Limiano às Fatias

edição extra

Editorial

Um dos nossos leitores queixava-se um destes dias nas nossas caixas de comentários de que estávamos a dedicar demasiado tempo às aventuras do major Valentão e que estávamos a descurar outros casos mais relevantes.

Convém desde já realçar que em bom rigor, e fora a tipologia do crime em si, não há qualquer diferença de fundo entre os pruridos morais dos artistas que pululam nos "casos" mais ou menos conhecidos que vão abalando a nossa sociedade sejam eles quais forem. É sempre tudo gente honrada que pura e simplesmente se julga acima do bem e do mal, logo absolutamente inimputável.

Dito isto, também não há qualquer diferença substancial entre os mundos da política, por exemplo, e o do futebol. Os artistas são os mesmos, as regras são as mesmas e onde num  lado há árbitros noutro há boys, e há sempre financiamento partidário, etc, etc, etc...

As recorrentes lenga lengas a pedir uma clara separação de águas entre política e futebol esquecem e omitem o essencial - o problema é de ética ou falta dela, e ética meus caros é coisa que não há em excesso seja na bola, na banca ou, ... na política. Ou seja como o Venerável Irmão José já aqui escreveu o grande problema é a absoluta crise moral e de valores em que se encontra mergulhada a nossa sociedade.

Souto Moura

Não é segredo para ninguém que por estas bandas há uma certa simpatia pela figura do Procurador Geral da República.

Mas, caso Souto Moura não se decida a agir e rapidamente corre sérios riscos de passar de gato constipado a gato gripado.

Nesta altura Souto Moura, passada a fase do estado de choque e da inocência perdida, é das pessoas que melhor conhece as vicissitudes do Estado de Direito que ainda é suposto ser Portugal.

Melhor que ninguém Souto Moura sabe o significado extremo da expressão "tráfico de influências", melhor que ninguém Souto tem uma visão radioscópica dos verdadeiros males que afligem o nosso País.

Damos de barato que o actual PGR possa ser um homem desiludido, amargurado com o seu País e com muitos "colegas" seus e sobretudo com muito pouca fé no futuro. Mais, admitimos até como plausível que Souto Moura tenha muitas e boas razões para se sentir assim mas Souto Moura ainda é Procurador Geral desta República e como tal tem responsabilidades acrescidas das quais por omissão não se pode pura e simplesmente demitir.

Não vamos recordar a Souto Moura o expoente, quiçá máximo, do tráfico de influências e pressão que foi o caso do fax de bruxelas (o qual desde já informamos o actual PGR foi publicitado não pelo receptor mas (!) pasme-se pelo emissor do dito), não vamos recordar a Souto Moura as quebras de solidariedade que este sofreu de almas por quem ele até previamente poria as mão no fogo mas vamos recordar a Souto Moura que a face da Justiça em Portugal, o representante do "Povo" contra as arbitrariedades é ele e que é ele o responsável máximo da PGR.

A esta luz, e já que falamos em Bruxelas, será inadmissível que o interrogatório à testemunha Narciso Cunha Rodrigues espantosamente ou talvez não indicada por Cristina Maltez no caso das fugas da PGR seja uma farsa. Mais, deve ser o próprio Souto Moura a interrogar Cunha Rodrigues!

Mais, é inadmissível o vazio hierárquico que parece rodear nomeadamente o DIAP de Lisboa (e por onde passam entre 20 a 30% da criminalidade do País) onde o Procurador Geral Distrital de Lisboa se demitiu do papel de tutelar a "responsável" Van Dunnen, que dele dependia directamente, e a qual tecnicamente não "pode" receber ordens directas de Souto Moura porque as deveria receber do/via  PGD de LisboaTambém não é admissível a gestão de oportunidade, e na total impunidade, que é feita no DCIAP por Cândida Almeida, a tal que agora está - a fazer fé nalgumas fontes próximas que residem em certa imprensa - muito incomodada com o rumo das investigações a Valentim & Associados.

A Grande Loja compreende e respeita que Souto Moura, como bom cristão, carregue consigo o fardo de milhares de anos de subalternização da mulher e como tal seja excessivamente bem educado e absolutamente incapaz de falar seja de igual para igual com uma, muito menos como superior.  Assim sendo sugerimos a Souto Moura que, para não se sentir mal, vá treinando com um instrumento que durante séculos foi associado precisamente à subalternização da mulher  - a vassoura - e tome uma atitude tipicamente feminina - que dê uma valente vassourada em Cândida Almeida e Van Dunnen até porque estas, com altos patrocínios,  não se tem poupado a esforços para o varrer a ele!


Europeias

Como já vem sendo hábito Marcelo rasteirou tudo e todos. Era ele o suposto candidato maravilha. Não o foi e foi o que se viu. Não vamos sequer criticar Marcelo porque só se deixa comer por ele quem quer...

...mas não se admirem se o virem sair líder do próximo Congresso caso as coisas se complique em demasia para Durão. O homem já começou a fazer contas.

Eu por cá continuo a preferir 1 000 vezes António Borges. Ao contrário de Marcelo é humilde, sabe fazer contas e só tem uma cara além de ser tão ou mais "génio".


O ecossistema político


Já na política reina o pânico, a cautela, a desfaçatez e o consenso.

O PSD está  alegremente solidário com o major e restantes militantes indiciados. Durão Barroso renova a confiança em Jorge Costa (tem que o fazer senão lá finava José Luís Arnaut, e vamos ver se não aparecem familiares do Primeiro também envolvidos no filme) e quanto à oposição nem pio...

...Afinal dos 15000 telefonemas interceptados ao major se calhar também haverá alguns para Narciso Miranda, e outros autarcas não laranja, por exemplo

Tivessem Ferro e Barroso um pingo de moral e a esta hora já tinham os dois pedido a demissão, e descansem que o País não acabava!

Apesar dos Júdices, dos Delgados e Sousa Tavares deste mundo há potencial para de uma vez por todas acabar com o pântano do bloco central que apodrece este país. Doa a quem doer.

 A resignação de que nos falava hoje figurativamente  Vasco Pulido Valente será de todo incompreensível  e insustentável.

Calar, assobiar para o lado, ignorar agora o que se está a passar e a real dimensão de tudo isto é ser igual a eles, pior, é perpétuar o pântano.

Para terminar registamos que o Conselheiro de Estado João Jardim não confia na Justiça. Como a região autónoma da Madeira tem dois clubes em vias de irem a competições europeias (!) será que o Alberto também foi apanhado nos telefonemas ?


Publicado por Manuel 17:14:00  

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