pias questões...

Na sua edição de ontem o pasquim 24 Horas, o tal que tem na sua direcção um certo sobrinho de um dos nossos mais dilectos leitores, resolveu fazer mais uma capa sobre o caso pio. E fê-lo num exercício de revisionismo e demagogia absolutamente escabrosos, abaixo de todos os príncipios éticos e deontológicos que dev(er)iam reger a classe jornalistica.

A defesa do Pedroso alegou publica e repetidamente da impossibilidade de certas práticas que são imputadas ao deputado socialista serem "mecanicamente" impossíveis de terem sido realizadas pela razão pura e simples de que o mesmo usaria um aparelho nos dentes que impossibilitaria as mesmas. Nas alegaçãos presenmtes no recurso apresentado pelo Ministério Público tal alegação é inequivocamente desmontada, a par de muitas outras - como por exemplo a da "falta" de memória das vítimas que, não tendo retrovisor, ainda assim a tinham bem melhor que a da ex-esposa do acusado que só se lembrava de um único sinal que (agora) já não existe... - ora que faz o 24 Horas ?

Bem, faz capa informndo a humanidade que a equipa capitaneada por João Guerra tinha explicado - no dito recurso - à juiza como se pratica "sexo oral". O pequeno detalhe de a inócua "explicação" arrasar por completo quer a tíbia argumentação da juíza quer os mirabolantes argumentos da defesa é uma minuência que pouco importou ao 24 explicar...

Na passada sexta-feira, José Manuel Fernandes, director em exercício do Público, espantava-se com as discrepâncias de algumas decisões, em instâncias diferentes, sobre casos que envolvem invariavelmente gente poderosa e influente nomeadamente o caso pio e o Caso Moderna. A certo ponto proclama mmesmo urbi et orbi...


Mas não é natural a sucessão de tantas contradições, pelo que é necessário dizer alto o que muitos dizem baixo: há demasiada incompetência e uma quase total falta de controlo de qualidade

Presume-se que o ainda director do Público deva ter dado uma olhada ao já citado recurso do MP de que o Público publicou aliás tímidos extractos, presume-se até que José Manuel Fernandes concorde com a tese defendida no Glória Fácil, um destes dias por João Pedro Henriques que clraividentemente escrevia ...

Um dia destes – depois do jogo com a Rússia, antes do jogo com a Espanha – a “esmagadora maioria” (TSF dixit) dos jornalistas portugueses que acompanham a selecção decidiu autografar uma camisola da equipa e oferecê-la a Scolari. Um gesto (televisionado, fotografado, em suma, noticiado, portanto público) que o próprio muito apreciou, evidentemente.

Discordei e discordo. A minha opinião é certamente, irrelevante – e, por isso mesmo, não me custa nada emiti-la. Tinha-a prometido, ei-la.

1. Este tipo de iniciativas permite pôr em causa, muito legitimamente, o distanciamento crítico dos jornalistas face ao seleccionador. Nem eu nem ninguém no universo dos consumidores de informações quer isto, suponho. Os jornalistas não fazem parte da selecção. Estão de fora e é aí que devem estar. A credibilidade do trabalho jornalístico passa também por cuidar da aparência dessa credibilidade – e não só do seu conteúdo. A história da mulher de César também se nos aplica.

2. Serei eu pela manutenção de uma relação de hostilidade permanente entre os jornalistas e os seus interlocutores? Não sou. Acho até contraproducente, na maior parte dos casos. Mas entre isto (a hostilidade) e o que se passou (a aparência de um excesso de companheirismo) há um ponto de equilíbrio, que me parece ter sido ultrapassado.

3. Por mais difícil que seja, os jornalistas não têm de se associar ao fervor nacional que rodeia a selecção. Retratam esse fervor – não fazem parte dele, pelo menos enquanto desempenham funções profissionais de cobertura das actividades da selecção (o que era o caso). Admito que seja mais confortável ir com a maré. Que até dê mais audiências. Mas isso já está para lá do jornalismo. Já só é “infotainment”. É nisso que se transformaram os relatos de rádio, por exemplo (o que não é de hoje, muito pelo contrário). Mas convém que o exemplo não se alastre aos outros “media”. Chegado aqui, deixem-me perguntar: teria a oferta sido feita se Scolari tivesse na mó de baixo? Resposta: Sei apenas que não foi.

4. Um gesto destes tem outro problema: uma manobra de grupo desta dimensão torna os jornalistas menos independentes não só em relação ao visado (Scolari) como, sobretudo, em relação uns aos outros. Ou seja, dilui a concorrência “inter pares”, que é uma das melhores garantias da qualidade do jornalismo. Além do mais, coloca na posição de ostracizados (maus da fita, ovelhas negras, o que se queira) os que decidiram, com todo a legitimidade, não alinhar. É injusto.

5. Enfim, numa palavra: não havia necessidade.

João Pedro Henriques falava da seleção, mas não se aplicará tudo o que ele escreveu à cobertura militante, e quase sempre parcial, tendenciosa e unilateralista do Público ao caso casa Pia ?

Qual foi afinal o destaque dado pelo Público às alegações do MP quando comparado com os rios de dislates e absolutos fretes - porque não há outro nome - de António Arnaldo Mesquita aos seus "amigos" ? Onde esteve da parte do Público o exercício ao contraditório ? Será que José Manuel Fernandes não se lembra de algumas das prosas que assinou e doutras que abalizou?

Por uma questão de coerência José Manuel Fernandes devia era pedir desculpa aos seus leitores e - enquanto ainda é director - despachar o Mesquita para a crítica cinematográfica, aí pelo menos todos saberiamos que falaria só e apenas de fição.

A indignação de Fernandes para o facto de haver "opiniões para tudo" no sistema judicial português tem ainda uma outra pitada de ironia - é que essas opiniões "alternativas" só tem espaço para respirar porque a comunicação social - como o Público - pura e simplesmente não cumpre o seu papel. Cumprisse e haveria certamente menos desplante para certas tomadas de posição...

Ainda sobre a Casa Pia uma nota sobre Ferro Rodrigues - a criatura só não terá acusada pela única e exclusiva razão de que os crimes perpretados de que seria (co-)autor já teriam prescrito. Será que ninguém no PS percebe a gravidade disto ? Será que não percebem que Ferro será sempre uma marioneta telecomandada por terceiros, quiçá até potências estrangeiras ? Ou é precisamente por Ferro não mais poder passar de uma marioneta nas mãos de terceiros, que subitamente já todos os apoiam no seio do PS para PM ? Ressalva-se a sobriedade, já demonstrada aquando do caso Pedroso, de José Lamego...

Publicado por Manuel 11:25:00  

3 Comments:

  1. António Balbino Caldeira said...
    O joão Pedro Henriques é o escrupuloso jornalista que lançou o boato do "Vampiro das Saunas", em que dizia citar o Le Point...

    Não tem vergonha.
    irreflexoes said...
    Caro Manuel,

    Pela última vez, prometo a mim próprio, depois de dois comentários sem resposta no último post sobre esta matéria (http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/2004/06/este-no-coxo.html), venho TENTAR - só tentar - levá-lo a problematizar um bocadinho mais as coisas:

    1) Se a palavra da justiça não lhe serve no caso de Pedroso, porque é que a palavra da justiça lhe serve para dizer que Ferro é co-autor (não cumplice, mas co-autor, o que é um preciosismo interessante) seja do que for?

    2) Face ao histórico, como é que acha, hoje, que o 24 horas até favorece Pedroso ao não salientar certos factos?

    3) Face aos dados conhecidos como é que interpreta que continuem sob suspeita pública - e a GL tem ajudado no que pode, como é exemplo este post - apenas e tão só políticos do PS? Acha que existe uma tendência de perversão sexual indelevelmente associada ao socialismo?

    E repito as minhas perguntas anteriores, uma vez que volta a "bater" nas mesmas questões:

    1) É Paulo Pedroso quem possui os albuns de fotos usados pelo MP e pela PJ? Caso tenha cópia (e mais não terá), pode ele divulgar tal elemento do processo? Mesmo que entenda que o pode fazer, para que serve isso senão para promover um julgamento popular?

    2) Não tenho acesso ao Processo, mas o quesito resulta ou não da acção do MP? Se sim, a existência do quesito diz-nos alguma coisa sobre o momento e a forma pela qual a questão foi introduzida no processo? Se Paulo Pedroso tinha tal sinal cutâneo e o removeu cirurgicamente (do que duvido, porque essas operações deixam marcas que um examinador experimentado não deixará de identificar, especialmente se forem "frescas") tal foi tornado possível pela inpécia da investigação, que nem soube aproveitar a doutrina do "prender para melhor investigar" sufragada pelo Mmo. Rui Teixeira.

    Repito, pela enésima vez, não li o Processo, não conheço Paulo Pedroso, sei apenas que ele foi dado como inocente.

    E se me vem dizer que a não pronúncia é diferente de um veridicto em julgamento só tenho a responder-lhe que, então, importa reconhecer ao arguido não pronunciado a possibilidade de pedir para ir a julgamento. O que, actualmente, não acontece.

    Seja ele culpado e, então, cabe à justiça reparar isso. Até lá, que tal deixar funcionar a presunção de inocência, reforçada por uma decisão de não pronúnica?
    josé said...
    Qualquer pessoa que alguma vez tenha feito investigação criminal de crimes sexuais e esteja ao corrente do tipo de indícios e provas que é possível obter nesses casos, ao ler a motivação de recurso do MP, fica ciente, sem margem para qualquer dúvida, de que o arguido Paulo Pedroso deveria ter sido pronunciado.E fica perplexo com a não pronúncia.


    AS provas indiciárias, quanto a mim, são de tal ordem que a confirmarem-se em tribunal, em julgamento, o arguido será irremediavelmente condenado.

    É esta a minha opinião. Mera opinião, mas tranquila e desapaixonada, depois de ter conhecimento do teor da motivação de recurso, como aparentemente os jornalistas tiveram ao transcreverem partes, sem aparentemente lhe captar a essência.
    Discutir nos jornais ( ou nos blogs) a questão da foto ou do aparelho dentário ou das manchas não sei onde ( e não sei porque serão muitas e espalhadas) é um exercício fútil porque a essência da prova indiciária não reside aí. Reside nos testemunhos, que são vários e qualificados e em muitos outros casos têm conduzido a condenações. Uma delas, aliás, da autoria de um juiz que libertou o tal arguido, e proferida pouco tempo antes dessoutra decisão, é pródiga em considerandos sobre a validade dessas provas.

    Quanto aos jornalistas, continuo a pensar que seria preferível não darem opinião quando escrevem notícias. Deveriam ater-se a factos e no caso de que falam, foi notório o "penchant" a favor do tal arguido. Nada tem de mal, mas não me venham depois dizer que isso é jornalismo. Não é! É crónica tavestida de notícia! E é só isto que me levou a escrever textos ácidos contra o referido Mesquita. Porém, sans rancune. Aliás, parece-me que algo se emendou e se assim for e se mantiver a tendência, serei o primeiro a reconhecer como já reconheci em relação à Tânia.
    Parece-me também que o jornalismo se aproxima um pouco do papel de um magistrado: objectividade, rigor e a isenção e independência possível e desejável- quanto mais melhor.
    São qualidades que gostaria de ver generalizadas e por isso as aprecio quando as vejo.

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