morgado. Residirá pois, aí, a alma mater do alegado surrealismo. José Manuel Fernandes terá visto neste anátema, um desaforo. Surrealista, claro. E, de certo modo, entende-se.
Há tempos, o Público deu à estampa, a preço módico e em livrito compacto, a obra completa do genial pintor espanhol Salvador Dali. JMF deve ter contemplado uma dessas pinturas do Dali mais recente; talvez uma em que figura uma língua de trapo e vai daí, escreveu no editorial de ontem, do Público que o comportamento do colega, jornalista do Correio da Manhã, era o de violador de normas legais e éticas, reguladoras da profissão.
Como se pode verificar, sendo JMF um representante lídimo de um órgão de soberania, cabe-lhe todo o direito de julgar já, sumariamente, o colega na praça pública do seu editorial, vituperando-o desabridamente. E também assim se compreende a menção ao surrealismo de quem ainda ontem, escrevia o mesmo que hoje não admite no comunicado do Gabinete de Imprensa da PGR.
O terceiro parágrafo não foi concerteza alvo da original figura de estilo. JMF saberá também com toda a certeza, o que significa e nem sequer a visão apocalíptica do mundo ao contrário, do genial pintor, o distrairia da noção exacta daquilo que se passou no caso Fernando Negrão vs Cunha Rodrigues e do processo que aquele apanhou por violação de segredo de justiça - a prova do crime não pôde ser usada, porque era uma gravação de uma conversa telefónica que aquele mantivera com um jornalista do Diário de Notícias!
Assim, a informação final do Gabinete da PGR a dizer que já existe um processo sobre o assunto, desde o dia 6.8.2004 e será aí que o caso deverá ser investigado, não conta para esta ponderação.
O que conta é a conclusão do director do Público - O Procurador Geral da República, Souto Moura já devia estar também, fora do lugar! E porquê?! Ora! Já perdeu a confiança do... País! Ora tomem lá que de avaliação do sentimento do país, percebe o José Manuel Fernandes do Público! Nem se percebe como é que não está em qualquer Conselho de Estado ou em assessoria permanete ao Conselho de Ministros ou na A.R. Tanto talento desperdiçado. Ou talvez não, porque o que vem a seguir, faz desconfiar que JMF foi ouvido ou foi informado particularmente da reunião que o Primeiro-Ministro manteve com PGR e o ministro da Justiça!
Só assim se compreende que tenha escrito no editorial de hoje...
Chamado ontem a São Bento ouviu o primeiro-ministro dizer-lhe que caso das “cassettes roubadas” não é para ir investigando, dando um passo à frente para logo dar dois atrás, como se depreende do texto da Procuradoria: é para apurar responsabilidades e tirar consequências.
Também acho, porra! E recomendado pelo José Manuel Fernandes do Público ainda acho mais!
O crime do “roubo das cassetes”, é gravíssimo! Ainda não se sabem pormenores do furto, mas na pior das hipóteses, as poucas dezenas de cassettes furtadas poderão tê-lo sido de uma gaveta fechada. Nesse caso, o artigo 204º nº1 al. e) do Cód. Penal, permite que o furto seja qualificado pelo que é punido com pena de prisão até cinco anos ou com pena de multa . Tal qual o furto de um auto-rádio do interior de um carro fechado. Gravíssimo como se está a ver...
Por isso, é que a PJ e todas as forças policiais andam como gato em cima de bofe à procura dos autores de tais ignomínias contra a sociedade e a propriedade privada. A taxa de sucesso destas investigações, como todos sabem, é elevadíssima e a população em geral sabe que pode contar com as forças policiais para lhe ser devolvido o objecto furtado em tais circunstâncias. Aliás, foi por isso que o director da PJ, Adelino Salvado, viu recentemente assaltada a sua própria casa e disse para quem o quis ouvir que “era uma coisa normalíssima”.
Não se sabe ainda, mas é evidente que os assaltantes se não foram estão já em vias de ser apanhados. Tal como vai acontecer com os autores do “roubo das cassetes”! Disso, já está certo o JMF , porque o primeiro-ministro já avisou o PGR que não admite recuos, com dança dos passinhos para entreter.
Aliás, como o José Manuel Fernandes do Público muito bem sabe, o Primeiro Ministro tem toda a competência legal e constitucional para exigir resultados rápidos, e sem andar a fazer que faz, ao PGR. O José Manuel Fernandes conhece muito bem o Estatuto do MP e por isso sabe que o Primeiro Ministro, sempre que lhe apetece, manda vir o PGR e passa-lhe o raspanete da ordem, se ele merecer! Ora essa! Precisamente porque o JMF conhece muito bem os estatutos e as orgânicas dos vários poderes, é que ele escreve editoriais e vai à TV dizer umas coisas! Ou não será assim?
Por mim, acho que o JMF, ontem, ao escrever o editorial, se não estava a ver o Dali, devia estar certamente entretido a folhear o Manifesto Surrealista de André Breton. Ou então, a consultar esta página...
Publicado por josé 17:46:00
E agora em Portugal está com uma "Tusa" tão grande que não consegue enxergar direito?
Estive fora e quando voltei isto está pior: Santana propõe um pacto de regime sobre a justiça; querem demitir o procurador-geral, apesar deste não aparecer nas cassetes. Velhacos de velhos e de asco!
E Santana deixa-se ir alegremente na pouca-vergonha dos suspeitos de pedofilia e dos amigos que estão de turno a chuchar...
Se isto nao é surreal vou ali e já venho!
cris