"somos assim..."
quinta-feira, julho 01, 2004
De um "cidadão eleitor", devidamente identificado, aqui fica o seguinte postal...
Estamos hoje muito unidos pela ansiedade do futebol, pela alegria do futebol, pelo êxito do futebol, pelo deslumbramento de Ronaldo e Figo. O país floresce e, aparentemente, saiu da depressão, lançando o Prozac a montes para o caixote do lixo, ou entregando-o na farmácia mais próxima para reciclagem.
Segunda-feira próxima, entraremos na real. Com ou sem festa. Terra por governar, barco à deriva no Tejo ou no Douro, à espera de novos medíocres que continuarão a desgovernação em que estamos há anos.
Portugal é assim.
Os que nos desorientam, ao invés de liderarem, em todos os sectores, não se lhes conhece uma ideia, gerem por slogans, tipo Yupi, fazem obra na televisão, arranjam a "res publica" em manobras palacianas, colocam as pedras do xadrez do poder devidamente arrumadas, distribuindo-as pelos amigos, ou conforme interesses conjunturais. Trata-se sobretudo de garantir fidelidade, nunca de garantir competência, idoneidade, ética.
É assim na política.
É assim em muitos outros lados que rondam a política e o poder.
Não se procura a pessoa certa, mas "certa" pessoa, a que dá fiança, a que o amigo do amigo recomendou, a que tem ligações partidárias, a que tem "cunhas". Não se procura sobretudo a que tem ideias. É perigosa...
Não se procura o competente com independência e isenção que deveria caracterizar toda a administração pública. Não se vê nesta uma forma de prestar serviço ao cidadão, antes uma fonte de repressão, um modo de complicar a vida do cidadão, um modo de concertar um "trabalhinho" para o "fiel", o apaniguado do partido, da agremiação, do clube de futebol, da missa e sermão dominical.
Há um virus generalizado - a podridão ética, o pântano moral em que nos meteram e em que nos querem mergulhar. Afundar.
Somos assim
Com mais um desgoverno que aí vem, eleito em despacho de secretaria, é mais uma machadada na nossa já débil democracia. Depois, queixem-se.
O défice, o equilíbrio das contas públicas, o desemprego, a reforma da administração pública passarão a velharias do passado servidas em mesas sem toalha e que subjugaram o povo durante anos de doirada governação barrosista.
O casino de Lisboa, o Parque Mayer, o túnel das Amoreiras e outras tantas obras públicas construídas de arquitectura soberba e virtual na televisão, num golpe de cartola, vão reluzir à luz do dia e o povo, grato que é, fará manifs em tudo quanto é canto e esquina.
A Constituição, madrasta que é, mais tarde ou mais cedo, vai responder às necessidades reais do país. Endireitar-se nos direitos e garantias a mais que lá tem, corporizar-se nos deveres a menos que articula.
A Comunicação Social, sob as mais variadas formas, vai resplandecer, dando voz sistemática aos novos senhores e silenciando, por falta de espaço (nova forma de censura) quem cogite de modo diverso. Toda a intenção autoritária começa aí - restringe os direitos, alarga os deveres, tutela o pensamento, silencia a dialéctica da crítica e sua antítese.
Passados alguns meses ou até anos,seremos de novo chamados - "...às urnas..." que será, na conjuntura, uma forma actual de chamar o povo "às armas". Já encharcado de demagogias, já mole de espírito crítico, já esquecido do defice, do desemprego de que ainda padece, o votante servirá de bandeja aos novos monarcas travestidos de democratas de repartição de finanças,a legitimidade do voto para, uma vez mais, nos desgovernarem como lhes apetece, servindo as habituais clientelas.
Somos assim
"Cidadão Eleitor"
Publicado por josé 19:15:00
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