coisas que só poderiam sair da pena de um gato...

...preto, por sinal.


E agora?

Passam alguns minutos da uma da tarde. O nosso herói caminha numa estrada longa, que começou há alguns anos atrás. Dos lados apenas se vê deserto sem fim, terra de um tom vermelho, quase como Marte. Caminhando de cabeça baixa, com os sapatos empoeirados, ele traz uma mochila ao ombro cheia de más recordações. Pessoas que eram, pessoas que são, pessoas que nunca serão...o nosso herói está cansado, quando chega a um cruzamento, onde se encontra um pequeno banco onde ele não resiste a descansar por uns minutos.

Passa pouco tempo até que ele se lembre das razões porque está onde está hoje. As frases começam a ecoar-lhe na cabeça:

"Já pensaste que nunca fomos assim tão amigos..."
"Não me quero preocupar contigo, quero é divertir-me com os meus amigos..."

Ele limpa rapidamente uma lágrima que se escapa, na esperança que ninguém tenha visto, para logo a seguir se lembrar que afinal...está sozinho. O nosso herói continua a relembrar-se, de todos os que se aproveitaram dele, pelas mais variadas razões, e começa a aperceber-se que nunca valeu muito, aos olhos de ninguém. Ele começa a contemplar a imensidão do deserto onde se encontra e não evita pensar para ele próprio:

"Vou ficar sozinho para sempre. A culpa é minha, é impossível alguém ter tanto azar a escolher as pessoas de quem mais gosta. Devo ser mesmo horrível..."

Ele abre a sua mala e começa a retirar algumas fotos de pessoas que lhe são muito queridas, mas que sabe que nunca mais vai ver. Porque essas pessoas assim o quiseram.

"Elas tiveram sempre razão, eu nunca foi suficientemente bom, nunca vou ter amigos, nunca vou ter pessoas que me respeitem, que tenham saudades minhas, que perguntem por mim, que pensem em mim...só queria ser especial para alguém...mas nunca vou ser."

Nesse momento chega um autocarro negro. A porta abre-se e o condutor pergunta:

"Então rapaz...para onde é que vai?"
"Não tenho para onde ir..." - diz ele, encolhendo os ombros.
"Posso levá-lo para um sítio onde todos os seus problemas já não terão significado, posso acabar com isso agora mesmo...mas a decisão é sua."

O nosso heroi baixa a cabeça, e num movimento rápido levanta-se e entra no autocarro. A porta fecha-se atrás dele, e o autocarro arranca em direcção ao por do sol. O condutor olha para ele e diz, sorrindo:

"Não te preocupes, já não vai doer por muito mais tempo".

Tanto sentimento, tanta emoção... Quem foi que disse que a juventude portuguesa era um caso perdido, quem foi ?

Publicado por Manuel 19:58:00  

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