Sai um eduardinho- a ginginha sem rival!
segunda-feira, março 08, 2004
Um dos talentos do Público, é sem dúvida Eduardo Prado Coelho! As crónicas eduardinas lêem-se de um trago, tal como a epónima ginginha ou os penalties de tinto da rua de Santo Antão.
A prosa de Eduardo, já vem de longe - nos anos setenta, percorria a esquerda baixa, acompanhando-se ao PC dos amanhãs a cantar. Antes, já polemizara com o desaparecido Virgílio Ferreira, a propósito de questões estruturais, atirando-lhe uma antologia em 400 páginas e afogando-o num mar de citações de Sartre e Lévi Strauss, Barthes e muito Foulcault.
Mesmo em idade de juizo perfeito, sempre alinhou escritos na corrente certa que leva a bom porto e por isso consulou em Paris, no tempo da Maria cavaquista.
Quem o lê, sabe que é versado em tudo o que são tretas.
As letras de Derrida e um Dante aligeirado, acompanham frequentemente as citações para os “pathos” e uma pesquisa no Google, associando EPC a nomes emoldurados, dá um quadro assegurado do seu saber de gingeira.
Da arquitectura de Gropius à música ligeira, não há assunto que o estruturalmente modesto EPC não tenha explorado. De vez em quando, um alçapão traiçoeiro mostra-nos o “vácuo das ideias ligado à crise de paradigmas”.
Contudo, não é por aí que ele cai. “La fascination de la bêtise” não o afecta, porque o primeiro a citá-la foi ele – e Pedro Arroja que o diga!
EPC é um inventor de semioses portáteis, de bolso, prontas a usar em ocasiões banais, como é o caso dos seus artigos nos jornais.
A última conhecida, tem a ver com felinos caça-ratos. Para nomear o chefe do bando, o semiótico crismador, no seu fio do horizonte, topou-lhe uma constipação e foi assim que o já baptizado, ganhou o cognome de “gato-constipado”.
Na crónica de hoje do Público, a Lista é debicada para lhe dar alguma da humorística pedalada que segundo o “Ginginhas” tem faltado ao “gato constipado”.
E assim estende a prosa, gozando com a lista. Apesar de por lá aparecer, não se dá por achado, porque não se perdeu por aí.
O gozo todo vai para a análise estrutural da lógica da lista. O que está por detrás dela? Pergunta, de algibeira. O surrealismo - responde o estruturalista!
A lista pertence à categoria de coisas que não tem relação entre si e por aí fica arrumada, nas citações do Narana e nas graçolas do Moura, seus companheiros de rol.
E cita o O´Neill para dizer que é o equivalente do “conde que cora ao ser condecorado” e “à noiva que diz ai que eu grito”.
E num esforço anafado, de insolência solerte, não hesita num “flash” em dirigir o despeito aos “gatarrões” que abomina. E vai de apresentar a conta do demonstrado descrédito aos “juizes do Ministério Público” - “Há certas instituições que se descredibilizam a si próprias”.
Mesmo sem lhes conhecer a estirpe ou distinguir os papéis, está dado o anátema a uma lista surrealista, de uma instituição de juizes, onde só se podem “ler duas coisas” - "ou são todos da ampla família dos pedófilos reais ou potenciais, ou esta lista exprime o caos da sociedade portuguesa.”
Assim, neste mar de sabedoria e neste Portugal de cronistas de opereta, até eu me apetece citar de sopete o O´Neill ...
a importância e o papelão,
inaugurando esguichos no engonço
do gesto e do chavão.
E ainda há quem os ouça, quem os leia,
lhes agradeça a fontanária ideia!
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Publicado por josé 13:12:00