"Não respondam"
sábado, junho 12, 2004
O «Dia de Portugal» foi este ano celebrado em Bragança, como disse João Bénard, perante um Portugal «ausente e distraído» pelo futebol e (muito menos) por eleições de fantasia. Infelizmente, não ouvi esta vingadora frase. Quando liguei a televisão, já ele estava a dissertar, em prosa poética, sobre a cultura transmontana. Não me pareceu coisa susceptível de excitar os povos. Não é grave. O sr. Presidente da República também não conseguiu excitar ninguém: falou de «coesão» (?), de assimetrias, do voto e por aí fora. O costume. Vieram a seguir uma menina e um menino recitar Camões, que o recitaram exactamente como se esperaria de uma menina e de um menino: ou seja, coitadinhos, muito mal. Depois disto, apareceu a zabumba da terra, com um portentoso trombone, que desafinou com grande entusiasmo um Aleluia de Handel. Julguei que estava em plena Morgadinha dos Canaviais. Não estava. Chegara o soleníssimo momento das condecorações. Sampaio condecorou profusamente o funcionalismo (o alto) e meia dúzia de beneméritos, como Solnado e Santos Silva, que o Estado não paga. Com certeza não lhe explicaram que a proporção era perversa. Verdade que não lhe podem explicar tudo. E assim acabou a cerimónia, com a assistência a cantar o hino, que o trombone estentoreamente acompanhava. Pelos jornais de sexta, soube que Barroso e Portas tinham sido vaiados. Consta que o «Dia de Portugal» se destina a espevitar o nosso combalido ego colectivo. A culpa é do general Eanes, que em 1977 inaugurou na Guarda esta grotesca tradição. Mas, por simples decoro, ela devia manifestamente acabar. Não haverá outra forma de festa nacional um pouco mais digna e com alguma pompa e circunstância? É mesmo fatal esta pindérica romaria, que o país despreza ou ignora? Não respondam.
Vasco Pulido Valente in Diário de Notícias
Publicado por Manuel 01:52:00
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