Os novos Vencidos da Vida
quinta-feira, julho 22, 2004
No final do sec. XIX, as grandes obras públicas do Fontismo e a Regeneração, segundo alguns autores, evidenciaram uma crise económica no país que tinha reflexo na degradação da política e agravava a corrupção tornada endémica.
Perante um panorama de negrume sem luz à vista, alguns escritores e fidalgos portugueses e de fibra, reuniram e congregaram indignações em Conferências de Casinos e acabaram por formar um grupo de Vencidos da Vida - Antero de Quental, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins, alguns condes e um outro marquês.
O grupo reunia-se semanalmente onde calhava, geralmente em redor de repastos e aí destilavam a amargura de um país entregeu aos cães.
Não tinham grandes respostas. Basta dizer que Eça de Queirós até propunha o Rei como salvação para a decadência.
Não foi por essa via que os intelectais vencidos da vida, nos salvaram um património inestimável.
Foi por aquilo que escreveram, em ficção e em crónicas de costumes.
Quem temos nós, actualmente, para formar um grupo de “Vencidos da Vida” ?
Quem nos dará a moral que precisamos para aguentar ideais e não sermos arastados pela maré?
Tal como o Romeiro: “Ninguém”!
Deixemos por isso a maré passar que outras ondas virão.
Publicado por josé 19:55:00
Até deixo aqui uma proposta: Podíamos formar uma tertúlia que baptizaríamos de "Lixados da Vida".Ãh? Que me dizem?...Rica ideia, não?...
Ninguém.
in Frei Luis de Sousa
Mas nós não podemos estar à espera que venha deus para nos salvar (és sempre bem vindo) e o diabo para nos destroçar (enquanto não apareceres está tudo bem).
Triste sina a nossa. Eu ficaria suficientemente feliz por ter pessoas capazes e honestas nas funções de governo da sociedade Portuguesa.
Hoje quase sempre é como ser alumiado por sombras.
Mas o caro José anda demasiado negativista... Com maior ou menor talento (literário ou outro) os Vencidos da Vida de hoje andam, por exemplo, pelos blogs, que são o sucedâneo actual das "Farpas". E o romeiro José teria certamente uma vida mais pacata, cómoda e isenta de riscos se não se desse ao trabalho de andar por cá. Quanto às conferências e repastos, tudo se arranja...
Com maior ou menor brilho, com maior ou menor massa crítica, todas as épocas têm os seus Vencidos da Vida. "Há sempre alguém que diz não..."; por isso é que certos valores ainda encontram romeiros que os transportem, não obstante a "mercearia" vencedora que vai campeando.
Tenham um bom dia!
Porém, o que queria acrescentar era algo sobre os Vencidos e sobre o Romeiro, mito sebastiânico por excelência. O texto é apenas uma provocação ao pensamento correcto, ligando alguns dos nossos valores culturais mais perenes a uma ideia recorrente no panorama político.
Parece-me que é daquele mito que advém a ideia de que um governante deveria ser um super qualquer coisa. Real ou mitificado. O Mário Soares é um super mitificado. Tal como o fora Sá Carneiro e o Cavaco também chegou a ser. Até o Barroso é agora falado como um político para levar com a seriedade toda que lhe é emprestada pelo cargo que ocupa.
Para ver a suprema densidade do político Mário Soares, basta reparar que agora deu em apoiante desse expoente máximo do iluminismo que é o filho, autor de um blog em que a pobreza de ideias se espraiava por uma areal mais extenso do que a praia de Pipa, no Brasil.
Estou farto destas luminárias que nada mais pretendem de substancial do que viver acautelando-se a eles mesmos e aos seus e de caminho proclamar que o fazem para bem da pátria e dos vindouros.
Daí que não me assuste o que virá a seguir a este governo cujos ministros me parecem exactamente iguais aos anteriores. Quando me lembro que o Maldonaldo GOnelha foi ministro da Saúde, nomeado por Mário Soares...
Sintetizando:
Não há salvação fora da cultura, do conhecimento. E nesse aspecto, temos sempre os velhinhos que souberam escrever sobre a sociedade e as pessoas que a compõem, como ninguém. Os Vencidos de ontem, podem ser os mesmos de hoje, porque os problemas são idênticos: culturais. Não se muda uma cultura em cinco anos. A economia, porém, pode mudar.
E é essa a diferença e uma das coisas que nos deve preocupar.
O demais parece-me retórica. E Farpas actualizadas.
É preciso não esquecer que o Ramalho das ditas acabou a sua vida literária a escrever sobre Praias de Portugal!
O António José Saraiva, aliás, chamava-lhe e também ao Eça, "turistas nos domínios do pensamento, estilistas à procura de temas, demasiadamente sensíveis á cozinha tradicional ou às doçuras da vida mundana." ( Para a História da CUltura em Portugal, Público, 1996)
O mesmo é dizer: diletantes! Comme moi.
e é isso mesmo: "Não há salvação fora da cultura, do conhecimento"
Essa frase "Não há salvação fora da cultura, do conhecimento" tem, para mim, o significado profundo de me remeter ao meu papel individual na alteração da sociedade em que vivo, ou, pelo menos, daquela parte que me diz mais directamente respeito. É muito mais prático preocupar-me apenas com os meus interesses, olhar para o meu umbigo. Infelizmente (esta palavra, neste contexto, diz muito mais do que eu teria arte para dizer num texto muito mais longo), não sou capaz. Ando à procura da "medalha de cortiça", como se diz em contextos de ensino básico e secundário. Daí que aprecie o tom desiludido, mas nunca desistente, que perpassa por aqui, tanto nas entradas ("posts") como em muitos comentários. Será isto a nova versão das "Farpas"? A versão electrónica de uma tertúlia alargada? Ou (para puxar a brasa à minha sardinha) uma Universidade da Vida virtual?
A frase sobre o conhecimento é apenas isso: uma frase.
A salvação a que me refiro, é a melhoria das condições de vida individual e colectiva. PAra mim, passa por aí, pelo saber individual, com reflexo colectivo. Só dessa forma deixaremos de ser um país com três diários desportivos que vendem mais do que os outros jornais.
E também por isso também, os outros jornais têm tantos medíocres a expender opiniões travestidas de notícias e sem interesse algum que não seja o de nos mostrar a extraordinária proliferação de Dâmasos Salcedes que se apelidam Delgado e assim.
Mas tal não será garantidamente a receita. Basta ver que nos países "nascentes" do leste, o nível cultural, de conhecimento sobre literatura, arte, técnica etc. parece ser muito mais elevado do que aqui e porém, há emigração desses lados, para cá.
A economia deles, ainda não é como a nossa, apesar de toda a cultura de que generalizadamente dispôem.
Será a cultura, apenas um divertimento sem consequências? COnhecer Rodin será preferível a saber entalhar imagens do barroco e recompô-las?
Não sei responder.
Quanto às Farpas, estou com vontade de as reler.