"Direito de Reserva"
segunda-feira, julho 05, 2004
Um "Cidadão sem ideias", devidamente identificado, enviou o seguinte postal que se publica...
Cidadão que se preze deve ser reservado, cuidadoso, muito cauteloso, respeitador, não das instituições, mas dos que as chefiam. Estes são as instituições. Confundem-se com elas, existem por causa e para eles. Sem eles,as instituições ficam tristemente sem sentido. De nada servem.
Vejamos, a título de exemplo, só a título de exemplo, os Governos Civis.
Há anos, há décadas, que ouvimos de responsáveis dos mais variados quadrantes que devem ser extintos, que vão extingui-los hoje, amanhã, depois de amanhã.
De facto, pareceria uma medida adequada e racional, já que lhes não é conhecida tarefa, atribuição ou competência que um computador não faça na cognominada Loja do Cidadão, excepto aquilo de mandar polícia para a rua chatear uma manifestação do povo ou de trabalhadores.
Mas para isso, com a mesma eficácia, lá estariam os autarcas, desde que os manifestantes se rebeliassem contra o respectivo presidente ou partido que é, afinal, o que fazem os governadores civis.
O cidadão reservado vê isto, mas cala-se, pois respeita a instituição e, sobremodo, o dono da mesma, não vá, tecendo-as o diabo, um dia precisar da instituição, ou antes do governador civil.
Cidadão que se não preze, diz o que pensa, colabora na vida pública, ergue a sua voz concordando ou discordando. Tem por ele a Constituição e as Leis.
Não basta. Tem de ter por ele os patrões das instituições. Mais tarde ou mais cedo, fazem-lhe a cama, em surdina, com scroquerie, inventam factos e intenções inexistentes.
Se se trata do tal Governo Civil, atrasa-lhe o passaporte para saber quem manda. Se se trata de um pedido para uma reunião pública (ainda há disto no país democrático), ou para uma manifestação, já sabe, indeferido, por razões de "trânsito, ordem pública, ou porque um edifício do estado fica próximo".....
Bem feito, que se não preze, que seja reservado que esse é o direito mais alongado que vigora na hipocrisia desta sociedade dita democrática - pode dizer-se tudo, mas com regras, sem ferimento das "vacas sagradas".
Então o governador civil também não é eleito, por via de outros que foram eleitos e ora o escolheram por ser muito competente e nunca ter lido sequer a lei que regulamenta o próprio Governo Civil?
Cidadão que se preze vota de quatro em quatro anos. E pronto. Depois fique calado, mudo, suporte tudo que para isso votou.
Cidadão que se não preze que exerça os seus direitos, que proteste contra as injustiças sociais, contra o desemprego, os abusos do chefe, as desigualdades de tratamento de situações iguais, os atrasos dos processos judiciais, os abusos das repartições públicas, contra o abuso do chefe repartição de finanças, aqui será inspeccionado, "por acaso", sistematicamente, nunca mais tem paz.
Cidadão que se preze, mesmo no sigilo do voto, tem todas as cautelas, votar isso vota, mas esconde as ideias em que votou, ninguém lhe pede ideias, pede-lhe é o votinho. Faz de escada para o poder, o dos outros, sempre os mesmos, que estes é que têm o direito de ter ideias.
Cidadão que se preze dá as ideias aos eleitos. Fica sem ideias. Deixou de ser cidadão, pois sê-lo implica participação, acção e esta exige ideias.
Cidadão que se preze tem uma só ideia - não ter ideias.
"Cidadão Sem Ideias"
Publicado por josé 14:26:00
2 Comments:
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Escrevo isto para entregar o seu a seu dono.
O autor do escrito, c´est pas moi.