Limiano às Fatias
Edição nº 5 - 01 de Maio de 2004

Editorial

Depois de durante muitos anos termos assistido a uma aparente calma , de pequenos e insignificantes escândalos que em pouco ou nada afectavam as classes dominantes ou eventualmente atingidas, o panorama mudou, e de que maneira em Portugal. Sinais dos tempos ou apenas o reflexo de uma sociedade democrática onde a corrupção e o tráfico de influências são vírus que se propagam à velocidade da luz.

Primeiro foi o mediático Caso da Casa Pia, que envolvendo personalidades de nome e responsabilidade, atirou para as primeiras páginas constantes desenvolvimentos e investigações dos jornais. Tudo começou as declarações inocentes sobre uma universidade privada e que rapidamente se tornou num escândalo com dimensões internacionais. Depois da suja Bélgica de Marc Dutroux, chegou a vez de Portugal conhecer aquilo que todos já sabiam que existia , mas que quase todos tinham medo. Rapidamente os advogados mais famosos deste país foram contratados para defender, as vítimas – indiciados de pedofilia – dos ataques de difamação de que eram vitímas das crianças manipuladas.

Depois, veio o escandâlo Apito Dourado. Aquilo que a princípio parecia ser um “simples” caso de corrupção no futebol, para aparente benefício de um clubezeco de segunda linha nacional, rapidamente se está a transformar numa verdadeira teia de favorecimentos políticos a empresas e consórcios, envolvendo todos no mesmo ramalhete.

Ao ser tornado público que afinal o Major também terá usado da sua importância no consórcio do Metro do Porto, beneficiando em 23 Milhões de Contos a NorMetro, surge o alegado envolvimento da Câmara Municipal da Figueira da Foz (ainda com Pedro Santana Lopes como presidente) e o Grupo Amorim  (Valentim Loureiro foi representante no negócio) ao apresentarem uma mais-valia em apenas 24 horas, de um valor superior a 1 milhão de euros num negócio tripartido. Com as escutas apensas ao processo de instrução, foi pública a história das fábricas de conserva, das ligações do programa PER a Gondomar, e as preocupações do Major em contactar Arnaut para sossegar Durão Barroso.

Depois e talvez não contentes, são as sequelas do caso Felgueiras, com a empresa RESIN, afinal a estar envolvida em mais autarquias , ridiculamente da mesma forma que estava em Felgueiras. Não sabemos se mais autarquas vão desertar, mas sabemos que provavelmente mais câmaras vão arder, da direita à esquerda.

Ainda não satisfeitos, as perigosas ligações que a Inspecção Geral de Finanças detectou entre o Futebol Clube do Porto, a autarquia do Porto, na cedência dos terrenos do futuro estádio do Dragão. Rui Rio sempre afirmou que havia ilegalidades e teve metade da cidade contra ele, por estar a prejudicar o clube . Como é possível que uma cidade prefira que se beneficie um clube em prol de um país. Agora sabe-se que Nuno Cardoso já teve a visita dos novos cobradores do fraque – Polícia Judiciária – e que o Fernando Gomes já disse que o negócio é da responsabilidade de Nuno Cardoso, pois ele de nada sabia.

Mas e para terminar em beleza, o aparente processo de corrupção nas escolas de condução da Tábua , tem apenso ao processo várias escutas telefónicas, que entre outras coisas constam coisas como “Virgilio Sobral de Sousa pergunta pela nossa vida a António Preto, ao que este responde que o nosso amigo Carmona Rodrigues disse para estarmos sossegados” ...

A justiça ainda não deu provas de funcionar em Portugal, mas a investigação marca pontos atrás de pontos, e não fossem algumas bocas soltas que vindas de directores, ou coordenadoras nacionais, que parecem mais encomendadas para espantar a caça do que para informar , então os resultados seriam certamente de outra nomeada.

Mas, os portugueses que estejam tranquilos, pois quando o verdadeiro escândalo que toda a imprensa internacional cita, envolvendo uma empresa portuguesa de petróleo através de uma subsidiária sua com sede no Liechenstein rebentar cá dentro, então aí, teremos o verdadeiro terramoto que alguns falam mas poucos sabem medir a escala.

Para já dormimos todos embalados pela música que toca no rádio.


Alargamento Europeu - Novos Desafios

É oficial, a União Europeia passa a ter 25 países, cerca de 500 milhões de habitantes, e mais uns problemas acrescidos para resolver. Para começar o problema de Chipre, que adere a União Europeia apenas atráves da metade sul da Ilha, deixando a parte norte com os turcos de fora, depois o impasse eterno que os balcãs sempre vêm adiando, a União herda 10 novos países , 8 deles que a segunda guerra mundial deixou do lado errado da cortina de ferro.

O maior bloco comercial a partir de hoje, constrasta com o fraco ritmo de crescimento das economias em comparação com o vigor da america, o envelhecimento da população anteve uma crise nos sistemas de segurança social, e o distanciamento das emergentes economias asiáticas que podem constituir uma ameaça ao crescimento económico europeu.

Sem dúvida que se vive hoje um dia histórico, onde os caminhos conciliadores de paz, liberdade e vigor económico podem encontrar um marco comum. Mas o mundo depois de 11 de Setembro mudou, a segurança e os riscos são autênticos multiplicadores de anseios e convicções, a à parte do alargamento, que todos saúdamos, existem inúmeros riscos.

O primeiro surge da perda de homegeneidade do espaço europeu. Os novos países trazem de facto sangue novo a União, uma cultura muito própria, e grandes divergências nos aspectos económicos. Estará a União preparada para enfrentar autênticas vagas de migração dentro do espaço comunitário ? Mesmo os indicadores económicos que aparentemente apresentam crescimentos económicos superiores a média comunitária estão largamente empolados pelos mecanismos de pré-adesão que a União disponibilzou- cerca de 750 Milhões de Euros - e contrabalanceados pelos défices de 12,6 % da República Checa ou as elevadas taxas de desemprego nos países PECO ( Países Europa Central e Oriental ) que aderiram hoje. Com tudo isto é de esperar consequências nos orçamentos comunitários e aumento das quotas dos seus financiadores – países – que poderão não ver com bons olhos o aumento do seu “dízimo" .

Segundo a Comissão, os custos resultantes do alargamento serão financiados através de algumas economias ao nível das políticas da União, em especial da política de estruturas (10,1 Milhões de Euros), o que não deixará de ter reflexos na coesão económica e social, podendo passar a ideia de que o alargamento se está a fazer à custa dos países menos desenvolvidos, entre os quais Portugal. Para além disso, será necessário um aumento dos recursos próprios comunitários de modo a permitir a cobertura dos cerca de 70 Milhões de Euros restantes. Como os recursos próprios tradicionais são relativamente rígidos e constituem uma pequena parcela dos recursos próprios totais, estes custos acabarão, necessariamente, por ser financiados pelos recursos IVA e PNB, o que exigirá um esforço financeiro dos Estados membros proporcional à sua riqueza relativa.

Ainda que todos nos envaideçamos, os desafios são de facto enormes para a Europa, mas também para Portugal. Recordando os tempos que marcaram a nossa adesão, os desafios da altura não foram de facto concretizados, e se por um lado se abrem hoje novas janelas de oportunidades, por outro lado Portugal poderá ter perdido a sua vez, tudo dependendo da forma como se relacionar com os novos países, mas sobretudo da decisão do caminho que quiser percorrer na sequência da estratégia de Lisboa, reforçando a sua credibilidade externa, afirmando-nos como parceiros credíveis e cooperativos.

Ainda a Bombardier

Depois de todo o escândalo que envolveu a Bombardier, soube-se agora, que na câmara municipal da Amadora, existe um plano de urbanização , permitindo a construção em altura nos terrenos ainda ocupados pela Bombardier, datado de 2002. Ou seja já em 2002 que o municipio da Amadora sabia que poderia existir ali qualquer coisa - deslocalização da empresa - .

Estranho são as críticas do socialista Joaquim Raposo, à actuação do Governo na resolução do caso Bombardier, quando ele se preparou há dois anos para efectuar alterações ao PDM da Amadora, permitindo assim a construção. O estudo de urbanização para a zona existe desde 2002. O seu promotor é a Câmara Muncipal da Amadora. O seu presidente Joaquim Raposo.


10 anos depois

Faz hoje precisamente dez anos que o Ayrton Senna da Silva nos deixou. Um dos melhores gigantes que a fórmula 1 já conheçeu. Dez anos, como o tempo passa, mas gratificante saber que as memórias ficam.

Frases da Semana

"Portugal deixa de estar na cauda da Europa"
João de Deus Pinheiro, cabeça de lista pela coligação PSD/PP ao Parlamento Europeu, respondendo depois de mais um birdie, qual seria a principal consequência para Portugal. De entre tanta coisa para dizer, Deus Pinheiro, escolheu o mais óbvio. Os eleitores costumam ser mais selectivos.


"Estou triste mandamos a soberania para o cesto dos pápeis "
Manuel Monteiro, líder da Nova Democracia. Caso Manuel Monteiro não se tenha apercebido, mandamos a " soberania " para os pápeis quando assinamos Maastricht e ratificamos Amesterdão, era o senhor deputado do partido hoje na coligação. Não foi hoje Drº, foi em 1996.


Sugestões de Fim de Semana

Nada como à beira do Europeu exercitar os nosso dotes de futebolista. Aqui . Bons Golos !!!

Publicado por António Duarte 20:41:00  

0 Comments:

Post a Comment