O novo boletim da paróquia...
terça-feira, julho 13, 2004
O semanário Expresso, está convertido em boletim de uma qualquer paróquia. Hoje qualquer um desde que tenha um nome a preservar ou tem um negócio de sucesso, escreve no Expresso. Se nalguns casos registam-se pontos de vista interessantes, noutros e sobretudo quando começam a escrever sobre aquilo que não dominam então o chorilho de asneiras, surge como que se estivesse em plena caverna de Platão e alegoria fosse o papel-jornal tamanho A3 do aludido Expresso.
O último caso remonta, ao artigo publicado na edição deste fim de semana por Miguel Monteiro (Sócio-Gerente da empresa CHIP 7), intitulado "O novo imposto Multibanco"“, na página 22 do caderno de Economia.
O assunto é interessante, a temática actual, numa altura que as instituições financeiras se debatem com problemas relacionados com a baixa margem financeira obtida, medido basicamente entre o diferencial entre as taxas de crédito concedido e as taxas aplicadas nos recursos captados. Os bancos tem necessidade de se virarem para as “famosas” comissões, que muitas vezes nos deixam a todos atordoados dada a sua complexidade e pouca exiquibilidade. Mas a verdade é que quer a aplicação de comissões encontra-se regulamentada pelo Banco de Portugal – que nesta matéria concede alguma liberdade, a bem do sistema bancário , quer o facto de as mesmas serem do conhecimento do público atráves do chamado preçario.
Miguel Monteiro, parece que aqui defender causa própria, ele , sócio-gerente de uma empresa que certamente recebe inúmeros pagamentos por multibanco, e que à luz da nova vê baixar o seu lucro.
Aquilo que Miguel Monteiro nos diz é a pura realidade do empresariado tradicional português. Mas em primeiro lugar não é a SIBS que decide qual o preçario a aplicar mas sim os bancos como entidades emitentes dos cartões. A SIBS paga efectivamente uma comissão aos comerciantes e outra aos bancos pelo uso do serviço. E qual é o problema ? Não é este sinal de garante da liberdade de um sistema ? Ninguém é obrigado a pagar e a aceitar pagamentos com cartões, pelo que e desde que devidamente avisados os comerciantes só transaccionam com cartões se bem o entenderem. Em segundo lugar e uma vez que Portugal é o país da União Europeia onde mais se paga com cartões, a aplicação de uma taxa sem valor máximo limitativo, iria certamente reduzir o volume de transacções por cartão, aumentando o volume de acessos aos balcões dos bancos. Em terceiro lugar ele Miguel Monteiro, comerciante está implicitamente a dizer que para já ficará mais ou menos quieto, mas que depois irá repercutir nos clientes as alterações dos custos adicionais. Assumir isto como Miguel Monteiro, assume, não será nada mais nada menos que tudo aquilo que este acusa a SIBS e os Bancos de fazerem ?
Mas o que traz isto de novo ? Não é assim sempre que a gasolina sobe, quando a electricidade sobe . No caso dos computadores recordo-me de em 1990, um incêndio na fábrica de memórias RAM na China ter estrangulado o fornecimento das mesmas na Europa, e como resultado o preço disparou. Nada de novo.
Para além de dizer puras mundanices, Miguel Monteiro entre depois na teoria também constante do empresário português. Será legítimo segundo Miguel Monteiros, pensar que os bancos são hábeis em pagar menos impostos ? Se sim, não será para todos nós leitores, pensar que a mesma empresa que gere é hábil na forma como paga menos impostos. Afinal aquilo que os bancos fazem é aquilo que a lei permite, e como a lei é para todos, então é legítimo pensar que ele faz o mesmo. Caso contrário Miguel Monteiro coloca em causa a idoneidade de todas as instituições que fiscalizam a actividade bancária e empresarial. E sendo assim é igualmente legítimo pensar que ele, Miguel Monteiro, também continua a ser hábil na forma de pagar menos impostos.
Depois, caro Miguel Monteiro, certamente que estar demasiado tempo à frente dos computadores lhe roubará alguma lucidez, mas informo-o que os bancos não “pagam menos IRS”, mas sim menos IRC. Caso não saiba, os bancos são pessoas colectivas.
Admira-me por isso que o Expresso seja, cada vez mais, o boletim da paróquia, ainda que novos computadores do Expresso possam ter sido comprados numa qualquer loja de computadores CHIP7.
Publicado por António Duarte 00:20:00