O pensamento do dia...
quinta-feira, junho 03, 2004
«Um dos mais graves problemas do nosso tempo é a praga do Politicamente Correcto, cujo cerne, o relativismo cultural, nos proíbe a afirmação de que uma civilização é, ou não, superior. Passámos da sobranceria europeia do século XIX para a hipocrisia relativista do século XXI. Caso tivesse vivido actualmente, Max Weber teria tido certamente dificuldade em ver publicado o seu livro «A Ética Protestante e O Espírito do Capitalismo», onde o êxito é visto como estando ligado a uma crença religosa.
E, no entanto, não parece difícil defender a superioridade da civilização ocidental. Ninguém pode negar ter sido ela a pioneira na separação entre política e religião, um factor decisivo para a criação dos Estados modernos, como ninguém pode contestar o facto de ter sido ela a permitir, no seu interior, o desenvolvimento da ciência moderna. Finalmente, foi ela, e só ela, quem estabeleceu, no seu interior, mecanismos capazes de controlar a tirania.
Pelos vistos, para os adeptos do relativismo cultural, coisas como os sistema de garantias do indivíduo diante do Estado, a democracia e a separação de poderes pouco contam».
Maria Filomena Mónica, in «Os Sentimenos de Uma Ocidental», Quetzal Editores, Lisboa, 2002
N.A. Nestes tempos de confusão ideológica, é sempre bom colocar este tipo de questões em pratos limpos, desta forma clara como pôe Filomena Mónica no excerto acima citado. Temo que só depois de novos 9/11 e 11/M, sejam eles em New York, em Madrid, ou agora, quem sabe, em Lisboa, os tais adeptos do relativismo hipócrita percebam do que é que estamos a falar. O mundo ocidental conquistou uma matriz de direitos, liberdades e garantias que não nos podemos dar ao luxo de deitar fora. Foram séculos de conquistas, com avanços e recuos certamente, mas que configuram uma visão aberta e diversificada de encarar o Mundo. Não podem ser meia dúzia de grupos terroristas, financiados pelos interesses mais paradoxais, a destruir essa progressão. Os adeptos do relativismo cultural queixam-se de barriga cheia - esperemos que não tenham que sentir na pele o cheiro infame do sangue das bombas, das explosões e dos massacres.
Publicado por André 03:11:00
2 Comments:
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Já agora podias explicar. Em que é que os atentados vieram destapar para que os adeptos dessa "hipocrisia relativista" consigam perceber o que falam?
Desde quando e onde é que os adeptos essa "hipocrisia relativista" defenderam que se podia deitar fora os direitos, liberdades e garantias conquistados? Onde? Quando?
Os adeptos do "relativismo cultural" queixam-se de barriga cheia do quê?
Não sei se sou aquilo que vós adjectivam de hipócrita o que sei é que não sou de impôr a outras culturas, nem defender para elas, os valores da minha tradição. Sei que prefiro na generalidade esses aos dos outros, mas nunca assumi-los como superiores. Porque se perguntares a um àrabe o que ele acha ele dir-te-á que os dele são superiores. Hipócrita é quem não conseegue ver isto.
Costuma-se chamar progresso a esta evolução. Costuma-se valorar como mais humana a que mais atenção atingiu para com o ser humano. Há quem use o termo superior quando isso acontece. São palavras, pouco interessa. O que interessa agora é recordar que também há quem consiga olhar para isto tudo como se não houvesse diferenças. E mais, olhar para isto tudo como se fossem valores equivalentes. Por último, há quem diga que esse exercício tem o nome de relativismo moral.
E também há quem diga que esse relativismo moral não passa de um truque político tendo em vista fazer valer programas políticos à custa de fazer fogo sobre o “mesmo quartel general”- EUA, mundo Ocidental, nós. Partindo da ideia (também programática e política) que o outro é a vítima, que o “outro” é fabricado pelo tal inimigo escolhido.
O problema de "assumir" como superiores ou não "assumir" são palavras. Geralmente servem para esconder debaixo do tapete aquilo que incomoda. Se me falasses em cultura, em património histórico, isso era outra conversa. Mas estava-se a falar de formas de sociedade tirânicas em que o valor da vida só conta para o ditador.