"Para onde caminhamos" - I
terça-feira, junho 08, 2004
Muito se tem falado ultimamente de convergência. Aliás é uma palavra que nos entra pelos telejornais e jornais adentro, sem que nós, consigamos na maioria das vezes discernir, exactamente o que ela significa em concreto. Normalmente, se estamos num período de expansão económica, os profetas apressam-se a elogiar que Portugal está cada vez mais próximo da União Europeia. Se estamos a atravessar um período de contracção económica, os mesmos profetas, desdizem-se, e indicam que a cauda de uma qualquer tabela é e será sempre ocupada por Portugal.
A história recente da nossa economia está intimamente ligada com o conceito de convergência, ainda que nos seus mais variados sentidos. Numa primeira fase, que decorreu entre 1974 e 1985, o objectivo primordial era a convergência política, através de uma consolidação da democracia. No período de 1985 a 1997, a liberalização económica foi a grande aposta, quer pelas privatizações, quer pelo mercado europeu, quer acima de tudo, por uma procura de uma convergência nominal. A terceira fase que terá começado em 1998 - resultante da entrada na moeda única – deveria marcar um período onde de facto se procurasse a convergência real, enriquecendo o país, acelerando o crescimento do PIB per capita.
Ainda, que muitos apontem em sentido contrário, sem convergência política não haveria liberalização – convergência nominal - e sem convergência nominal, muito dificilmente se chegaria à convergência real da economia portuguesa.
No fundo, a convergência real significa o aumento do nível de vida dos portugueses, que no caso de não ser atingida, por mais pessimista e racional que seja, as fases anteriores não terão feito sentido. Há ainda quem defenda, que sem uma convergência real, poderemos ter um regresso ao passado. A convergência nominal, significa reduzir o défice orçamental e as despesas públicas face ao PIB, no fundo ter-se um Estado menos pobre, ou por outras palavras, ter-se um Estado mais rico. Mas fará algum sentido um Estado rico num país pobre. Não. E menos sentido, fará, se nos recordarmos, que uma das acusações que naturalmente fazemos a Oliveira Salazar era de termos um Estado rico num país pobre. Paradoxal, mas ao mesmo tempo suficientemente suportado para ser credível.
A manterem-se as actuais taxas de crescimento do PIB Portugal está a convergir muito devagar tendo inclusivé nos dois últimos anos, crescido abaixo da média europeia – de facto o crescimento negativo foi superior em Portugal à média europeia. O prazo de convergência é tão grande, que por muito que custe ouvir, Portugal arrisca-se a não a conseguir. Primeiro porque utilizando as taxas de crescimento dos últimos 15 anos e dada as diferenças entre o PIB português e o PIB (EU15) a manter-se a actual tendência demoramos cerca de 50 anos a a conseguir. Se pretendermos chegar por exemplo ao nível do Luxemburgo – topo da tabela – então o prazo sobe para os 100 anos.
E se por um lado o longo tempo de convergência acaba paradoxalmente por ser a boa notícia – permitirá ao país preparar-se convenientemente e a definir uma estratégia de desenvolvimento a longo prazo, de forma sustentada , por outro lado, parece que à medida que o tempo passa, o tempo de convergência real aumenta. No fundo, quando crescemos, somos de facto mais rápidos que a média europeia, mas o diferencial tem-se vindo a esfumar. E hoje já não existem as diferenças no crescimento provocadas pelos fundos comunitários e pelas reformas que Cavaco Silva introduziu na economia na década de 80. Pior, hoje, quando crescemos, há países que crescem mais rápido que nós. Paradoxalmente, os países de topo e o aluno-exemplo irlandês.
A tudo isto, a classe política no Governo, ou na oposição, reage de uma forma quase indiferente, recusando-se a ver, que a única solução, passará por um compromisso de longo prazo.
Assim, a Grande Loja, numa iniciativa que julgamos meritória e que gostavamos de ver partilhada por muitos dos que na blogosfera escrevem, irá publicar um conjunto de textos, sequenciais, relativos à convergência real da economia portuguesa. A partir de hoje e durante duas semanas serão publicados textos às 2ªs e 4ªs feiras num estudo intitulado “Para onde caminhamos ?“.
Publicado por António Duarte 22:51:00