ele dias assim...

Há duas ou três coisa em que sou realmente bom, uma delas é - admito - a dizer mal de quase tudo e mais alguma coisa. Sou incapaz de me calar, não há conceito de timing, etiqueta, conveniência que prevaleça - 'tá mal, não gosto - é na hora, logo, sem paninhos quentes, pimba. Os críticos dizem que esta anomalia comportamental, e que eu prefiro entender como frontalidade e coerência, já me custou a carreira várias vezes. Não sou realista, não sou razoável, espero o impossível, etc, etc, etc... E no entanto, apesar de todo este radicalismo fundamentalista - sim, há muita boa gente que me acha um fundamentalista - há duas ou três coisas de que eu me recuso a dizer mal, a começar de Portugal - como um todo.

Um destes dias um dos nossos leitores escrevia em comentário...

A degradação da classe política, a mediocratização das elites e o abandalhamento dos diversos poderes são factos indesmentíveis. Mas o pior é que a saúde mental, moral, cultural, cívica, familiar e social do chamado povo também anda de rastos, e isso não permite alimentar grandes esperanças de renovação.

O homem comum, o homem da rua, o homem com quem lidamos no dia a dia, está incivilizado, amoral, inculto, boçal. Não tem um ideal, um projecto, um sentido. Aposta tudo no efémero, cultiva o superficial, vai pelo mais fácil, procura o mais vistoso. É interesseiro, "chico-esperto", egoísta e mandrião. (...)

Ora, apesar de ser o tal bota-abaixista profissional eu não posso deixar de discordar. Eu posso concordar que a degradação da classe política, a mediocratização das elites e o abandalhamento dos diversos poderes são factos indesmentíveis mas não me peçam para concordar com o segundo parágrafo. Há de tudo, é um facto, mas também há muito génio, muita candura, muita energia, muita , muito rasgo, muita vontade e muita alma por entre esse povo todo (veja-se aqui para um exemplo arrebatador) . O grande erro de análise que se comete é julgar o todo por aquilo que se vê, e aquilo que se vê - e que não é o que existe - é o que a comunicação social mostra que não é de todo a realidade. O grande erro é resignarmo-nos a escolher de entre o que o sistema nos oferece em vez de ousarmos fazer realmente parte do sistema, e da sua oferta.

Nas suas linhas gerais o modelo de democracia representativa está e é correcto, nem há alternativas, o exercício do poder tem de ser sempre intermediado. O que não está correcto é o divórcio existente entre os Partidos Políticos e a população. Está na hora de quem acha que as coisas estão mal tratar de se mexer, de ter vida cívica, intervenção pública, filiar-se num Partido - porque não?

Os instrumentos existem, os meios também, não são precisas novas Leis ou grandes revoluções, é uma questão estritamente aritmérica - nós somos mais que eles, melhores que eles, chegou a hora de correr com eles. Ordeiramente, com trato, com ideias, com respeito mas com firmeza.

Porque aquilo que nós temos não é o nosso passado, não é o nosso presente - é o nosso futuro. E essa é uma batalha que é digna de ser travada, embora muitos que no seu intímo até possam concordar venham lembrar-se resignados de guerras perdidas, feridas mal saradas, e serem tentados a resignarem-se silenciosos e cabisbaixos...

Há guerras e causas que eu não sei sinceramente se podem ser ganhas, mas também há guerras e causas que não podem deixar de ser lutadas; a opção é sua...



eu, a vítima congénita de pessimite aguda, o tal que diz mal de tudo e mais alguma coisa, acredito que isto tem conserto, no fundo porque acredito também em mim e você, caro leitor ?

Tou a ficar velho, com cabelos brancos, e às vezes dá-me para escrever destas coisas. Prefiro acreditar que não é delírio mas se calhar sou mesmo ingénuo e lírico.

Ele dias assim.


Publicado por Manuel 04:38:00  

23 Comments:

  1. Luís Bonifácio said...
    Caro Manuel

    Este assunto (Passar das palavras ao actos) tem vindo a ser recorrente nos últimos tempos em diversos blogs, e eu também concordo que é tempo de se fazer qualquer coisa. Porém e´preciso ter em conta que uma andorinha não faz a primavera, pelo que esta acção deverá ser feita por vários elementos em vários partidos, tal como no passado recente foi pensada, planeada e executada por certo frade franciscano que colocou vários discíplos em lugares chave de dois partidos, para ai poderem corrigir os desmandos, passados e futuros, contra a igreja católica.
    Seria bom que saissemos do conforto caseiro dos nossos blogues, e pelo menos passassemos a discutir palnos futuros
    António Duarte said...
    Quase parece um discurso de tomada de posse...
    Animal said...
    Ele há dias assim. Mas também há dias a-não. E até mesmo dias não.
    Deve ser da quadratura de Saturno e do alinhamento de Marte com a Lua.
    Ou então não.
    Zu said...
    Gostei, Manuel.
    Mas... há um mas, naturalmente. Será a hora de dar a cara, de arregaçarmos as mangas, de sairmos do nosso comodismozinho. Mas como? Fala em filiação partidária - livra! Ir fazer parte daquilo? Eu não me revejo em nenhum partido e ia inscrever-me num deles? Cruzes canhoto...
    Anónimo said...
    Lembro o apelo que M.L.Pintassilgo fez à saída do encontro com J.Sampaio, e cito de memória: Basta que cada um de nós dê um pequeno contributo, consoante as nossas possibilidades, no momento e no lugar certos.
    Não sou crente nem de protagonistas providenciais, nem de movimentos sociais telúricos, mas creio, tal como defende Alberoni, que é a conjugação histórica de vontades colectivas e de iniciativas individuais que pode criar o "estado nascente", que porá em causa o paradigma actual e proporá caminhos de mudança.

    Ass. Maria da Fonte II
    josé said...
    Pois..."you say you want a revolution?"

    A única que me parece viável e ironicamente está no bom caminho de se poder tornar uma realidade a curto prazo, é a italianização da vida política nacional.
    Uma italianização, no sentido de que falo, parece-me um bem; não é necessariamente um mal irreparável.
    Parece-me bem porque permite a intervenção de mais cidadãos na vida política, ao nos apercebermos que não há "heróis" e não há( não deve haver) figuras providenciais a quem entregar o poder executivo do Estado.

    Há uns anos, o Umberto Eco, a propósito da chegada ao poder dos socialistas em Espanha, escrevia ( ou dizia em entrevista, já nem lembro bem, os anos que já passaram...)que no governo espanhol estavam aqueles que se costumavam encontrar nas tertúlias de café.
    O que ele queria dizer, era que no governo estavam indivíduos aparentemente anódinos ou que seria difícil de pensar, meses ou anos antes, de que seriam capazes de ocupar lugares de governo.

    Esta democratização efectiva do poder executivo ( e legislativo) tem as suas vantagens, sendo a mais evidente o alargamento da participação dos cidadãos na vida política, no melhor sentido. Tem algumas desvantagens: conduz ao aparecimento do oportunismo e do carreirismo partidário das jotas e quejandos e ao aparecimento inevitável de ladrões de casaca, pois o bolo é tentador e há indivíduos que nasceram para se apoderarem do que não lhes pertence.

    Solução? A italianização! a manutenção no poder, agora dessacralizado, de poucos, durante pouco tempo. O inverso do que sucedeu com a Democarzia Cristiana que esteve a governar durante quarenta anos.

    Parece-me que na sociedade portuguesa actual, não é possível assegurar grandes níveis de seriedade e honradez nos elementos das classes políticas, durante muito tempo.
    Hoje, mais do que nunca, parece-me válido o ditado de que o poder corrompe e quanto mais poder,durante mais tempo, maior a corrupção. Por corrupção, neste caso, entendo também os fenómenos de nepotismo, amiguismo, clubismo , etc.

    Se, por acaso, o Irmão Manuel ou outros se agregassem em partido, próprio ou alheio, não demoraria muito tempo até que tivessem de fazer escolhas com escolhos.
    Por exemplo, a tropa ( que é sempre necessária...) pediria mais dinheiro, para fazer exercícios. A tropa da Marinha, por exemplo, através dos seus comandantes pedia mais fragatas; ou mais submarinos; ou mais dinheiro para fardas e armamento.
    Seria preciso arranjar fornecedor. O ministério tratava de publicitar a decisão de compra de mais equipamento. COmo? Através de anúncio de jornal, mesmo no NYTImes ou no Le Monde, ou até no Frankfurter Algemeiner? Nope.
    Seria através do aconselhamento em conversa de pé de orelha com os militares que percebem do assunto? E quem seriam os de confiança?
    E depois de se pensar nos potenciais fornecedores do equipamento de milhões e milhões, como se faria a adjudicação? COm os cadernos de encargos e os documentos oficiais, concerteza.
    Porém, é sabida a generosidade dos fronecedores nestes contratos. As luvas são de rigor e não são as de pelica. Assim, o governante teria que dizer ao comerciante: "os senhores querem oferecer-me dinheiro pelo que eu devo fazer, mas eu não quero! Sou sério e cumpro a lei. Façam antes do desconto".
    O governante, porém, não faz tudo sozinho e por isso tem ajudantes. E estes, teriam que ter a mesma verticalidade e princípios. Daí que a escoha dos mesmos seja uma tarefa difícil nestes tempos em que Diógenes se teria esfalfado mais do que se esfalfou.

    Quem fala de fragatas, fala de auto-estradas; de Expos; de...de...

    PAssemos de pasta e tratemos das privatizações de empresas que valem milhões e os adquirentes querem pagar o menos possível.
    Quem trata do assunto? Os governantes. Decidem entregar uma empresa rentável a empresários, a fim de rentabilizar mais o desempenho e encaixar dinheiro no Orçamento.
    O processo é complexo contratam supostos peritos. Quem? Advogados. COmo escolher os melhores? E quem serão os melhores?

    Devo continuar?!

    Manuel, desista da política!
    zazie said...
    estou dividida entre o comentário do meu amigo Animal e o do meu amigo José... ":O))

    é, ele´há quadraturas de círculo também. Uma coisa é certa, o poder não só corrompe como todos os discursos temdem a institucionalizar-se. Criada uma instituição a lógica da sua manutenção rapidamente se sobrepõe ao fim para que terá sido criada. isto já dizia o Jacques Heers e é válido para tudo.
    No caso dos partidos a história ainda se complica mais a partir do momento em que podem chegar ao Parlamento ou ao Governo. A partir de uma dada altura quem para lá vai é mais um pauzinho na engrenagem, perde qualquer voz própria qeu possa ter e esta´sujeita`ao voto da maioria, ao alinhamento das forças instaladas, ou seja, está metida naquilo que o Manuel pretende combater.
    Já vários amigos me vieram com essa ideia (geralemnte quando chegam aos 40) e eu costumo dizer-lhes que se estão com necessidade de pertença que arrangem antes uma espanhola ou vão para um clube de dansa de salão.

    Tenho por ideia que quanto mais megalómanos somos, quanto maior é a escala de questões em que queremos contribuir ou mesmo alterar, maior a probabilidade de não fazermos nada.
    A escala pequena, nos pequenos locais a que se está ligado tem menor projecção, não dá a sensação de se estar a mudar o mundo, não fica na história nem dá na televisão mas tem uma modéstia que pode ser muito mais proveitosa.
    Eu prefiro sempre a árvore que está à minha volta e que eu conheço ao gigantismo da floresta.
    zazie said...
    De qualquer forma, cada um sabe de si. Aqui o meu amigo Animal e eu até já fizemos um logotipo e um hino para o partido político do "passarinho ui- ui". Se quiserem é só dizer ";O)))
    zazie said...
    http://zazie.no.sapo.pt/passarinho%20uiui.jpg

    o hino é fácil, o Animal pode ensinar ;O)
    Manuel said...
    Ao Venerável Irmão José,

    *tecnicamente* eu há muito que desisti da política... Não estou na Capital, como "conselheiro militar", por algumas boas razões... Mas uma coisa é desistir da "política", e destas sombras de políticos, e outra é desistir de viver, de lutar de acreditar em Portugal, e disso eu não desisto. Além do mais há um raciocínio perverso inerente ao seu discurso; Tomado à letra ele, o discurso, não pode ser aplicado apenas aos políticos mas a todos as classes e sectores sociais... E suspeito que não é por haver - que os há - "desvios" no nosso subsistema judicial que o Venerável Irmão acredita menos no que faz e na Justiça...

    Ao Mano Pedro,

    Um bom pessimista é aquele que anda sempre à procura de surpresas agradáveis...

    À 1poucomais,

    Bem vinda à realidade, com mais ou menos analgésicos ou epidurais, o facto é que sem ovos não se fazem omoletes, pelo que enquanto não aparecer com um sistema mais eficaz, sensato e elaborado que o da democracia representativa (e se aparecer - acredite que ao menos a Loja lhe dará o devido destaque) não venha perorar sobre "a hora de dar a cara, de arregaçarmos as mangas, de sairmos do nosso comodismozinho", depois de renunciar aos seus direitos e deveres cívicos. É que o "aquilo" de que você fala, esse "aquilo" é também você por omissão!

    Por outro lado, se calhar são vocês todos que estão no bom caminho; A resignação e o comodismo - no fundo, no fundo - se calhar é o que está a dar... Para quê viver afinal, quando dá muito menos trabalho e chatices sobreviver ?
    zazie said...
    meu caro Manuel. Não faço ideia a que chama comodismo. A vida tem muitas lutas e nem para todos é a estrada certinha e confortável propícia ao comodismo.
    Admiro profundamente todo o trabalho abnegado seja para contribuir para a perpetuação de ideias, de obras, de saberes, de tudo ó que a humanidade é capaz.
    E admiro ainda mais quem se mantém o mais possível livre em todos os locais onde a perca da liberdade é facilmente suplantada pelo poder.
    Claro que o que mais gosto de ver é quem tem poder, quem chega ao topo, sobe ainda mais um pouco e o faz a pulso e de forma limpa e, depois de lá estar em cima usa o poder para tratar a porcaria toda a pontapé.
    That's my hero ";O)
    Rui MCB said...
    Não há heróis. Quando muito há momentos de heroismo...
    Não há grandes reformas. Devemos tentar fazer vingar muitas das pequenas.
    Também já tive dias desses Manuel e têm surgido com crescente frequência ultimamente. E ainda nem aos 30 cheguei Zazie.
    Uma coisa me parece segura, se algum dia me filiar tenho de contar de antemão com muito pouco apoio e estímulo por parte de quem se acomoda e de quem todos os dias generaliza e define a "corja" e ainda assim, sabendo disso, terei de continuar abnegadamente a tentar recolher esse apoio...
    Ter consciência de que se sobrevive e de outros nem isso conseguem fazer dá algum estimulo querer um pouco mais.

    Quanto ao poder que corrompe... Acho que há dois níveis do problema. A corrupção material, do ganho próprio colada a um hedonismo primário e outra que pode ou não sê-lo de facto que se centra na defesa de ideias.
    Peguemos num partido: convinha que passasse a ser claro qual o seu ideário básico e irrenunciável e quais as franjas que podem dar aso a compromissos. Hoje nada é claro, quase tudo é negociável e no final sobram poucas referências e sentimo-nos burlados por políticos que se "terão vendido" aos compromissos pardacentos que não se adivinhavam nem se compreendem. Mas um excesso de idealismo (uma defesa intransigente de todo um condicionamento da sociedade à luz de um programa) como todos os fanatismos ou excessos de romatismo leva-nos a encher a boca de acusações de corrupção que não são nada saudáveis, impossíveis de servir de orientação séria para quem se atreva a tentar ser diferente.
    Também na forma de viver a política do sofá há muito a mudar e aí sim Zazie temos muita utilidade em tratar da nossa árvore.
    zazie said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    zazie said...
    Rui,
    O poder corrompe mesmo à borla. Esse é o grande fenómeno do Poder. è auto-remuneratório. Se há espectáculo que conheço e que gostei de assistir foi a esse fenómeno da "vã glória de mandar". E acredita, corrompe mas também há quem tenha particular vocação para o procurar. E mais, tomam o gosto, fica-lhes no sangue e geralmente transmitem-no.
    Rui MCB said...
    É o velho espírito monárquico :-)
    josé said...
    Caro Rui:

    O problema da corrupção na política, não deve ser relativizado, a meu ver. Se começamos a condescender com a ladroagem, seja a favor dos partidos, seja a favor do património pessoal, estamos a condescender demais. Será radicalismo a mais?! Há quem diga que sim e apresente boas razões para tal. Mas depois "it´s downhill from here".
    Um princípio é um princípio. E a tolerância com a violação de princípios não pode alargar-se ao ponto de se transformar a vida em exercício permanente de cinismo.
    Todos nós transgredimos na estrada e contudo sabemos que o não devemos fazer: andamos em excesso de velocidade; conduzimos sem cinto e falamos ao telemóvel enquanto conduzimos. Essa conduta, sabemo-la proibida e contudo praticamo-la. Assumimos os riscos inerentes que são o sermos autuados. E assim deve ser.

    COntudo, na condução do negócio político, há "crimes e escapadelas". Neste momento e desde há anos para cá, os crimes são entendidos como escapadelas, parece-me bem.

    Os políticos apanhados com a mão na massa ( Fátima Flegueiras, Abílio Curto, António Preto, Isaltino Morais, Valentim Loureiro, etc.) estão inocentes. COmpletamente. Tendo a compreender as razões pelas quais estarão plenamente convencidos disso: vêem os outros que não foram apanhados, por muito pior do que eles fizeram e sabendo-no, agem como aquela personagem do Jô Soares: "Eu?!! Cadê os outros?!!"

    Este panorama não me parece animador. Julgo que este discurso não é demasiado radical, e talvez seja demasiado realista.
    dragão said...
    Este seu postal, ó Manuel, suscitou-me um comentário em forma de postal lá na minha caverna. Devo avisá-lo, contudo, que vou de mal a pior. Portanto, se é alma sensível, nem lá vá!...
    Rui MCB said...
    José,
    A "condescendência" de que falava não era do foro criminal - como a dos casos Flegueiras, Isaltino e quejandos. Ain estamos plenamente de acordo. É tempo - e é sempre tempo - de não condescender nessa matéria. Pensava antes na necessidade de se aceitar um pouco de real politik. Imagine-se uma eleição onde fica em aberto a possibilidade de uma coligação para formar um governo "estável". Defendo que deveria existir uma clarificação dos princípios irrenunciáveis do ideário de um partido. Por exclusão de partes, os restantes, em caso de necessidade de conciliação democrática poderia ser alvo de negociação. O cozinhado dai resultante não teria de ser visto como algo nefasto, explicado por corruptos e corruptores. Traídos e traidores.

    Ter tudo como absoluto e ao mesmo nível de prioridadee tem servido para que nada seja pre-definido antes do voto e apenas "descoberto" à posteriori. A acusação de "corrupção" aqui, pronta a disparar ao mais pequeno desvio da linha de rumo programática, pode levar precisamente aos efeitos opostos em que nada é definido como a base identificadora de um partido. E é desse caldo difuso que se faz o poder e se constroiem maiorias.
    Os eleitores e os eleitos deveriam estar preparados para perceber os limites da negociação e os primeiros deveriam ser particularmente rigorosos em penalizar o partido nas falhas de primeria linha. Por exemplo, o CDS-PP defendia uma posição face à integração europeia e quanto à existência do ministério do ambiente antes das eleições e tem agora posiçõs diversas. Ambas as "actualizações de programa" deverão merecer a mesma indignação dos seus eleitores? Talvez não, se ficásse claro para que é que o partido serve, quais as suas características identificadoras fundamentais. Se se percebesse que a opção face ao Ministério do Ambiente estava a um nível diferente da das opções europeias o sentimento de burla poderia não ser tão grande caso o partido só tivesse prescindido da defesa da primeira...
    zazie said...
    Rui,
    desculpa a pergunta, tu por acaso tens uma ligeira ideia de como funciona um partido? Não falo das ideias que se adaptam mais a isto ou àquilo, falo do esquema partidário. Do subir no poder partidário, dos esquemas eleitorais, dos esquemas por fora. Falo do que é um partido e um militante partidário. Do que vive, do que vive a mullher, a família, os amigos, o chofer, o piriquito se for preciso.
    E por acaso já fizeste o exercício de comparar um gajo antes e depois de ter ido para o partido?
    É que eu creio que nem estava só a falar da corrupção partidária, estava a falar da corrupção da alma do "desgraçado" que se mete nisso ":O)))
    Rui MCB said...
    Zazie,
    esta minha nomenclatura de eleitores e eleitos é de facto muito romântica, mas deixa-me ser idealista, só um bocadinho e da pior espécie já agora. Daquela que ainda não se filiou em nenhum partido porque foi achando que só tinha a ganhar em "crescer" politicamente pelo autodidatismo, fora do aparelho, construindo defesas para combater o risco de "aculturação" em relação àquilo que, se um dia se filiar, há-de recusar e "combater". Só isto já é todo um programa revolucionário no seio de um partido, bem sei...
    Há coisa de dez anos, quando adivinhei os métodos (e conhecendo-me minimamente) fugi a sete pés da JS, por exemplo. Seria facilmente carne para canhão.
    Mas se queres que te diga acho que isto tudo - a possibilidade de conseguirmos mudar alguma coisa seja ela pouca ou muita - ainda depende muito de cada um de nós. Depende daquilo de que somos feitos e de que nos vamos fazendo...
    A mediocridade que por lá reina acaba por poder ser um desafio mediocre, basta erguereste acima desse padrão para já fazeres alguma diferença.
    Conseguirás mudar o partido? Isso já não sei. Um tipo sozinho não muda quase nada. Mas com um bocadinho de astucia e com o factor surpresa que constitui sempre a capacidade de desprendimento no seio de uma organização de merceiros pode ter efeitos interessantes. Pode ser que haja outros com o mesmo programa...

    A morte é certa, o caminho faz-se caminhando.
    zazie said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    zazie said...
    Tem piada que a vida é mesmo assim. Nunca conseguiremos compreender o que é diferente de nós próprios.
    Não estou a ser irónica, estou mesmo a ser sincera. Não faço ideia rui, não faço ideia do que seja isso. Idealismo até ainda imagino mas do modo como o imagino é incompatível com o modo como tu pensas que pode ser aplicado
    Vou-te confessar, nestas coisas não entendo o meio-termo. O único modo de filiação que em ficção de série B ainda imagino é como capo da malavita ":O))
    zazie said...
    entre Lucky Luciano e o príncipe Salina a minha alma oscila ":O)))

Post a Comment