Investimento - primeiro semestre ok, segundo?

Novos Hóteis, renovação dos velhos, investimento puro e duro nas empresas de Transportes, Armazenagem e Comunicações, mais uns pozinhos na Banca e Seguros, é este o cenário previsto neste momento para o ano de 2004*. Esperemos pelo segundo semestre.

2003 terá sido tão mau como 1993 em termos de variação de investimento.


Reforço nas intenções de investimento para 2004

Os resultados do Inquérito ao Investimento de Abril de 2004 revelam uma melhoria das intenções de investimento para 2004 face ao previsto no segundo semestre do ano passado. As estimativas apontam para que em 2004 ocorra um reforço do valor da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) empresarial de 5,6%, uma taxa que representa uma revisão positiva face aos resultados do Inquérito de Outubro/Janeiro de 2003 (1,4%). Quanto ao investimento realizado em 2003, verificou-se também uma revisão da respectiva taxa de variação, passando-se de -21,6%, taxa apurada ainda em 2003, para -11,1%, o resultado do presente inquérito (Abril/Julho de 2004).


* O sector da Energia, Água e Gás também se apresentou dinâmico mas, pelo que diz o INE...
O valor apurado com o Inquérito de Outubro de 2003 está enviesado negativamente devido a um erro de registo agora detectado. Assim sendo, a dimensão da revisão real neste sector entre os dois inquéritos (tanto para 2003, como para 2004) não será tão expressiva quanto o
indiciam os números comparados.


Publicado por Rui MCB 11:09:00  

8 Comments:

  1. Anónimo said...
    "Investimento: primeiro semestre ok, segundo?"

    Este título faz lembrar aqueles tipos, agarrados às acções, que enquanto o mercado caminhava para o abismo, diziam: "Caiu. E a seguir?"

    Também parece aqueles investidores agarrados às suas mirabolantes perspectivas de retorno especulativo, que se recusavam a ver a realidade e a agir em conformidade. Somando percas em cima de percas.

    A política económica de Ferreira Leite, por muito negativa que a vejam e até a tenham combatido, revela-se, agora, ter sido a mais correcta para Portugal e para os portugueses. Corrigindo desiquilibrios graves, no tais déficites gémeos, agravado com a crise de investimentos, nacional e internacional. Para além das deficiências inerentes ao nosso sistema fiscal, demasiado dependente do ciclo económico.

    Mas na realidade esta retoma económica está a ser mais forte do que alguns esperavam. Com o investimento e as exportações a liderarem o ciclo. Que melhor será apreciado à medida que os efeitos do Euro2004 se escavanecerão.

    Mas como disse. Este título parece daqueles que se negam a confirmar a realidade. E mesmo que o INE mude as suas projecções, o que duvidamos, reparem no gréfico publicado. As intenções de investimento foram as mais altas desde há sete anos.

    E reparem no porquê que Portugal aterrou numa depressão económica. O investimento produtivo, no tempo dos governos socialistas, foi abandonado em prol da especulação. Sobretudo imobiliária e mobiliária. Que escondeu a má governação do Eng. António Guterres.

    Preocupa-nos que as pessoas se recusem a aceitar a realidade pelo "wishfull thinking". Se no mercado de capitais dá enormes prejuízos, e ensina, em política e opinião publicada, este "wishfull thinking" tem prejuízos para entidades e cidadãos alheios. Não para o próprio.

    Uma razão para vos fazer meditar.

    De resto, vale a pena ler um dos melhores blogues em Portugal. Continuem.
    Rui MCB said...
    Caro anónimo,
    espero sinceramente que tenhamos um segundo semestre que, no mínimo, confirme as estimativas agora apuradas - e tratam-se de estimativas, resultado da resposta directa de empresas e não projecções.
    Muito concretamente quanto a esta variável - a formação bruta de capital fixo empresarial - há alguma expectativa sobre o segundo semestre devido ao efeito Euro 2004 que julgo ter sido um dos principais responsáveis pelo incremento no investimento verificado.
    Muito deste investimento destinou-se à construção de edifícios - cuja variação 2003/2004 foi de 15,6% - e entre estes contam-se a conclusão de inúmeros hoteis, restaurantes e demais edifícios de apoio à indústria da restauração e hotelaria.
    Julgo que as boas práticas da análise económica recomenda neste caso as devidas cautelas. Sectores chave como a Insdústria Transformadora, Construção e Comércio continuam com variações do invesimento claramente negativas e preocupantes e isto não é nada que se pareça com wishfull thinking.
    Rui MCB said...
    Como nota adicional ainda o alerto para outra análise relativa ao gráfico que citou.

    A confirmarem-s estas estimativas, uma variação positiva da ordem 5,6% é de facto a mior do último sete anos e indicia uma recuperação do investimento mais rápida do que a que se estimou para 1993/94, contudo, além de termos de esperar ainda por números estritamente comparáveis - ou seja pela última avaliação do investimento de 2004 que será colocada às empresas em Outubro de 2005 (já com as contas fechadas e bem fechadas) - estamos desejavelmente a iniciar um movimento de recuperação que não suplanta ainda as fortes quebras ocorridas particularmente nos últimos dois anos. Uma variação de 5,6% após o investimento ter encolhido 11,1% no ano imediatamente anterior (reduzindo assim a base de comparação sobre a qual se calculou a variação positiva de 5,6%) tem de ser devidamente realtivizado. É muito melhor que uma quebra mas é ainda uma indicação que não permite euforias. Não há ainda motivos suficientemente sólidos para gritar retoma! Como disse, se este e outros indicadores mantiverem o perfil dos últimos meses talvez lá para o fim do ano possamos estar verdadeiramente confiants. Mas, já agora, dava jeito vermos a balança comercial manter uma tendencial de diminuição do défice comercial, facto que foi interrompido com o virar do ano. Hoje parece ser de novo o consumo privado a estimular o PIB. Terá sido outro efeito do Euro? Num ano com um evento atípico desta antureza há que esperar calmamente para ver. Quanto à política do governo, não sobrevalorizemos o papel que ela tem no andamento da economia. Muito mais determinante do que um governante possa ou não fazer ou ter feito em termos de intervenção (penso em Guterres, em Ferrira Leite), temos o envolvimento com os nossos parceiros comerciais - e a saúde económica destes - e a gestão das nossas empresas privadas.
    Anónimo said...
    Caro Rui,

    Compreendo algumas objecções que explicaste. E gostei, sobretudo, da tua última ideia e do papel do Estado.

    Antes de tudo, deixa-me dizer o seguinte. É verdade que estamos a comparar com um ano de queda. Mas mais uma razão para estarmos optimistas. E explico o porquê.

    É verdade que os governos, normalmente, pouco podem fazer para alterar os ciclos económicos. Essa, até, é a tese que mais vinga entre os liberais, onde penso me incluir. Mas, no entanto, o papel dos governos é muito importante. Seja na gestão das expectativas, seja, e aqui o mais importante, no montante gasto pelo Estado. Que se "apropria" de metade da riqueza criada e a "distribuiu". E só aqui, já sabemos o quão importante é a forma como o Estado gasta e o quanto. E é por isso que alguns criticam o "stop-and-go" de Ferreira Leite. Mas ela não tinha alternativas e, por outro lado, mesmo assim, o ano passado, a política estatal foi ligeiramente expansionista. Basta olhar para o déficit estatal e para o crescimento, menor, da despesa pública.

    O outro ponto de vista tem a ver com a comparação com o ano anterior. Ora, pelas expectativas, e pela falta de confiança (nem vou invocar recentes prémios nóbeis pois todos já conhecem isto), o investimento deveria subir, mas moderadamente. Precisamente por falta de confiança e por falta da procura. Neste caso, sobretudo externa.

    Ora, se numa altura de forte falta de confiança os investidores apresentam estas intenções de investimento, imagina como seria ou poderá ser, quando estivermos mais adiantados no ciclo.

    Por isso chamei à atenção para o gráfico. No tempo do cavaquismo, pouco antes da recessão internacional, as intenções eram muita altas. Ao passo que nos tempos do socialismo do Guterres, mesmo no pico do ciclo, nunca atingiram os valores dos do tempo do cavaquismo. Porque isso diz muito do que se passou naqueles fatídicos seis anos.

    Concluo com o seguinte. Repara nas importações de bens de investiento e de equipamento. Confirmando o que transparece neste gráfico das intenções de investimento.

    E na Balança Comercial os recentes indicadores são optimistas. Mas mesmo com os dois primeiros meses do ano as exportações a engasgarem-se, é necessário ter em conta que o ano passado houve uma variação anormal nas exportações, devido ao efeito da SARS no comércio internacional asiático.

    E, também, poderiamos ter em conta que a mudança na política económica foi importante. Com uma política económica virada para a Oferta e não para a Procura, como motor do crescimento económico.

    Mas isso já seria expandir em demasia o meu texto. Digo, apenas, que poderá haver uma surpresa enorme. Sobretudo para aqueles mais pessimistas. ;-)
    Rui MCB said...
    Venha ela (a surpresa)! Por dever de ofício, apenas e só, vou sendo cauteloso, que não pessimista ou velho do restelo.
    Anónimo said...
    Rui, permites um abuso?

    Julgo que és co-autor de um "trabalho" sobre a pobreza e a exclusão social em Portugal. Confirmas?

    Se o confirmas, posso te pedir o favor de me dizer se o publicaste ou se o posso ler de alguma forma?

    Antecipadamente agradecido pela tua resposta. Mesmo que não sejas o autor. ;-)
    Rui MCB said...
    Afirmativo quanto à autoria caro anónimo.
    Qual o título daquele a que se refere?
    e-mail para contacto: fogueiralusa@yahoo.com
    Anónimo said...
    Obrigado.

    Envio-te um email. Ok?

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