Promiscuidades
quarta-feira, abril 28, 2004
Uma das maiores manifestações de mistura entre a política e a justiça, revelando a promiscuidade que todos dizem ser contra, mas que todos praticam, aconteceu em novembro do ano passado, quando nos paços da Assembleia da República, o arguido Paulo Pedroso no processo da Casa Pia, chegou triunfante como D.Sebastião numa tarde de nevoeiro, após a sua libertação e a Assembleia da República, tinha acabado de presenciar uma das maiores ironias da sua história.
O Partido Socialista recebeu Paulo Pedroso- o deputado – como se este tivesse acabado de conquistar uma brilhante vitória para a democracia portuguesa, e já depois das celebrações da vitória do Estado como disse Manuel Alegre, ofereceu-lhe o lugar de deputado . Paulo Pedroso afirmou que tinha acabado a razão da suspensão do seu lugar de deputado. O Presidente da Comissão parlamentar de Ética – Jorge Lacão - adiantou ainda que a Relação desmontou outros fundamentos que levaram o juiz do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa Rui Teixeira a decretar a prisão preventiva de Paulo Pedroso, terminando com a frase “ A Relação concluiu inequivocamente que não há indícios suficientemente fortes”.
Estava feita a politização do caso Casa Pia, e o estado de direito era apenas uma miragem que apenas o procurador geral Souto Moura continuava a vislumbrar, acrescentando que na altura, a libertação de Paulo Pedroso não o faria nem mais nem menos culpado, pois isso apenas o tribunal poderia decidir.
A questão é que quando o ministro da Defesa, esteve envolvido como testemunha no processo “ Moderna” toda a esquerda pediu a demissão do ministro. Uma clara dualidade de princípios que o Partido Socialista revelou.
Não ficaria bem com a minha consciência se hoje, até porque publicamente critiquei as atitudes acima, não afirmasse que o regresso do Major Valentim Loureiro à camâra de Gondomar, é um erro, ou melhor uma nova mistura entre poder e justiça, mostrando a melhor forma de como o poder exerce uma subversão da democracia.
Num gesto de humildade e realismo, revelando respeito pela democracia, o vice-presidente da autarquia de gondomar, auto-suspendeu-se de todas as funções até tudo estar esclarecido. Ao invés o silêncio de Durão Barroso, que deveria ele mesmo partidariamente, exigir a suspensão do Major do cargo de autarquia, mesmo depois de contrárias sugestões de altos dirigentes do seu partido.
Mas o PSD consegue entrar no ridículo nacional, primeiro atráves do seu líder distrital do Porto, Marco António, ao pretender passar uma imagem de normalidade, sublinhando o facto de o Major estar a cumprir as instruções da juíza.
O líder distrital que me desculpe, mas um presidente de câmara em funções indiciado de 24 crimes para todos nós não representa uma situação normal. Aliás o mesmo Marco António aquando de felgueiras, pediu várias vezes a demissão de Fátima Felgueiras, mas parece que para o PSD o caso de Fátima Felgueiras é diferente pois , uma vez que o processo no qual é arguido não tem directamente a ver com o exercício das funções autárquicas.
Ou seja para Marco António, um autarqua pode cometer os crimes que bem entender desde que não seja enquanto presidente da câmara, e se assim for , como disse Marco António é tudo normal.
As afirmações de Durão Barroso, de que é líder de um partido que não é uma máquina mas têm afectos mantendo a sua isenção, e afirmando que quando os deputados do PS passaram por situações idênticas, o seu partido manteve-se isento, acabam por ser desmentidas pelos discursos inflamados de Arnaut pedindo a demissão de Felgueiras, apelando ao Presidente da República e ao Procurador Geral da República.
Por uma questão de transparência, por uma questão de separação de poderes, mas acima de tudo por uma questão de princípios. A promiscuidade entre o futebol e a política é grave, mas mais grave que isso é a própria promiscuidade, a falta de coragem em assumir os erros. Ainda que Marco António diga que está tudo normal, para mim não é normal.
Um sistema político que se quer transparente exige homens transparentes. Um sistema político que se quer dignificante , deve ser comandado por Homens que dignifiquem a causa por que lutam.
Por muito que me custe, o PSD perdeu uma oportunidade de ouro de marcar a diferença no panorama político nacional. Perdeu a hipotese de ser transparente, de ser justo mas acima de tudo de ser fiel aos seus princípios.
Perdeu a hipotese de ser diferente. São estas as atitudes que nos levam a não acreditar no sistema político português, a não acreditar nos discursos inflamados prometendo coerência e transparência.
Caro Irreflexões aqui têm a minha visão coerente da história. Pena é que nem todos sejam iguais a nós.
Publicado por António Duarte 23:59:00