Tempestade no Canal

Certamente que o conceito ceteris-paribus, ou melhor a sua assumpção consiste num dos erros mais comuns da análise económica, considerar que uma simples alteração de uma variável de um modelo macro económico, pressupor que tudo o resto fica constante ou melhor é exogéneo.

O post do tempestade cerebral levanta certamente questões importantes do ponto de vista de análise económica, e que passam, para que se possa fazer uma análise correcta das relações causa-efeito, por aplicar os efeitos multiplicadores. Não me custa muito faze-lo, mas no artigo em causa, que não trata apenas das...

“consequências da redução do imposto sobre os produtos petrolíferos"

... mas sim sobre a eventualidade de um terceiro choque petrolífero ficaria demasiado pesada a seguinte análise carecendo mesmo de fundamento a conclusão a que chega, pelo mesmo princípio “ceteris-paribus“,que criticando acaba por aplicar, senão vejamos...

"Com uma a escalada da inflação, acima do crescimento dos salários nominais , temos uma perda real do poder de compra, com consequente quebra no consumo. Os governos centrais nada podem fazer, uma vez que o único instrumento que dispõem é o orçamento, e a única hipotese no caso português seria descer o ISP - imposto sobre petróleo que garante cerca de 10% das receitas fiscais. Uma descida na taxa de imposto só iria agravar ainda mais o défice orçamental."

Um agravamento do défice orçamental, implicará uma subida dos juros da dívida, obrigando à emissão suplementares de obrigações da dívida pública a taxas mais baixas – dada a falta de liquidez do mercado obrigacionista – que normalmente são atribuídas a República Portuguesa pelo seu rating.

Ou seja, o financiamento do défice pelo aumento da dívida a médio e longo prazo, traduzir-se-á, e dada a conjuntura pouco expansionista a três opções se o Governo estiver de facto interessado em equilibrar as contas públicas - penso não ser necessário explicar a razão pela qual na minha óptica as mesmas devem estar equilibradas ou melhor no limite do PEC...

  • Subida dos Impostos directos ou indirectos para reequilibrar as finanças públicas.

  • Corte nas despesas corrente - diminuição de empregados ou congelamento de salários – ou despesas de investimento – choque ao investimento.

  • Medidas Extraordinárias...

A primeira opção acima descrita reduz, de imediato o rendimento disponível (Rendimento – Imposto + Subsídios), e como tal causa um efeito de diminuição na procura interna. Ao diminuir a procura interna, as empresas não vendem, e são obrigadas a ajustar os seus quadros de empregados. O aumento do desemprego, causado pela retracção no consumo privado traduz-se num acréscimo imediato das despesas orçamentais da Segurança Social via subsídios de desemprego, e uma diminuição do arrecadar das receitas via impostos directos pela diminuição de contribuintes.

A segunda opção se tomada pelo corte das despesas correntes, assume um efeito-duplo. Por um lado o multiplicador do emprego não contribuí tanto para o produto, e por outro o Estado deixa de ter um determinado valor orçamentado de despesas correntes. Mas ao despedir, aumentam as despesas com os fundos de desemprego. Se optar pelo corte das despesas de investimento, o estado para além de dar um sinal aos privados que não será “seguro” investir na economia, induzirá uma diminuição imediata do investimento, com consequências na geração de riqueza, diminuição do emprego.

A terceira opção tem a ver com uma das melhores best-praticesTitularização ao Citigroup por Portugal “. Como vender e negociar sem saber o preço do que se negoceia, como se negoceia e porque se negoceia.

Isto tudo, para lhe explicar que não é linear que uma diminuição do ISP, se traduza numa melhoria do rendimento disponível das famílias. E mesmo que assim fosse tão linearmente, um aumento do rendimento das famílias traduz-se no limite num aumento do consumo - maior arrecadação de receitas fiscais via IVA - e nunca directamente via IRS ou IRC, pois para haver mais IRS ou IRC cobrado, é preciso uma máquina fiscal eficiente ou criação de emprego, e o emprego lamento informa-lo não se cria directamente pela diminuição do ISP.

Já me esquecia, um aumento do consumo sem a adequada oferta interna, obrigaria o país a importar mais, desiquilibrando-se externamente, isto para além da inflação...

Tudo porque em casa de espeto, o ferreiro foi “ceteris paribus“...

Publicado por António Duarte 01:04:00  

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