Eleições

Se os portugueses votarem no domingo, 13, vão votar «contra o Governo» ou «pelo partido» ou pelas duas coisas. Mas votar «contra o Governo» implica um zelo especial, porque não está nada imediatamente em causa; e «votar pelo partido» interessa sobretudo a quem depende dele. Além disso, com ou sem a autorização do sr. Barroso, há uma «ponte» entre quarta-feira, 9, e a segunda seguinte. E há o futebol: a 12, o Portugal-Grécia, no Porto; e, a 13, o França-Inglaterra, em Lisboa. Na estrada, na praia ou num estádio qualquer quase ninguém irá pensar em eleições. De resto, as patéticas personagens que por aí andam em «campanha» (dizem elas) foram universalmente ignoradas. Daqui decorre que os resultados do dia 13, com uma abstenção esperada de 70 por cento e sobre uma matéria, a «Europa», que o País não entende, deviam ser em princípio irrelevantes, se existisse algum senso comum e sensatez. Como não existe, nuvens de políticos, trazendo à trela os seus «comentadores», já se preparam para reclamar vitória e extrair do exercício várias consequências que ele não permite. Para o CDS e o PSD, a vitória é não perder um deputado e a conclusão é a de que toda a gente gosta da coligação. Para o PS, a vitória é ter mais votos do que o CDS e o PSD (e a Esquerda mais do que a Direita) e a conclusão é a de que Portugal quer o PS e o sr. Ferro (ressuscitado no Congresso, evidentemente). Para o BE, a vitória é eleger um deputado e a conclusão é a de que ele representa o futuro da Esquerda. E, para o PC, coitado, a vitória é, como sempre não morrer e a conclusão é a de que ainda mexe um dedo. Esta comédia sem sentido, para uso privado da «classe política» e adjacências, revela um desprezo radical pela própria ideia de legitimidade democrática, para não falar do pobre «povo soberano». Apesar disso, lá a veremos, como de costume, e com a desvergonha do costume.

Vasco Pulido Valente in DN


Publicado por Manuel 00:25:00  

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