"Promiscuidade ?"

O primeiro-ministro cancelou uma visita ao México para ver o Porto, em Gelsenkirchen, na Alemanha. Já antes, o dr. Mota Amaral tinha pedido ao sr. Pinto da Costa bilhetes para uma delegação solene da Assembleia da República. Majestaticamente, Pinto da Costa resolveu não responder e parece que delibera ainda sobre esta importantíssima questão. Entretanto, deputados meio loucos de incerteza esperam a esmola de um bilhete; e outros vão à sua custa com a coragem de quem cumpre um dever de consciência. O sr. Honório Novo, do PC, disse com grande entusiasmo que não se importava de «faltar» e de «arriscar o seu trabalho». O primeiro-ministro, o Governo e a Assembleia da República acham evidentemente que a sua principal e mais patriótica função é servir de claque a uma equipa de futebol. E até explicaram porquê. Porque uma vitória do Porto ajuda a «mobilizar» o País para o Euro e, sobretudo, porque aumenta a «auto-estima» dos portugueses. Como era inevitável, o futebol acabou por se tornar o fundamento por excelência do Estado. Muito bem. Mas, sendo assim, não há maneira de entender por que razão se deplora a «promiscuidade» entre o futebol e esse mesmo Estado. Em boa lógica, as câmaras que «protegem» o futebol prestam um inestimável serviço. Claro que, às vezes, por causa desta meritória obra, a lei leva uns ligeiros torcegões. Só que não é educativo agitar escandaleiras como a do «Apito», quando o sr. Barroso reconhece a importância nacional do jogo da Alemanha. Para existir, o Porto precisa de centenas de clubes como o Gondomarense, de que, aliás, também depende a «auto-estima» de Gondomar. E Ferreira Torres, Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro inauguraram uma nova espécie de herói e patriota, que o poder político agora, de facto, consagrou e a quem se identifica com gosto. Vivemos como vivemos. É escusado fingir que não.

Vasco Pulido Valente


Publicado por Manuel 23:59:00  

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