Vasco Pulido Valente | |
Responsabilidade Há mais de um ano que Portugal fala sem parar da rede pedófila da Casa Pia. O caso atulhou a imprensa e as televisões, deu cabo do PS e empurrou para a sombra tudo o que verdadeiramente interessava o país. Temos vivido numa dieta forçada de pedofilia e estamos todos fartos de pedofilia. Mas nunca nessa longa história apareceu uma pergunta básica e, por assim dizer, obrigatória: quem eram os responsáveis políticos pela coisa? Afinal, sendo a Casa Pia uma instituição do Estado, tutelada por um ministério, há com certeza políticos que por negligência permitiram o abuso sistemático de crianças sob a sua guarda. A esses não se pediu seriamente contas, a pretexto de que não sabiam, ou se lhes podia pedir que soubessem, o que se passava. O Parlamento e os partidos não quiseram incomodar a sua gente. A opinião concordou. E agora esta cegueira volta à cena com o «Apito Dourado». Um exemplo. Até prova em contrário, a lei manda presumir a inocência de Valentim Loureiro. Muito bem. Só que nada, rigorosamente nada, justifica a ascensão desse major aos cargos que ocupava (e, em parte, ainda tranquilamente ocupa): conselheiro nacional do PSD, vice-presidente da Mesa do Congresso, presidente da Câmara de Gondomar, presidente da Junta Metropolitana e do Metropolitano do Porto. Mesmo com o Boavista e a Liga (que, em bom princípio, o deviam desqualificar para grandes voos), Valentim Loureiro precisou da cumplicidade e do apoio de várias direcções do seu partido para chegar onde chegou. Essas direcções, que o promoveram e usaram, são inteiramente responsáveis por ele e pelas suspeitas que sobre ele impendem. Fingir que não é uma descarada hipocrisia. A responsabilidade política existe e não deixa de existir quando convém. Esperemos que não se esqueça este facto simples, como foi esquecido na questão Casa Pia. |
Publicado por Manuel 01:38:00