Carrinhos de Choque
terça-feira, maio 18, 2004
Em primeiro lugar, e porque muito se têm falado em choques petrolíferos, convém realçar o que é de facto um choque petrolífero. Uma subida acentuada do preço do petróleo, de forma continuada e por um período de um ano ou superior a dez dólares por barril, levará a hipotecar a retoma económica.
Quanto aos efeitos, estou certo que o caro João Miranda, os saberá melhor que eu, mas que nunca é demais recordá-los, passam por uma inflação galopante – choque no consumo – seguida de uma subida das taxas de juro – choque no investimento – e consequente quebra no crescimento económico por via da diminuição da procura interna. Com o dólar a cotar da forma que esta, as exportações da zona euro para o parceiro americano, ficam mais baratas, e isso induz uma diminuição da procura externa.
O aumento do preço do petróleo da forma como está a suceder, onde já nem os mercados reagem ao aumento da quota, é por si só indicador de que as tais regras de mercado não estão a funcionar. Se por um lado as necessidades energéticas são cada vez maiores, as reservas do petróleo são cada vez mais baixas e, em 2010, poderemos ter a primeira crise energética a nível mundial.
Bastará certamente estar atento, e perceber que esta situação aconteceria mais tarde ou mais cedo. Primeiro porque o défice americano, tem servido de falso alçapão ao financiamento na aquisição de petróleo por parte dos mercados europeus, segundo porque fosse o estimado João Miranda um atento observador, e repararia que as previsões da União Europeia para 2004, assenta no brent a 27 dólares.
Mas se mesmo assim João Miranda acha que os governos não receberam sinais suficientes que os mercados estavam a especular com o petróleo, então bastará ver que o combustível usado para a aviação subiu 58% nos últimos 12 meses. Para mim mero economista nesta Grande Loja suficiente para me alarmar.
Não quero com isto, dizer, que vamos ter um choque, primeiro porque não domino os mercados, não tenho capacidade especulativa para os fazer mexer, e a subida em alta dos preços, não está nas minhas mãos. Mas peço-lhe encarecidamente que não faça como Pilatos.
Há muito que os governos sabem que as reservas vão terminar, ou pelos menos a tendência é essa. Há muito que se poderiam ter desenvolvido energias alternativas, não poluentes e capazes de substituir o petróleo em algumas das utilizações, pois se assim não foi, pergunto porque assinaram Rio de Janeiro e mais tarde Quioto ?
Um forte abraço, na certeza que saberá reconhecer que o erro aqui não é de Descartes, mas sim de pura e simples avaliação.
Publicado por António Duarte 17:15:00