euro-quê ?
quinta-feira, junho 17, 2004
Num dos seus melhores textos dos últimos tempos, José Pacheco Pereira no Público - aquele jornal simpático onde se reza minuto sim, minuto sim para que Manuela Ferreira Leite vá para Bruxelas de modo a assim ficarem sem censor, digo Director - faz uma análise fria e objectiva da situação política actual. Digo fria, mas se calhar deveria dizer mesmo gelada.
E que nos diz Pacheco ? ...
(...) É pois uma luz premonitória sobre o futuro do PSD coligado que estas eleições lançam. As coligações fazem-se por similitudes de política, por programas do governo comuns, por resistência face a alianças adversárias que assumam também a forma de coligações, em todos os casos a partir de um mínimo denominador comum. Esse denominador comum pode ser tanto mais mínimo quanto maior for o sentido de urgência e necessidade. Seria errado dizer-se que não existe um mínimo denominador comum na aliança PSD-PP, mas seria ainda mais errado presumir que ela se faz muito acima do mínimo. É uma aliança que tem razões puramente tácticas e que se centra em criar condições instrumentais para o exercício do poder. Havia outras formas de as garantir, como um acordo parlamentar, e ter passado de um acordo parlamentar, único necessário, para uma coligação de Governo foi a mestria do PP na noite eleitoral das últimas legislativas.
Sendo as coisas como são, a coligação é um facto da vida até 2006. Agora se se propõe uma aliança estratégica a longo prazo, já ouvi falar em 2012 (e porque não para a eternidade?), então estamos a falar de outra coisa. Estamos a falar de uma fusão de facto de dois partidos.
Não é difícil de prever em que condições a coligação se pode desfazer: depois de uma derrota eleitoral nas legislativas em que os dois partidos corram coligados. Nesse cenário, a coligação será a primeira vítima; Durão Barroso, a segunda; a coesão do PSD, a terceira. O período de tumultos que se seguirá colocará em confronto os que pretenderão fundir os dois partidos numa liderança populista e os que pretenderão salvaguardar a independência política e estratégica do PSD. Não estou certo de quem ganha.
Em paralelo n'O Acidental onde aterrou uma cabeça que parece pensante - Eduardo Nogueira Pinto - discutem-se os prós e contras quer da coligação de Direita para as Europeias quer da miscenização do PSD com o PP.
O texto de Pacheco e as reflexões acidentais tem em comum um ponto - a Europa. N 'O Acidental o grande ponto de clivagem parece ser em torno de euro-qualquercoisa, e Pacheco estranha que não haja eurocéticos a sério em Portugal, facto que acha uma manifesta anormalidade.
A questão, como habitualmente, é bem mais simples e deveria fazer gelar de vergonha muito boa gente...
Faz todo o sentido trazer para a praça pública um debate ideológico, sofisticado e sem dúvida importante sobre um tema como a Europa mas só e apenas depois de as bases que sedimentam esse mesmo debate - conceitos políticos, económicos, estratégicos, etc... - estarem perfeitamente definidas.
Ora, se há coisa que não há é definições políticas em Portugal. A Esquerda e a Direita são mais chavões que outra coisa por culpa única e exclusiva dos intervenientes. A política em portugal não se pode confinar às pantominas do Professor Marcelo e às acrobacias do Bloco, é preciso muito mais. Apresentar ou defenfer uma "ideologia" não é necessariamente sinónimo de populismo, demagogia, simplificações patetas ou uso e abuso dos chavões du Jour é apenas, e só, sinónimo de ter um projecto, um rumo claro com objectivos bem definidos...
Esse Projecto, esse Rumo e esses Objectivos, até agora, não existem nem no PS nem no PSD, muito menos no PP... Ora sem projectos, e sem propostas concretas, para arrumar a casa por dentro como querem estas alminhas que os portugueses se preocupem, a sério, com o condomínio ?
Publicado por Manuel 19:17:00
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