Petróleo - Calma e Inteligência
terça-feira, maio 18, 2004
Luís Delgado, eterno adivinho da retoma, decidiu meter-se pelos caminhos do petróleo.
Como qualquer caminhante, não se abasteceu em terra, e agora na parte final do percurso tem sido notório o desfalecimento, com consequências graves sobre os seus parceiros de caminhada.
Primeiro foram os estudos sobre o Carlyle Group, que durante três tomos, nos conveceram que afinal os senhores do Carlyle são meninos do coro, e que esta opção é a melhor para o país.
Luís Delgado esqueceu-se certamente por via do aumento do ar rarefeito a medida que subia, de perguntar ao peregrino Barroso, a razão pela qual existe um concurso se o Carlyle é o melhor.
No seu testemunho de hoje, no DN, Luís Delgado,diz-nos para termos calma, que afinal não passam de falsas ameaças, que podemos dormir com um olho aberto e outro fechado que o petróleo vai descer de imediato.
Depois das cerca 100 promessas de retoma, haverá alguém que lhe de qualquer credibilidade económica ?
Saberá ele sequer o que é um contrato de futuro ?
Saberá ele que Portugal apenas importa reservas de brent - à parte de umas "provenientes" do Iraque - e não utiliza as reservas americanas ?
Saberá ele que o verão americano que se aproxima, levará em 20 dias cerca de 35 milhões americanos a consumirem nos seus potentes carros, mais combustível, que os 40 milhões de espanhóis num ano inteiro.
Saberá ele que a última jazida de petróleo na Arábia Saudita foi descoberta em 1968, e que as reservas dentro de 16 anos, serão 20% a menos das actuais ?
A meio da montanha, soube que as reservas americanas estão no seu máximo de sempre, algo que a agência governamental lá do sítio afirma ser precisamente ao contrário.
É certo que. a 2.700 metros de altura o oxigénio demora mais tempo a chegar ao cerebro e, que, alguém lhe terá mostrado o mapa das reservas americanas ao contrário.
Depois, ainda que usadas de imediato, as reservas americanas seriam de imediato absorvidas pela necessidade de financiamento do défice americano. Aliás o país continua a endividar-se dia após dia, pois na necessidade constante de elevados fluxos de dólares, a Reserva Federal emite moeda para pagar as importações e o resto do mundo compra esses mesmos dólares, aguentando a sua cotação nos mercados financeiros, como forma de financiamento à compra do petróleo.
Mas Luís Delgado acha isto normal. Tão normal que ousa mexer no mercado monetário, sem saber, sequer, que o petróleo subiu 22% em dólares e 29% em euros, e que o caso só não é mais grave porque o euro se encontra acima do dólar. Ainda assim o impacto cambial não funcionou em Abril e em Março não diluiu por completo a subida do petróleo.
Não pergunto a Luís Delgado o que ele achará do facto de a energia, ou melhor os preços da energia estarem a subir vertiginosamente. Não lhe pergunto, sequer, se ele sabe que no planeta terra existe um fenómeno chamado inflação.
Mas certo é que quando os bancos centrais decidirem subir as taxas de juro por forma a controlarem a inflação provocada pelo aumento do preço do petróleo, evitando assim um choque no consumo, Luís Delgado, lá em cima da montanha, irá proferir, que a subida é atitude sensata dos governos, face à subida do preço do petróleo. Que tudo continua calmo, e que podemos continuar a dormir descansados.
Com a subida na montanha esqueci-me. A OPEC não activa a sua banda de negociação desde Dezembro de 2003, e decidiu na semana passada aumentar a quota diária em 1,5 milhoes de barris. O preço continuou a subir contrariando Luís Delgado. Normal certamente. Vamos manter a calma. A situação é tão calma que a mesma OPEC avançou com a ideia de passar a negociar em euros.
Allô, Luís Delgado...Allô???...
Publicado por António Duarte 00:48:00
Excelente e bem disposto post, Antonio!
Parabens!
Gostava de conseguir escrever assim...
Mas nao desisto, um dia la chegarei... Ou nao...
O confrade vai longe. Excelente post. Quando Luis Delgado o ler (e vai ler, nem que eu tenha de lho mandar por mail) vait ter uma apoplexia. Pode ser que estique o pernil e nos poupe a consciência.