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Relatório do Banco de Portugal

A divulgação ontem do boletim económico do Banco de Portugal (BP) relativo às previsões sobre a economia portuguesa para o ano de 2004 e de 2005, e a conjuntura actual, leva o mesmo BP a rever em alta às previsões efectuadas em Dezembro de 2003, mas a verdade é que as boas notícias relativas ao crescimento do produto, devem merecer algumas reservas e não euforias desmedidas.

Contra o crescimento a taxas negativas verificado em 2003 em -1,2 %, o Banco de Portugal estima um crescimento para 2004 entre 0,75 % e 1,75 % e para 2005 entre 1,00 % e 2,50 %. Nesta situação e porque não se deve analisar a economia apenas num ponto estático, mas estabelecer um tendência, é um facto que a economia portuguesa recuperou da grave crise económica que sobre ela abateu em 2002. De pouco importa agora, mas recordando que a política económica e orçamental seguida pelo Governo PSD contribuiu para o estagnar da actividade económica em Portugal, e os sinais de consolidação orçamental não foram por si só de grande relevo, havendo mesmo necessidade de recorrer as receitas extraordinárias para evitar sanções de Bruxelas. Ainda que longe do despesismo de Pina Moura ou de Oliveira Martins à frente das finanças nos governos PS, a verdade é que hoje se questiona seriamente a necessidade das medidas contraccionistas, uma vez que a economia portuguesa não se tornou auto-suficiente no ponto de vista da satisfação da procura interna, e muito menos terá resolvido os seus problemas estruturais clássicos. È igualmente verdade que algumas das medidas de Ferreira Leite contribuíram para o agudizar da crise, mas também é verdade que a verificar-se o que diz o BP, Ferreira Leite estava certa no rumo a tomar.

È com alguma surpresa que o Banco de Portugal estima que o crescimento económico, ficará a dever-se ao comportamento extraordinário das exportações portuguesas. A verificar-se tal taxa de crescimento ( entre os 6,00 % e os 9,00 % ) , fruto do ganho de competitividade dos produtos portugueses associado a esperada valorização da moeda euro contra o dólar e da aceleração das economias nos parceiros portugueses na zona euro, è de esperar não só uma melhoria na taxa de cobertura como uma melhoria significativa do défice comercial.

Não leva em linha de conta, o BP, que a economia portuguesa sofre de um problema estrutural que se repete sempre que a economia acelera. A procura interna intensifica-se e a oferta interna não consegue satisfazer a procura, assistindo-se a uma subida das importações apresentando um crescimento claramente mais dinâmico do que o anteriormente admitido, em larga medida reflectindo o comportamento do investimento empresarial.


Mas a verificarem-se estes dados , Portugal cresce pela primeira vez desde há muitos anos, com ganhos reais e não com a alavancagem do défice público o que é desde já de saudar.


Considerada como a componente barómetro das economias, e depois do brutal arrefecimento do consumo privado – motivado pela subida do IVA e do endividamento das famílias - , o mesmo consumo privado, irá subir entre 0,5 % e 2,125 %. Os consumidores registaram nos últimos semestres taxas de poupança em quase 3,00 % do rendimento disponível, o que corresponde ao processo de ajustamento da dívida. Não explica o BP, mas existem aqui duas hipóteses para tão forte crescimento do consumo privado : Ou os salários aumentam, e sendo assim faz sentido a premissa de que não poderá haver congelamento de salários sob pena de se comprometer toda a retoma económica, ou existe uma subida do endividamento das famílias, o que por si só é nefasto e induz na economia riqueza que não é criada naturalmente com o devido custo a médio e longo prazo.

Já o investimento privado deverá crescer entre 0,5 % e 6,125 % o que reflecte a retoma dos agentes económicos privados na economia. Mesmo assim é com um intervalo tão grande , é natural que se levantem algumas reservas, sobretudo numa altura em que os fundos comunitários sofrerão alguns cortes e em que o investimento das famílias em habitação sofrerá também uma trajectória descendente nos próximos semestres. Um dos factores que poderá explicar tal subida da taxa de investimento privado é assente no nível das taxas de juro, que estão ao nível mais baixo de sempre.

O relatório traz boas notícias. Mas para as mesmas se concretizarem é necessário que se assuma pela primeira vez a necessidade real da consolidação orçamental, bem como a obrigatoriedade de se controlar a despesa privada bastante susceptível a evoluções positivas das taxas de juro.

Publicado por António Duarte 12:24:00  

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